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E agora, ministro?
Economia

E agora, ministro?

Silvana Parente, vice-presidente do Corecon-CE
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Tipo Notícia
Silvana Parente 
Doutora em Economia e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Silvana Parente Doutora em Economia e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE)

O Ministério da Economia do Brasil sofreu mais duas baixas. O ministro Paulo Guedes confirmou nessa terça-feira, dia 11 de agosto, a saída dos secretários especiais Salim Mattar, da Desestatização e Privatização, e Paulo Uebel, da Desburocratização, Gestão e Governo Digital, em um ato no qual fez referência a “uma debandada na pasta”.

De acordo com o governo, os secretários pediram demissão por estarem insatisfeitos com falta de resultados em suas pastas. No caso de Salim Mattar, a justificativa ocorreu porque ele não conseguiu entregar os projetos de privatizações e ficou insatisfeito com o ritmo determinado pelo presidente Jair Bolsonaro. Já Paulo Uebel pediu para deixar o governo porque a reforma administrativa foi adiada.

São dois temas bastante polêmicos entre os economistas. Está claro que é preciso avançar nas reformas econômica, tributaria e administrativa, mas é necessário que isso seja feito com amplo debate, por dentro das instituições democráticas, respeitando a Constituição Federal 1988 e o Congresso Nacional, bem como é necessário que se abra debate com especialistas das áreas e organizações da sociedade.

Parece que as baixas da equipe econômica ocorreram em razão da não conformação, por parte do núcleo político do Governo, quanto ao momento e forma de se fazer essas reformas. Talvez, as expectativas desses secretários eram de que essas reformas pudessem ser feitas de forma autoritária, impostas pelo Planalto, o que realmente seria politicamente inviável ou complexo.

Sabe-se da necessidade de o país fazer uma reforma administrativa e também avançar nas privatizações viáveis, mas tudo deve ser feito de forma responsável, com profissionalismo e baseado em uma proposta que venha melhorar a eficiência da economia brasileira e a eficácia das políticas sociais, em um país repleto de pobreza e desigualdades. E isso não tem acontecido. As propostas não são apresentadas, não estão sendo debatidas com a devida técnica e transparência, e parecem ser guiadas apenas por conta de uma ideologia liberal ou de interesse privado, que prega estado mínimo e redução de gastos com servidores em um momento em que a economia precisa da presença forte e acertada do estado.

Em um momento como esse, de pandemia do novo coronavírus, no qual já morreram mais de 100 mil brasileiros, esses temas são muito delicados e precisam seguir avançado com cuidado, dentro do debate democrático, e não de forma açodada e precipitada.

A mesma coisa acontece com o tema da renda mínima, dando sequência ao auxílio emergencial; o tema do teto dos gastos públicos e da reforma tributária. O objetivo dessas reformas deve ser a recuperação da economia, bem como a construção de uma nova economia brasileira, que faça o país crescer com inclusão social e sustentabilidade ambiental e não em razão de questões ideológicas pautadas no estado mínimo ou de dogmas da política econômica neoliberal que tem paralisado o Governo Federal.

O momento atual requer muita cautela e debate. Essa aproximação entre economia e política sempre houve. Agora, é preciso cada vez mais estreitar esses laços, utilizando o debate como meio para a tomada de decisões concretas, pautadas na democracia e no bem estar de todos os brasileiros.


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