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Sem receita na pandemia, Fraport prevê recuperação em 2023
Economia

Sem receita na pandemia, Fraport prevê recuperação em 2023

A companhia alemã suspendeu contratos com terceirizados e dispensou o aluguel dos lojistas enquanto as portas estiverem fechadas
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ANDREEA Pal, CEO da Fraport Brasil, fala sobre as dificuldades na gestão do Aeroporto de Fortaleza diante da crise  (Foto: Mateus Dantas, em 10/4/2019)
Foto: Mateus Dantas, em 10/4/2019 ANDREEA Pal, CEO da Fraport Brasil, fala sobre as dificuldades na gestão do Aeroporto de Fortaleza diante da crise

Em janeiro 2018, a concessionária alemã Fraport assumiu a direção do Aeroporto Internacional de Fortaleza com a missão de modernizar e expandir o equipamento. E cumpriu. As obras avançaram rapidamente e as transformações logo foram perceptíveis aos viajantes. Em maio daquele ano, iniciou-se o hub da Air France-KLM/Gol.

Uma infraestrutura que viabilizou a ampliação da malha aérea no Ceará. Um ano depois, o número de passageiros internacionais saltou 103,88%. Uma demanda em ascensão agora reprimida pelo novo coronavírus. Com lojistas de portas fechadas e o volume de frequências anódinos, a Fraport amarga queda na receita de quase 100%.

A epidemia também mudou a rotina do terminal, tornando os protocolos sanitários mais rigorosos, além de alertas sonoros e em vídeo sobre as formas de prevenção e sintomas da Covid-19 veiculados nas mídias do aeroporto. Na terça-feira, uma operação de desinfecção contou com ajuda 50 militares do Exército para combater a proliferação do vírus e dar mais segurança aos visitantes.

Ao O POVO, a CEO da Fraport Brasil, Andreea Pal, fala sobre as dificuldades econômicas diante da crise humanitária e perspectiva para os próximos anos. Apesar da recessão, descartou uma desistência da concessão que tem mais 28 anos pela frente, e mantém-se otimista.

O POVO - Quais foram as conquistas e desafios da Fraport em dois anos de gestão?

Andreea Pal - A conquista foi quando, no fim de março, finalmente, recebemos a confirmação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que Fase I-B do do projeto foi cumprida (referente à ampliação, modernização e infraestruturas). Foi um passo importante, pois, no início, tivemos problemas para começar o trabalho por causa do embargo. O mais importante foi relatório da Anac sem comentários. Isso significa o cumprimento foi de 100%. Também tivemos bastantes investimentos que não são tão visíveis para o passageiro, e neste ano vamos assinar a expansão da pista. E, com isso, o aeroporto já estará preparado para receber muitos mais passageiros e aviões maiores.

OP - As obras do aeroporto estão com status de 97% de conclusão. O que ainda falta para serem finalizadas?

Andreea - Sim. A parte obrigatória está em 97%, mas ainda fazemos outros investimentos que não são obrigatórios e não estão inclusos. Vamos fazer uma reforma de uma parte do pátio, vamos fazer a reforma do subsolo no terminal completamente. Estamos planejando fazer uma rampa para chegar ao estacionamento sem utilizar os elevadores, entre outras coisas.

OP - Qual a previsão de conclusão?

Andreea - É difícil dizer agora um prazo porque todas as obras estão impactadas devido à pandemia, mas acho que o mais tarde será em junho do próximo ano para finalizar tudo. Vamos passar de R$ 800 milhões

OP - A pandemia atingiu fortemente o mercado aéreo. Já foi possível observar os danos nos números da Fraport?

Andreea - O impacto acompanha a redução do número de passageiros. A queda da receita foi de 98%. Em março, ainda tivemos três semanas mais ou menos em tráfego normal e depois caiu rapidamente para 96%. Tivemos alguns voos ainda internacionais, quando alguns estrangeiros saíram do Brasil. Depois, foi parada quase total. É uma situação para todos os aeroportos e, também, para as companhias aéreas, dramática. Estamos tratando de sobreviver. Ninguém sabe quando o tráfego vai retomar de uma maneira mais sólida.

OP - Em relação aos lojistas, houve cancelamento de contratos, suspensão de novos?

