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Nordeste lidera fechamento de empresas na pandemia
Economia

Nordeste lidera fechamento de empresas na pandemia

A média de negócios que encerraram as atividades de forma definitiva no País chegou a 17,6% e na Região este índice foi de quase 20%
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Mais de 123,2 mil empresas encerraram definitivamente suas atividades no Nordeste. O número representa quase 20% dos 617,7 mil negócios estimados na Região pela Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas empresas, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior percentual de fechamentos definitivos do País. Se somadas às 83,2 mil que paralisaram as atividades temporariamente no Nordeste, o índice sobe para 33,4%.

A pesquisa mostra que na primeira quinzena de junho havia no Brasil pouco mais de 4 milhões de empresas. Destas, 716,3 mil, o equivalente a 17,6%, encerraram definitivamente as atividades e outras 610,2 mil (14,99%) temporariamente, perfazendo um encolhimento de 1,3 milhão de negócios no total (32,6%).

Este movimento de encerramento (temporário ou definitivo) se disseminou em todos os setores econômicos. Mas afetou, sobretudo, a cadeia produtiva da construção (43,1%); dos serviços (38,1%) e do comércio (27,5%).

Para a vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef-CE), Renata de Paula Santiago, este cenário reflete o período de maior dificuldade, quando muitas empresas tiveram de interromper as atividades em função das políticas de isolamento adotadas durante a pandemia, mas também por conta de uma crise econômica no País que já vem se arrastando há vários anos.

"A gente vê um grande volume de fechamentos no setor de serviços e grande parte deste segmento é de empresas de pequeno porte, que tiveram uma dificuldade maior de prestar serviços durante o isolamento social. É preciso lembrar que esta pandemia trouxe uma mudança grande na forma como as pessoas consomem os serviços e exigiu uma velocidade maior de adequação por parte das empresas, o que nem todo mundo conseguiu", afirma.

Na outra ponta, quando se observam os segmentos que mesmo parcialmente conseguiram permanecer abertos na primeira quinzena de junho, os destaques são o comércio de veículos, peças e motocicletas (83,2%), indústria (76,1%) e comércio varejista (72,1%).

O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, acredita que muito da resiliência do setor vem dos incentivos que estão sendo dados pelo Governo, como a possibilidade de suspensão de contratos, adiamento de impostos e a concessão dos auxílios emergenciais, que estão funcionando como uma espécie de "muleta". A preocupação é quando isso acabar.

"As empresas estão andando de muleta, mas na hora que isso acabar não sei como vai ser, porque é como um carro indo ladeira abaixo. O cenário ainda é muito ruim e a verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer", afirma.

De acordo com o IBGE, dentre as empresas que fecharam, 39,4% apontaram como causa as restrições impostas pela pandemia. Destas, 518,4 mil (99,2%) eram de pequeno porte (até 49 empregados), 4,1 mil (0,8%) de porte intermediário (de 50 a 499 empregados) e 110 (0%) de grande porte (mais de 500 empregados).

A queda nas vendas ou serviços comercializados em decorrência da pandemia foi sentida por sete em cada dez empresas em funcionamento na primeira quinzena de junho, em relação a março, quando começaram as medidas de isolamento. Já 17,9% disseram que o efeito foi pequeno ou inexistente e 10,6% registraram aumento nas vendas com a pandemia.

Em relação à produção, 63% relataram dificuldade de fabricar produtos ou atender clientes, 60,8% encontraram dificuldades de acesso aos fornecedores, enquanto 63,7% tiveram dificuldades para realizar pagamentos de rotina.

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"O ritmo de retomada da economia vai se dar de forma muito lenta"

O POVO - A pesquisa Pulso Empresas do IBGE mostrou que o percentual de fechamento definitivo de empresas no País foi maior no Nordeste, chegando a quase 20%, enquanto a média nacional foi de 17,6%. Por que isso ocorreu?

Lauro Chaves - Eu acredito que isso acontece porque alguns estados do Nordeste tiveram medidas mais sérias de isolamento social, como o lockdown, e por mais tempo. É importante lembrar que as empresas no País já estavam em situação de fragilidade nos últimos anos, saímos da pior recessão da história, em 2015-2016, depois vínhamos crescendo em um ritmo muito lento de aproximadamente 1% ao ano. Então, estas empresas já estavam bastante fragilizadas quando veio um vírus, que é novo, e cuja principal medida de combate adotada foi o isolamento social. Foram praticamente três meses sem operação, o que inviabiliza a permanência das empresas e este é um cenário que já era esperado.

OP - Qual o cenário que teremos pela frente? Deve ocorrer um agravamento no ritmo de fechamento de empresas?

Lauro Chaves - O ritmo de retomada da economia vai se dar de forma muito lenta. É lógico que isso é difuso, alguns setores conseguem ter velocidade completamente diferentes de outros, mas acredito em uma retomada mais sólida a partir de 2021 e 2022. Isso se a pandemia for controlada, o que ainda é uma incógnita. Acredito que neste segundo semestre ainda teremos um movimento forte de fechamento de empresas, mas o pior já passou.

OP - Qual o principal desafio para as empresas no curto prazo?

Lauro Chaves - É o acesso ao crédito, que continua não chegando nas empresas. Mesmo com a reformulação das políticas de crédito, ainda não resolveu. Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) mostra que 60% das indústrias não conseguiram crédito, outra pesquisa feita pelo Sebrae mostra que, entre as pequenas empresas, essa situação é ainda mais grave, 70%.

OP - Qual o cenário que teremos quando estas políticas emergenciais acabarem? O que vai acontecer com as empresas quando não tiver mais o auxílio emergencial de R$ 600, a postergação dos impostos, suspensão de contratos etc?

Lauro Chaves - Será preciso encontrar formas de prolongar estes programas, ou parte deles. O Bolsa-família, por exemplo, que já foi uma evolução do Bolsa-escola, a tendência é que se transforme em um programa de renda mínima. A questão dos impostos é mais complexa, mas precisamos ter uma reforma tributária profunda no Brasil para aumentar a competitividade das empresas. Além de injusta, a tributação é alta e complexa, fazendo com que se gaste muita energia calculando imposto.

OP - Qual a orientação para as empresas sobreviverem neste contexto?

Lauro Chaves - A retomada da economia será muito lenta, mas isso abre também janelas de oportunidades para as empresas melhorarem a gestão e passarem a focar mais em inovação. Se antes era aconselhado investir em inovação, agora, é obrigatório, pois quem não inovar, não conseguirá sobreviver.

 

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