Na avaliação do infectologista Roberto da Justa, da Universidade Federal do Ceará (UFC), apesar de compreensível a apreensão do setor de eventos diante de tantas incertezas econômicas, são muitos os fatores que justificam o pé no freio em relação à liberação da atividade no Ceará.
"Qualquer evento que gere aglomeração no atual contexto é uma atividade de maior risco porque não há vacina, ainda temos a circulação do vírus e ele é altamente contagioso. O que a experiência nos tem mostrado é que se transmite muito mais pelo ar, do que pelo contato", explica.
Ele acrescenta que, apesar do número de ocupação dos leitos no Estado esteja caindo, ainda é alta a quantidade de novos casos. Também pondera que, embora os donos de estabelecimentos e organizadores de eventos se proponham a seguir protocolos, é muito difícil garantir que as pessoas vão cumprir rigorosamente as regras.
"Ainda mais se tiver liberação de consumo de álcool. Conforme as pessoas vão bebendo, vai caindo o senso de proteção em relação ao uso da máscara, da distância. A gente vê, mesmo nas ruas, muitas pessoas sem máscara, as pessoas estão perdendo o medo, ignorando os riscos e isso é preocupante".
Para o economista e consultor financeiro Gregório Matias, essa é uma equação muito difícil de ser solucionada. Na opinião dele, ainda não é momento de liberar os eventos, principalmente, os grandes. Mas é preciso considerar a quantidade imensa de pessoas que trabalha no setor e que está sendo jogada na vulnerabilidade.
"É muito difícil. E cabe ao poder público, considerando todos os números e variáveis, firmar este protocolo, para que o privado decida se compensa ou não reabrir". Gregório destaca, no entanto, que é preciso criar alternativas ao setor. "Não dá para deixar sem nada, teria que viabilizar mais crédito, ou mesmo diferimento fiscal, ou uma política própria, para que possam passar por este momento de maior turbulência".
A diretora do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças no Ceará (Ibef-CE), Cinthya Diógenes, diz ser positiva a recente medida provisória para o setor cultural, editada pelo Governo Federal, que está sendo chamada de MP Aldir Blanc e que autoriza o repasse de R$ 3 bilhões a estados, Distrito Federal e municípios. Contudo, é preciso avançar nas alternativas.
"A cadeia é muito grande e envolve muita gente, é preciso pensar como minorar este problema que todo o setor está passando. Porque nesta crise, para sobreviver, é preciso se reinventar, mas nem todos têm condições de se reinventar da mesma forma", observa.