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"O tempo de golpe militar já passou", diz novo embaixador dos EUA no Brasil
Economia

"O tempo de golpe militar já passou", diz novo embaixador dos EUA no Brasil

Todd Chapman diz que as instituições democráticas no Brasil são fortes e não vê risco para a democracia apesar de algumas tensões
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Todd C. Chapman , o embaixador dos Estados Unidos no Brasil (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Todd C. Chapman , o embaixador dos Estados Unidos no Brasil

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, desembarcou noPaísem março. O lugar não é exatamente uma novidade para o texano. Morou por onze anos em São Paulo durante a adolescência, na década de 1970. Já o contexto, este nem de longe é o mesmo: pandemia do novo coronavírus, fronteiras turísticas para o Brasil fechadas e sem previsão de retorno.

Em entrevista exclusiva ao editor-chefe de Economia e Negócios do O POVO, Jocélio Leal, na rádio O POVO/CBN, ele afirma que, apesar de algumas tensões aqui e acolá, não vê qualquer risco de um novo golpe militar no Brasil. "O tempo de golpe militar isso já passou. Já passou nos EUA, na Europa e no Brasil. As instituições democráticas no Brasil são fortes".

Também fala da cooperação entre os dois países (e o Ceará), das oportunidades que se abrem a partir do novo marco regulatório do saneamento e da expectativa em relação a uma vacina para o novo coronavírus que ele acredita que sairá ainda neste ano.

O POVO - O senhor viveu em São Paulo quando era mais jovem. De que modo sua relação pessoal com o País influencia na sua gestão na Embaixada?

Todd Chapman - Bem, eu cheguei no Brasil em 1974, quando tinha só 11 anos de idade, passei toda minha adolescência em São Paulo e eu acho que o bom nisso é que já tenho uma forte relação com este País. Já morei 11 anos no seu país e então isso ajuda. Também tenho relações de amizades com muitas pessoas aqui no Brasil e, por isso, para mim é uma grande, grande honra, voltar ao Brasil para tentar ajudar, especialmente, neste momento tão difícil.

OP - No último sábado, 4 de julho, o presidente Donald Trump fez um pronunciamento, no qual afirmou que até o fim do ano será possível ter uma vacina contra o coronavírus. Este otimismo do presidente Trump se sustenta em quê?

Todd Chapman - Nós estamos trabalhando diretamente para tentar ter uma vacina antes do fim do ano. Isso não é só otimismo, é baseado na Ciência. Nós temos dado muito dinheiro para várias empresas para fazer todas as pesquisas, testagem, para encontrar uma solução. Não é somente encontrar a vacina, tem que ter todo o sistema para produzir a vacina. E isso nós estamos trabalhando muito bem com o Ministério da Saúde, estamos compartilhando muita informação técnico-científica com o governo brasileiro e estamos todos trabalhando para chegar a este fim em que vamos ter uma vacina para proteger todo mundo.

OP - Existe uma recorrente cobrança por uma atitude pessoal mais rigorosa tanto pelo presidente Trump como por parte do presidente Bolsonaro em relação à Covid-19. Por exemplo, no sábado passado, o presidente Trump fez eventos comemorando o 4 de julho e havia público sem máscara. O senhor até recebeu o presidente Bolsonaro para um almoço na sua casa. Até que ponto o senhor reconhece uma atitude um tanto excessivamente tranquila em relação aos procedimentos de segurança?

Todd Chapman - Eu acho que todos estamos fazendo o máximo para proteger nossas nações. Temos muitas medidas implementadas. E sabe, essa, afinal, vai ser uma decisão que todos fazem da maneira que querem proteger ou adotar medidas para proteger. Estava agora mirando os jornais de Fortaleza e as praias estão cheias de pessoas. Então, realmente, essa é uma decisão que todos vão ter que fazer para se proteger, ao mesmo tempo, mantendo o distanciamento social, protegendo, lavando as mãos, estamos todos fazendo o que nós podemos para proteger nossa saúde, de nossas famílias e das pessoas ao redor.

OP - O senhor ficou surpreso com a repercussão do encontro com o presidente Bolsonaro?

Todd Chapman - Este foi um evento particular, na minha casa. Fizemos muito para ter o distanciamento social. Você não viu a mesa onde sentamos, a distância. Eles queriam tirar foto, vamos tirar foto. Mas, muitos estão fazendo, querendo realmente reabrir a economia, recomeçar com os restaurantes e bares, estamos vendo medidas deste tipo em todos os estados. Talvez tenha maneiras e opiniões diferentes de, exatamente, como se deve comportar, mas o importante é que todos estão trabalhando. Temos muito projetos aqui no Brasil para ajudar durante a Covid-19 e nós vamos continuar com esta atitude de apoio e de amizade.

