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Lino Villaventura defende lojas fechadas em respeito à vida
Economia

Lino Villaventura defende lojas fechadas em respeito à vida

Estilista afirma que a saúde das pessoas deve ser a principal prioridade pois, "sem vida, não tem economia"
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Lino Villaventura  (Foto: Camila de Almeida)
Foto: Camila de Almeida Lino Villaventura
 

O POVO EM CASA | Nesta terça-feira, 26, o jornalista Jocélio Leal conversa com o estilista, Lino Villaventura. A conversa terá como tema "Moda pós-pandemia". #OPOVO

Publicado por O POVO Online em Terça-feira, 26 de maio de 2020

Um dos personagens mais importantes da moda nacional, o estilista paraense Lino Villaventura, que tem raízes no Ceará há mais de 30 anos, afirmou ontem, em live no Facebook do O POVO, que o momento é de sensatez pela manutenção do fechamento das lojas no Ceará, como forma de combater a disseminação da pandemia do coronavírus. Segundo ele, a saúde das pessoas deve ser a principal prioridade pois, "sem vida, não tem economia", disse em entrevista ao editor-chefe de Economia e Negócios do O POVO, Jocélio Leal.

"Se todo mundo realmente obedecesse esta determinação, não teríamos chegado nesses números de mortos que temos", destaca o estilista. Segundo ele, toda a sociedade está em uma fase de "sobrevivência", tanto de saúde, como também das empresas, principalmente no caso das pequenas. Por conta disso, opina, é preciso muita cautela quando o assunto é reabertura das lojas, já que uma eventual precipitação pode gerar ainda mais prejuízos. "Ok, eu abro a loja, mas e se os clientes não aparecerem, do que vai adiantar? Isso só vai aumentar os gastos. O que fizemos foi negociar os aluguéis, inclusive da nossa fábrica, e estamos tentando manter o negócio o máximo possível para sobreviver a essa calamidade", argumenta Lino.

Por trabalhar com confecção, o estilista conta que recebeu a sugestão, por exemplo, de investir na fabricação de máscaras, um dos itens mais demandados na atual circunstância. Segundo ele, a possibilidade foi descartada por questões de segurança. "Não vou fazer porque teria que chamar meus funcionários para trabalhar, e eles iriam correr risco com isso. Tenho que me virar de outra maneira para que a empresa continue com algum retorno", afirma. Lino ressalta que, no momento, tem trabalhado exclusivamente no e-commerce e que até tem conseguido efetuar vendas, mas que, no geral, o movimento ainda é tímido.

Foi por meio do comércio eletrônico, inclusive, que o estilista radicado no Ceará lançou uma campanha para arrecadar doações e ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade diante da Covid-19. A ideia é vender peças por um preço promocional e destinar 50% do valor para doação. "Os outros 50% são para a produção. Não tem lucro", reforça. Segundo ele, a iniciativa deu "super certo" e já foi responsável pela distribuição de seis toneladas de alimentos. A campanha continua no endereço oficial da grife do estilista.

Lino também pondera que o setor deve encontrar ainda mais dificuldades para negociar com o Exterior após a crise. Segundo ele, a forma como o governo brasileiro tem conduzido a pandemia acabou "desgastando a imagem do País" perante o mercado internacional. "Estamos com uma imagem péssima lá fora. Uma imagem que a gente pode se despedir de qualquer negociação feita", afirma. Outro fator que tende a pesar contra as relações internacionais no mercado da moda é a desvalorização do real perante o dólar, tendo em vista que as peças brasileiras se tornam muito caras e perdem competitividade. "Temos o dólar nas alturas e impostos muito elevados. Faz tempo que não estamos conseguindo exportar", complementa.

Para o estilista, o fato de o Brasil ter se tornado o segundo país do mundo em número de casos da Covid-19 já acarreta em uma "problemática comercial, com a perda de investidores e de comercialização". A alta da moeda norte-americana, porém, também sinaliza, segundo ele, que o momento é o ideal para apoiar o mercado nacional. "Tinha muita gente importando insumos da China, por ser mais barato, mas eu não importo nada. No atual cenário, mais do que nunca, é importante valorizar a indústria nacional" destaca.

Sobre o futuro, Lino frisa que, assim como aconteceu entre os séculos XIV e XVI, todo o setor, assim como a sociedade, passará por um processo de "renascimento". Conforme diz, a moda tem a característica de refletir os momentos socioeconômicos de determinada época e é natural que a pandemia também influencie os rumos do setor. "Vamos precisar de um impacto maior. Em vez de se recolher, de fazer algo normal, creio que este será o momento de apostar em alguma coisa muito impactante", diz.

 

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