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Filantropia deve migrar para negócios que mudam o entorno
Economia

Filantropia deve migrar para negócios que mudam o entorno

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Sócio fundador da Investidora de Impacto in3citi, Haroldo Rodrigues (Foto: Camila Almeida)
Foto: Camila Almeida Sócio fundador da Investidora de Impacto in3citi, Haroldo Rodrigues

Haroldo Rodrigues, da Investidora de Impacto In3citi, explica que na pandemia há dois grandes movimentos em curso por parte das empresas. O primeiro é um aumento da filantropia, que tem como foco aquela ajuda mais imediata, a transformação socioambiental, sem retorno financeiro. E o outro é a busca por investimento de impacto, que coloquem o retorno financeiro das empresas como consequência das ações responsáveis.

Dados do Monitor de doações da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) dão conta que, do fim de março até ontem, as doações para o enfrentamento da Covid-19 já somavam mais de R$ 6 bilhões no Brasil. Deste montante, 83% foram de empresas.

Ele acredita que há uma forte tendência de migração deste movimento de filantropia em investimentos de impacto. Seja em função do agravamento dos problemas sociais na pandemia, seja porque há uma maior consciência de que sozinho o Poder Público não conseguirá fazer as mudanças necessárias.

"O grande resumo é que nós não vamos conseguir a transformação de um sistema, do mercado financeiro, sem transformar a consciência dos investidores. E a pandemia veio para acelerar esta consciência de que é preciso colocar a transformação social e ambiental também como retorno financeiro".

E há mais empresas dispostas em já nascer sendo este elo de transformação. Na última chamada Território do Futuro, em 2019, promovida pela In3citi, com investimentos do Grupo Marquise e Banco do Nordeste (BNB), foram recebidas 165 propostas.

Destas, duas foram selecionadas na final para receberem aporte na ordem de R$ 400 mil para serem aceleradas e impulsionadas no mercado. Uma delas é a HY Sustentável, que desenvolveu uma tecnologia própria para o tratamento de efluentes domésticos e animais por meio da biodigestão, resultando na produção de biogás e de biofertilizantes.

Na prática, o equipamento dá uma solução para falta de saneamento, transformando o que era 'lixo' e esgoto em energia elétrica e em fertilizante com alto potencial nutritivo.

"Em um equipamento só resolveria três importantes dores da sociedade, que é a questão do saneamento, a demanda por energia limpa e o biofertilizante, que não agride o meio ambiente. Sendo que o biogás, dentre as fontes de energia limpa, é a única que tem pegada negativa de carbono", explica o sócio da HY Sustentável, Ricardo Salles Hermanny.

O projeto surgiu em 2011, como uma forma de resolver a "dor" de pequenos produtores rurais. Hoje, já são em torno de 150 projetos no País para indústrias, comércios, condomínios e loteamentos. "No início, as empresas buscam por uma questão de adequação à legislação de tratamento de resíduos. Mas se pode fazer isso e também obter outros ganhos ambientais e sociais porque não fazê-lo? E este interesse tem crescido no Brasil".

Ricardo conta que hoje a empresa está em negociação com uma grande indústria para auxiliar mais de 6 mil pequenos produtores de leite no Estado. Também diz que embora o ambiente de negócios seja complicado no Brasil, a demanda por saneamento deve representar outra importante janela de oportunidades. "Hoje apenas 50% do esgoto no Brasil são captados. Destes, 20% a 25% vão ser tratados. A gente pensando em mercado é um mundo".

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