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Por que a pandemia tem um peso maior sobre elas?
Economia

Por que a pandemia tem um peso maior sobre elas?

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Estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) traz um alerta importante: a pandemia da Covid-19 ameaça reverter os ganhos obtidos em termos de oportunidades econômicas para as mulheres e, assim, ampliar as disparidades de gênero que persistem apesar de 30 anos de avanços.

E as razões para isso são várias. Desde o fato de que as mulheres atuam nos segmentos mais afetados, como, por exemplo, serviços, varejo, turismo e hotelaria; seja porque é mais alta a proporção de mulheres na informalidade, o que faz com que elas estejam mais à margem da lei, dos benefícios do Estado e é menor a chance de trabalho a distância.

O estudo enfatiza também que é maior a dedicação das mulheres às tarefas do lar. Elas gastam, em média, 2,7 horas por dia a mais que os homens. Além do risco de "perda do capital feminino" (abandonam mais e retornam menos à escola). "É crucial que as autoridades econômicas tomem medidas para limitar os efeitos prolongados da pandemia nas mulheres", destaca o estudo.

Dentre outras medidas recomendadas pelo FMI aos países, sobretudo, aqueles em desenvolvimento, está a ampliação do apoio à renda dos mais vulneráveis, criar mecanismos para preservar vínculos empregatícios, oferecer incentivos para equilibrar as responsabilidades no trabalho e na família, melhorar o acesso à saúde e ao planejamento familiar e expandir o apoio às pequenas empresas e aos trabalhadores autônomos. "Também é prioritário eliminar as barreiras legais ao empoderamento econômico das mulheres".

No Brasil, há também um forte entrave cultural, reforça a doutora em Economia Social pela Universidade de Madri, Silvana Parente. É o preconceito que faz com que as mulheres apesar de, em média, terem escolaridade maior que a dos homens, receberem menos quando estão no mercado de trabalho. Ou terem mais oportunidades ligadas aos setores de comércio, varejo, serviços do lar, do que em setores mais tecnológicos ou da segurança, por exemplo. "Não é mais questão de nível de escolaridade ou capacidade e sim o tabu enraizado na sociedade em relação aos papéis que devem ser ocupados pelas mulheres. E isso precisa ser enfrentado".

Para ela, é fundamental que as políticas públicas pensadas para reerguer a economia perpassem as questões de gênero e raça. "Qualquer nova economia pós-pandemia tem que estar centrada na redução da desigualdade de raça e gênero. As estatísticas estão aí para mostrar que as classes mais frágeis e vulneráveis são as mulheres e mais ainda, as mulheres negras. São elas que recebem menos, morrem mais e têm menos oportunidades".

 

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