Quando se mudou para Fortaleza, em novembro de 2019, o carioca Ezequiel dos Santos Rangel, 33, já tinha em mente o que pretendia fazer caso demorasse a arranjar um emprego: trabalharia como entregador de aplicativo. O primeiro cadastro foi feito quatro meses antes, mas a aprovação veio praticamente um mês depois da mudança.
No início, a jornada era cumprida de bicicleta, depois de moto, que ainda está pagando as parcelas. Porém, não demorou muito para perceber que o trabalho, além de não ser fácil, cheio de riscos - de lá para cá, sofreu dois acidentes e foi assaltado -, a renda era incerta.
Neste ano, assim que teve a oportunidade, trocou a liberdade de fazer diferentes plataformas, por dois contratos fixos de entrega diretamente com os estabelecimentos: um das 8 às 15 horas e outro das 18 horas até meia-noite. Hoje ainda usa a plataforma, esporadicamente, mas não como fonte de renda principal.
"Uso mais como alternativa, porque já não estava tendo o retorno que eu queria. Caiu muito a quantidade de entregas durante a pandemia, eu estava fazendo uma rotina de dez horas de trabalho por R$ 1,8 mil no mês. No fixo, o trabalho está até mais puxado, mas consigo tirar na faixa de R$ 3 mil por mês".
Porém, este não era o único problema. "Nas plataformas não tem uma pessoa para dar suporte, para nos atender em relação a dificuldade na entrega, tudo é por automação, e aí o risco de você voltar com o produto é grande. Muitos acabam sendo bloqueados no aplicativo por questões do próprio cliente, por exemplo, não ter colocado número de telefone, não conseguir contato para entregar o produto e, se isso acontece algumas vezes, você é bloqueado. E é muito difícil contestar ou reverter".
Ele também conta que quem tem a maquininha própria de débito/crédito acaba tendo mais rotas de entrega. Para Ezequiel, era importante que as plataformas aumentassem o valor mínimo das corridas e dessem mais proteção ao trabalhador, mas teme uma eventual regulação que fixasse horários de trabalho. "Porque ai só quem estivesse escalado nos horários de pico é que teriam chance de receber mais".