Andreea - Temos uma negociação com os parceiros. Eles estão sofrendo, todas as lojas tiveram de fechar por causa do decreto dos governos do estado e municipal. E, nesta situação, a Fraport não pediu o pagamento dos lojistas, porque eles também não têm receita. Alguns deles estão em uma situação difícil porque, acabaram de investir como a gente, e agora a receita é zero. Mas temos que permanecer otimistas, e estamos otimistas. O Brasil é um país tão grande e não existe outra forma de transporte mais confortável que o aeronáutico. No último trimestre, provavelmente, o tráfego vai voltar pouco a pouco.

OP - Como funciona essa flexibilização para os lojistas?

Andreea - Cada contrato tem uma negociação, mas não vamos cobrar pelo tempo em que a loja estiver fechada.

OP - Essa queda na receita demandou corte de funcionários?

Andreea - Não houve corte no quadro de funcionários diretos, mas cortamos os contratos com terceiros que estavam fazendo serviços. Além disso, estamos utilizando nossos próprios funcionários para fazer o trabalho que antes era feito pelos terceirizados. Mas não reduzimos a carga horária de trabalho. Uma estratégia da companhia é resguardar salários e posições da nossa equipe.

OP - Quantas empresas saíram da folha de pagamento da Fraport?

Andreea - Pelo menos quatro, algumas maiores e outras pequenas.

OP - Isso representa quantos trabalhadores?

Andreea - Centenas. Muitos. Cerca de 600.

OP - A senhora fala de uma retomada da malha aérea no último trimestre, mas, para recuperar os prejuízos econômicos da pandemia, quanto tempo levará?

Andreea - Provavelmente, somente em 2023. Só neste período vamos voltar ao tráfego que estávamos esperando antes de março de 2020.

OP - A crise sanitária chegou num momento de consolidação do hub aéreo na Capital, uma conquista recente. Neste cenário crítico, como a senhora avalia o futuro do centro de conexões?

Andreea - O que podemos fazer é comparar o Brasil com o que sucedeu em outras partes do mundo que já passaram por essa pandemia. Acho que a parte positiva é que, há alguns dias, pelo menos nas estatísticas oficiais do Estado, o número de infecções está diminuindo a cada dia. Isso um bom sinal de que, em quatro ou cinco semanas, estaremos passando pela parte crítica. Também acho que o governador (Camilo Santana) já está preparando um programa para abrir pouco a pouco. Provavelmente, o distanciamento social vai permanecer por um tempo mais longo. Isso é o que ajuda mais. Eu também tenho observado toda a parte científica e parece que a transmissão do vírus se faz grande parte pelo ar em gotículas de aerossol, não é tanto ao toque. Por causa disso, temos de ter atenção para utilizar a máscara, para ter uma distância e evitar aglomeração. Isso vai permanecer por um pouco mais de tempo. Mas, por exemplo, todos os aeroportos e companhias estão se preparando com medidas para oferecer essa segurança ao passageiro.

OP - Quais serão os novos protocolos sanitários adotados no Aeroporto de Fortaleza?

Andreea - Já seguimos isso antes da decisão oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Anac. Primeiro, para garantir o distanciamento social, a organização das pessoas no terminal a dois metros de distância e filas com marcação no solo para facilitar essa prática. Na parte de check-in e embarque, temos agora algumas cadeiras de espera bloqueadas para criar espaço entre as pessoas. O mais importantes é que os passageiros entendam e respeitem todas as regras. O segundo ponto é a higienização nos terminais, que foi reforçada. Reforçamos de todas as maneiras e passamos a limpar a todo tempo os locais onde os passageiros podem tocar algo, como mesas, cadeiras, escadas e elevadores. Nossos profissionais de limpeza estão permanentemente limpando tudo isso. Na sala de alimentação, também temos distância entre as mesas. O mais importante é um sistema de climatização com filtros que vamos trocar com muito mais frequência para termos uma área limpa no terminal, dispersores de ar estão em muitos lugares. Todas essas medidas ajudam, mas o que ajudará mais é o comportando dos consumidores diante das regras.

OP - Quais são os cuidados com os funcionários?

Andreea - Os funcionários utilizam máscara, além da distância de dois metros entre eles e entre os passageiros. Felizmente, conseguimos instalar o cartão de embarque automático, pois, neste momento, o passageiro fica muito perto. Agora, já não é mais necessário porque é automático. A parte de console de segurança dos passageiros, é inevitável, mas estamos com a proteção necessária e um treinamento adicional para atendimento, troca do equipamento e higienização das mãos.

