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'Fizemos em três meses mais do que esperávamos para os próximos três anos', diz Ari Neto
Economia

'Fizemos em três meses mais do que esperávamos para os próximos três anos', diz Ari Neto

CEO da Arco Educação, que atende mais de 1 milhão de alunos na rede privada nacional, fala sobre avanço tecnológico em meio à crise e desafios do ensino no Brasil
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ARI de Sá Neto, presidente da Arco Educação (Foto: CAMILA DE ALMEIDA)
Foto: CAMILA DE ALMEIDA ARI de Sá Neto, presidente da Arco Educação

Primeira companhia cearense a abrir capital na bolsa norte-americana Nasdaq, a Arco Educação, que tem seu modelo utilizado por mais de cinco mil escolas no Brasil, atendendo mais de 1 milhão de alunos na rede privada, viu seu formato de ensino, bastante focado na tecnologia, avançar consideravelmente em meio à crise. Em live realizada ontem no Fecebook do O POVO, o CEO da empresa, Ari Neto, afirmou que a plataforma "avançou três anos em três meses" e que tem ajudado escolas a manter suas atividades durante o isolamento. Ele diz, porém, que não vê a educação digital substituindo a presencial após a pandemia.

Durante a entrevista concedida ao editor-chefe de Economia e Negócios do O POVO, Jocélio Leal, o CEO da Arco, que é proprietária da rede de colégios Ari de Sá Cavalcante, também falou sobre a possibilidade de atuar na rede pública e dos desafios de ensino no Brasil. No comando de uma empresa que já chegou a valer US$ 3 bilhões na bolsa norte-americana, Ari Neto também não deixou de comentar sobre o mercado financeiro e dar sua opinião a respeito do voto de qualidade e da tendência de aquisições durante a crise.

OP - Como o setor de educação/tecnologia tem se comportado neste momento de pandemia? Em que medida o negócio avança neste cenário?

Ari Neto - Nós optamos, há alguns anos, por acreditar que a tecnologia poderia ter um impacto na aprendizagem. Investimos muito em recursos tecnológicos, mas confesso que a gente tinha uma certa frustração porque o engajamento dos alunos e dos professores não era aquilo que gostaríamos. O que aconteceu nos últimos meses foi uma aceleração exponencial deste engajamento, onde a tecnologia não só se tornou algo desejável, mas essencial para continuar o processo educacional. O que nós fizemos nos últimos três meses foi muito mais do que a gente esperava fazer nos próximos três anos. Fomos obrigados a ter respostas imediatas, a desenvolver novas funções e lançar novas tecnologias.

OP - Do ponto de vista da expansão, como redesenharam as projeções de futuro?

Ari Neto - Você tem ainda, no Brasil, grande parte das escolas usando livros didáticos impressos tradicionais, então essas escolas, neste momento, estão muito preocupadas e têm nos procurado para que a gente ofereça, durante a pandemia, uma parte da nossa solução de tecnologia para que elas possam continuar suas atividades. A gente tem feito o oferecimento desta solução gratuitamente para que a escola consiga experimentar e ver a eficiência do produto. E estamos otimistas de que a solução, com a sua proposta de valor, fica mais clara num período como esse.

OP - O senhor enxerga a possibilidade de a educação online substituir a educação presencial?

Ari Neto - Na educação básica, não considero essa substituição possível. Acho que o papel da escola, presencialmente, é fundamental na formação do jovem, do aluno. Tem a questão da socialização, do esporte, da construção de habilidades de competência socioemocionais. Acho que há um complemento da tecnologia, num modelo híbrido, que pode potencializar muito a aprendizagem e o trabalho do professor. Mas a escola presencial continua essencial e fundamental na sociedade. 

OP - O Colégio Ari de Sá discute um novo redesenho de salas para o distanciamento?

Ari Neto - Nossa posição é, em primeiro lugar, respeitar as autoridades de saúde e seguir estritamente as recomendações que nos são dadas. Mas estamos, em paralelo, construindo planos de retorno em que a gente vislumbra todos esses aspectos, como intercalação de séries na hora do retorno.