OP - Há imensas oportunidades na agenda de infraestrutura do Brasil e o País acaba de aprovar no Congresso um novo marco regulatório do saneamento. Qual a leitura de Washington deste novo marco? O senhor diria que ficou faltando o quê?

Todd Chapman - Este novo marco legislativo é bastante importante e eu realmente felicito todos que trabalham nele, no Governo, no Ministério de Infraestrutura e também no Congresso. Isso vai abrir novas oportunidades para o setor privado fazer investimento em água e saneamento. Eu, mesmo conhecendo o Brasil há muito tempo, para mim, foi uma grande surpresa perceber que tantos milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água e saneamento. Um país deste tamanho, com a economia tão grande, é importante que todos tenham acesso. Esta medida é implementada em muitas áreas no mundo para ter mais acesso do capital privado para ampliar a rede de saneamento e água. É uma indicação de como a economia pode expandir através de mais oportunidades do setor privado.

OP - O Brasil lida com desgastes em parlamentos da Europa e também nos EUA por conta de suas atitudes com relação ao meio-ambiente. O que o senhor diria que um país como o Brasil deveria fazer para obter um cenário mais favorável?

Todd Chapman - Eu acho que na liderança do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) estamos avançando muito bem, abrindo caminhos para novas relações baseadas em princípios que nós temos em comum: democracia, países democráticos, a liberdade de imprensa, de expressão, de religião. Isso é bastante importante. Fico feliz que o Brasil está falando mais e mais sobre estes princípios. Eu sei que alguns têm reclamações disso ou daquilo, mas na área de meio ambiente estamos trabalhando forte com o Brasil. Tem novos programas que estão implementando agora. Na semana passada mesmo, o ministro Salles (Ricardo Salles, de meio ambiente) falou sobre esta nova maneira de apoiar os parques que têm na Amazônia, eu acho que todos temos que trabalhar numa agenda positiva em relação ao meio ambiente. Os EUA também vai trabalhar e continuar trabalhando neste tema tão importante.

OP - O senhor acredita que haja espaço para uma agenda de golpe militar na América Latina? Enxerga indício de ameaças veladas em alguns países e no Brasil também?

Todd Chapman - Eu acho que os militares no Brasil, nos EUA, e no mundo todo têm um papel bastante importante para proteção da segurança nacional de um país. Isso é muito bom e muito importante, protegendo fronteiras e protegendo contra as ameaças que vêm de fora, de regimes que não são baseados nos mesmos princípios. Mas, o tempo de golpe militar já passou. Já passou nos EUA, na Europa e no Brasil. As instituições democráticas no Brasil são fortes. Sempre vai ter tensão aqui e acolá, mas isso é parte de uma democracia bastante vibrante. Todos estes rumores é papo furado. É importante notar que os militares do Brasil, dos EUA, e das democracias fortes são super profissionais e eles sabem qual é seu dever para suas nações. Eu admiro muito e tenho tanto respeito pelos nossos militares e os militares do Brasil, vamos continuar fortalecendo os laços entre os dois para o avanço da segurança nacional das nossas nações.

OP - O Ceará é um estado com apenas 2,18% do PIB do Brasil, mas tem muitas possibilidades. Qual espaço que o senhor enxerga para uma agenda paradiplomática de estados como o Ceará com os EUA?

Todd Chapman - Já temos logrado muito no Ceará através do tempo. Temos cooperado na criação do Cinturão Digital que tem grande impacto no Ceará, temos empresas americanas como Coca-Cola sediadas aí, muitas exportações de aço, calçados e agronegócio para os EUA. Queremos continuar com todas estas oportunidades e ampliar mais. E este é sempre o objetivo de um embaixador, quero ampliar as relações, incluindo com o Ceará e, por isso, através de nosso cônsul em Recife, John Barrett, estamos ampliando nossas relações. Na área da educação estamos fazendo muito, temos treinamentos na área de segurança. O Ceará está bem na nossa visão, somente lamento que não dá para visitar neste momento, mas vou fazer isso, conhecer, andar na Praia do Futuro e comer todas as delícias que têm em Fortaleza, quando as condições permitirem.

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