No Brasil, entre 30% e 50% das escolas particulares de pequeno e médio porte estão sob o risco de falência em razão da pandemia. Os dados são de uma pesquisa coordenada pelo professor do Insper, Tadeu da Ponte, que vem monitorando os impactos econômicos sobre o sistema educacional. Ele alerta que se a crise continuar a se agravar, o sistema público de ensino não dará conta de absorver a demanda.
Sobretudo, quando se trata da educação infantil e séries iniciais. "O Plano Nacional de Educação coloca o atendimento em creches como meta da educação pública brasileira e faz cinco anos que não é cumprida. Com a redução da oferta pela rede privada, isso fica ainda mais complicado. As escolas públicas não darão conta de absorver essa demanda, não conseguia fazer isso nem antes da pandemia".
A pesquisa mostra que se, em maio, 95,5% das escolas consultadas relataram ter casos de cancelamento de matrícula, em junho, este percentual chegou a 96%. A taxa média de cancelamento por escola subiu, no período de 10% para 14%.
Na educação infantil, a perda de receita incidiu de forma mais forte. Primeiro com os cancelamentos do adicional do contraturno por quem optava pelo regime integral, depois a matrícula em si. "Quem consegue se manter com 1/3 da receita?".
Ele também explica que embora a dificuldade de adaptação ao sistema digital pelas crianças menores seja uma razão, não é a única. As famílias, além de terem perdido renda, tiveram de encontrar um outro jeito para cuidar da criança em casa, enquanto precisam trabalhar, o que implica custos adicionais. "E é preciso lembrar que essa não é uma relação comercial simples. Para um pai decidir tirar o filho da escola é porque não teve outra saída".
Tadeu ressalta que, se por um lado, é compreensível a cautela das autoridades sanitárias em relação à flexibilização tendo em vista que não há ainda controle da doença, por outro, as consequências econômicas da pandemia no sistema educacional podem agravar, sobremaneira, as desigualdades sociais do País.
Do lado dos pais, essas escolhas não são menos complexas. A terapeuta Patrícia Citó, 43, é mãe da Marina, 6, e do Raul, 1. Ela relata que tem sido extremamente difícil, tanto a ela quanto aos seus filhos, conseguir o aproveitamento necessário no ensino remoto.
"Esse momento de aulas online é muito complicado. Eu e meu marido trabalhamos, quem fica auxiliando a Marina durante a aula? Não dá. Tenho que deixar eles na casa da minha mãe ou da minha sogra, é um problema".
Mais difícil ainda é garantir que o menor fique atento na frente de um computador. Sobre o possível retorno presencial, Patrícia falou que a escola de sua filha a convocou para reunião, com intuito de debater qual seria a melhor opção, caso haja a retomada presencial. "Apesar do medo, disse que seria favorável ao retorno, diferente da maioria dos pais. Eles me mostraram todos os protocolos de higiene e fiquei mais tranquila", afirma. (Irna Cavalcante, colaborou Alan Melo/Especial para O POVO)