OP - As escolas que utilizam a plataforma SAS conseguiram manter os valores normais das mensalidades?

Ari Neto - A grande maioria tem conseguido manter os valores. Obviamente que existe um processo de renegociação no que se refere ao prazo, mas há uma tentativa de repor todas as horas/aulas a partir do retorno. Como as escolas têm contratos e compromissos anuais, o desconto fica muito difícil. A grande parte dos custos de uma escola é folha de pagamento de professores, que continuam sendo remunerados. Além disso, as escolas estão tendo custos adicionais com a tecnologia, então, na maioria dos casos, descontos não têm sido concedidos de forma linear.

OP - A Arco não tem como público-alvo o setor público. A empresa pensa em focar neste setor?

Ari Neto - A gente acredita que a forma de vender para a área pública é substancialmente diferente do que para a área privada. Eventualmente, você considerar uma venda direta para o aluno, de uma outra solução, poderia ser uma oportunidade interessante. Pela nossa experiência, vemos que as dinâmicas comerciais e de atendimento são bastante diferentes, apesar de ser o mesmo negócio. Além disso, ainda temos uma oportunidade muito grande na educação privada. São 9 milhões de alunos e a gente tem pouco mais de 1 milhão. Concentrar-se para aproveitar essa oportunidade talvez seja a melhor medida.

OP - Após empresas brasileiras, como a Arco, terem optado por abrir o capital nos EUA, onde há o voto de qualidade, a B3 estuda a adoção do mecanismo. O que acha da mudança neste momento?

Ari Neto - Eu acho que o voto de qualidade tem um papel importante para que as empresas continuem uma perspectiva de longo prazo. Nos Estados Unidos, as empresas que têm fundadores com uma cultura muito forte, com o DNA característico, têm o voto de qualidade e os investidores acham isso bom, pois acreditam que aquela visão vai estar garantida, independentemente da diluição da participação societária dos fundadores. O Brasil até tinha um voto de qualidade no passado, mas houve, em algumas situações, o mal uso por parte de algumas empresas, o que gerou um trauma no mercado. Baseado nessa lição e trazendo algumas restrições que existem lá fora, pode ser um mecanismo saudável.

OP - Outras empresas de educação nacionais também ensaiam abrir o capital na Nasdaq. É uma tendência ainda viva?

Ari Neto - O mercado americano é muito rico não só do ponto de vista de recursos, mas também de informação e inovação. A liquidez diária que você tem é múltipla vezes maior do que a do Brasil, então fica com a possibilidade maior de comprar e vender para o investidor. Então, acho que, enquanto a B3 não equacionar essas diversas questões, algumas empresas ainda vão ter interesse de estar lá fora.

OP - Fusões e aquisições devem crescer neste momento difícil?

Ari Neto - A tendência hoje, nos Estados Unidos, é que há empresas com modelos de negócios muito inovadores e interessantes, mas que estão sofrendo muito na crise. Essas empresas estão sendo vendidas para Google, Facebook e Apple. Juntas, essas três já fizeram 19 aquisições nos últimos três meses. Acho que é uma tendência, sim, de haver uma nova consolidação no mercado, principalmente pela oportunidade que há para as grandes e pela dificuldade que há para as menores. 

OP - Quanto vale o grupo Arco hoje?

Ari Neto - Essa é uma questão que a gente deixa muito a cargo da bolsa de valores, dos próprios investidores, mas acho que a última cotação estava em torno de US$ 2,6 bilhões.

 

FRASE

Acho que o papel da escola, presencialmente, é fundamental na formação do jovem, do aluno. Tem a questão da socialização, do esporte, da construção de habilidades de competência socioemocionais. Acho que há um complemento da tecnologia, num modelo híbrido, que pode potencializar muito a aprendizagem e o trabalho do professor".

Ari de Sá Neto, CEO da Arco Educação

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