Com mais de 160 mil restaurantes cadastrados na plataforma e 170 mil entregadores, o Ifood, em operação há nove anos, é hoje a principal plataforma de delivery de restaurante no País. São mais de 30,6 milhões de pedidos por mês, em mais de mil cidades. O O POVO conversou com o vice-presidente de logística da empresa, Roberto Gandolfo, sobre a manifestação dos entregadores no último dia 1º, as reivindicações dos entregadores, o cenário na pandemia e a necessidade de regulamentação do setor. Confira a entrevista.
O POVO - Qual o tamanho do Ifood hoje no Brasil e como vocês estão chegando nas cidades?
Roberto Gandolfo - O Ifood foi fundado em 2011, essencialmente, como uma plataforma de marketplace, que conecta numa ponta o restaurante, com seu catálogo de produtos, e na outra, o consumidor. Em 2013, que começa o processo de expansão no Brasil em 15 capitais, Fortaleza entre elas. Hoje, operamos em mais de mil cidades.
OP - Com o crescimento do desemprego, houve de fato um aumento de pessoas interessadas em trabalhar na plataforma?
Roberto Gandolfo - Tem sim. Em março, a gente viu o número de pessoas dobrar, em relação a fevereiro, de pessoas interessadas em se cadastrar na plataforma para fazer entrega. Mas a gente não necessariamente liberou os entregadores que se cadastraram, isso vem sendo analisado com cuidado, justamente para preservar o ganho e a renda de quem já está online e dependia dessa atividade para obter ganhos.
OP - No dia 1º de julho houve a paralisação, chamada de "breque nos aplicativos", na qual os entregadores fazem uma série de queixas como jornada exaustiva, queda do rendimento, principalmente, durante a pandemia, o tempo que fica disponível para plataforma sem remuneração, e bloqueios indevidos. Como o senhor observa estas reivindicações?
Roberto Gandolfo - O primeiro ponto é reconhecer que esta foi uma paralisação para toda categoria, não necessariamente direcionada ao Ifood. E quando a gente olha a pauta de reivindicações com pontos como desativações, valor mínimo de uma rota, seguro de acidentes pessoais, o interessante é ver que a gente já cobre isso quase em sua plenitude.
OP - Como ocorre a questão das desativações?
Roberto Gandolfo - Os motivos principais que geram desativação, basicamente, são fraudes. Ele retirou um pedido e não entregou ao cliente; aluga uma conta; ou faz uso indevido de contas de terceiros. E quando há fraude, a gente procura ser o mais explícito sobre o porquê que está sendo desativado. Pelo próprio aplicativo, ele pode pedir uma análise sobre esta desativação e um ser humano vai analisar e dar um retorno.
OP - O senhor fala que o movimento era para todas as plataformas e que boa parte das reivindicações já eram atendidas. Então, o senhor entende que o protesto, a crítica, não era direcionada a vocês, mesmo sendo a maior plataforma do setor?
Roberto Gandolfo - Não, pelo contrário. A gente foi a público, inclusive, falar que a gente achava o movimento democrático, que era importante que eles tenham direito de manifestação e reconhece que as pautas são legítimas. Um outro ponto da manifestação, por exemplo, era a distribuição de equipamentos de proteção individual, no que a gente concorda absolutamente e temos feito isso de forma recorrente e ampla em termos de abrangência nacional.
OP - Quais as medidas adotadas durante a pandemia?
Roberto Gandolfo - Trabalhamos primeiro em um bloco muito forte de prevenção, e quando a gente fala isso, estamos falando de entrega sem contato, foi um desenvolvimento de produto que a gente fez tanto no aplicativo, quanto para o cliente, para garantir o isolamento social; fizemos check list tanto para entregadores, como para restaurantes, para que pudessem se orientar; e fizemos um fundo de proteção para isolar grupos de risco, essas pessoas podem ficar em casa e são remuneradas neste período proporcionalmente ao que elas tinham na plataforma, e em dobro, neste caso.
OP - Vocês entendem que as medidas foram suficientes e atingiram todos que precisavam?
Roberto Gandolfo - Sem dúvida, a medida está sendo bem extensiva. Começamos a fazer a distribuição do kit de proteção (orientações, álcool em gel e quatro máscaras reutilizáveis) com uma oferta de rota ao entregador.
Hoje, para quem não foi retirar o equipamento, a gente faz uma transferência direto no aplicativo no valor de R$ 30, descrito lá que é para um kit de proteção, caso ele não tenha sido coberto por essa ação ou não pode ir no dia da campanha.
OP - Mas mudou alguma coisa depois da manifestação?
Roberto Gandolfo - A pauta é muito legítima e já vínhamos trabalhando nelas. O que eu vejo é o seguinte: aprimoramento de processos mesmo. Por exemplo, desativações: vamos ter cada vez mais claro e transparente os motivos, que é algo colocado nas manifestações; um outro processo foi este do repasse em conta para quem não pode retirar o kit de proteção, são exemplos do que a gente tem feito
OP - Essas manifestações vêm provocando uma discussão muito grande sobre a necessidade de regulamentação da gig economy. Como vocês veem esta questão?
Roberto Gandolfo - Sobre existir vínculo ou não, a questão da pessoalidade, subordinação, quando você vai para todas as características do que caracteriza o modelo CLT, você percebe que o nosso modelo não fala com isso. O que a gente tem é um modelo com pessoas autônomas. Com a gig economy, você dá a flexibilidade para que as pessoas possam estar logadas neste horário e terem demanda que possa gerar renda.
OP - Mas a empresa entende que caberia uma regulamentação no setor?
Roberto Gandolfo - A gente entende que é muito bem-vinda regulamentações que mantenham esta liberdade e flexibilidade, mas que assegurem também a proteção social desse trabalhador. É super justa esta discussão e estamos abertos ao diálogo.