OP - Além da reorganização nos terminais, o que deverá mudar nas regras sanitárias das companhias para maior segurança dos passageiros dentro das aeronaves?

Andreea - Uma coisa que todo mundo precisa entender é que voar é menos perigoso que tomar um ônibus. Todos os aviões têm um sistema de filtro que segura a qualidade de ar, como numa sala de cirurgia. O ar do avião, depois que fechar a porta, é muito limpo. É muito importante para todo mundo compreender que o perigo de voar, desse ponto de vista, não é tão grande. A cada três minutos, o ar é limpo e filtrado. Esse sistema evita a disseminação do novo coronavírus durante a viagem. As companhias já têm um sistema novo de embarque e desembarque que já está em funcionamento e ajuda muito a preservar os dois metros de distância. As pessoas são chamadas para entrar no avião na ordem do assento. No desembarque, todo mundo se levanta e trata de sair o mais rápido possível. Tem de sair em ordem. Isso ajuda muito para permanecer a distância e evitar aglomeração. São medidas que já estão implementadas no Brasil.

OP - A senhora acredita numa retomada do tráfego para 2023. No entanto, muitos setores foram impactos, incluindo o turismo de lazer e de negócios Na sua análise, o setor aéreo vai conseguir um voltar a ser o que era?

Andreea - Os comentários dos consultores e do grupo, no aeroporto da Alemanha, são de que a expectativa não é de redução do turismo. Explorar outros países é uma coisa que as pessoas não vão deixar de fazer. Provavelmente, façam apenas por um ano ou dois com a crise econômica que está ligada à pandemia. Algumas pessoas não vão ter o mesmo dinheiro para sair de férias, mas quando a economia voltar, esse segmento vai crescer como cresceu antes. E, para Fortaleza, será muito bom, porque tem muito mais turismo de lazer do que de negócios. Para os negócios, com certeza, vai haver um número mais baixo de viagens, porque muita gente entendeu que pode resolver muito por meio da teleconferência e não precisa necessariamente viajar, mas, também, porque as companhias, de alguma forma, serão afetadas nessa crise e terão de cortar custos e viagens são caras.

OP - A partir de quando o fluxo deve começar a crescer?

Andreea - O aeroportos estão abertos. A questão é a quantidade de voos que a empresas estão fazendo. Elas já querem voltar em junho com mais voos, mas, provavelmente, alguns voos adicionais não vão mais acontecer. Acho que só quando São Paulo voltar mais ou menos a uma atividade normal teremos mais movimento. E também quando os funcionários estaduais e federais voltarem a trabalhar de novo em Brasília. São dois momentos que vão ajudar para que o tráfego pegue de novo um movimento um pouco mais alto. No início da crise, em Fortaleza, os números de voos caíram 98% e agora passaram para 96%, 95%... Cada semana um pouco mais. Mas, para sair desses 90%, precisamos de muito mais abertura da economia.

OP - Diante das incerteza do mercado aéreo, existe a possibilidade da Fraport desistir da concessão do equipamento de Fortaleza?

Andreea - Não. Essa é uma situação que ocorre, mas, como eu já expliquei, o tráfego vai voltar e, especialmente o Brasil, na parte doméstica temos 95% do nosso tráfego doméstico. Com certeza, não vamos ter uma queda dramática nos próximos anos depois das retomadas das atividades no País, e por esta razão, não temos nenhum motivo para pensar em sair da concessão.

OP - Há margem para novos investimentos esse ano?

Andreea - Nada que será finalizado neste ano. Assinar um contrato e depois e parar é mais caro. Por isso, tivemos um período de pausa alguns meses quando paramos todas as atividades e as companhias que estão fazendo a engenharia não poderiam trabalhar.

OP - O Governo do Ceará prevê um retorno gradual das atividades após mais de dois meses de isolamento social. A senhora concorda com a volta e como tem avaliado as medidas no Estado?

Andreea - Estou acompanhando porque nos preocupa a situação da nossa equipe aí. Até agora, o governo estadual e municipal atuaram de maneira cuidadosa e com foco na população. Estou segura de uma abertura a se iniciar em junho, mas baseada fatos concretos. Estaremos esperando nossos passageiros.

 


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