Para cada pessoa não negra vítima de homicídio, morreram 4,7 negros no Ceará. Essa proporção de homicídios entre negros e não negros é de 2,7 no País, conforme o Atlas da Violência 2020, que usa dados de 2018. O Ceará tem a segunda maior taxa de homicídios de mulheres por 100 mil habitantes (10,2). Nove a cada dez mulheres vítimas de homicídio são negras no Estado.
"Violência e racismo caracterizam as relações sociais no Brasil. Os negros são sub-representados na estrutura social e econômica. Em função dessa trajetória histórica, o negro é mais vulnerável a sofrer a violência", explica Daniel Cerqueira, um dos coordenadores do Atlas. Ele cita entre outras causas a ideia do "negro perigoso", que "existe nas polícias Brasil a fora" quando se fala no uso diferenciado das forças entre negros e não negros. "É um exemplo desse racismo que mata".
Conforme Geovani Jacó, sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência (Covio) da Universidade Estadual do Ceará (Uece), "segmentos vulneráveis e expostos as relações cotidianas de violência estão com maior taxa de vitimização". "O que se percebe é que, se houve diminuição da violência pontual em geral, há recrudescimento de alguns grupos", aponta.
"É espantoso o número de jovens negros e mulheres negras que são afetadas nesses últimos dois anos, 2017 e 2018. Mostra como as políticas públicas que têm sido implementadas são absolutamente insuficientes na redução de homicídios", afirma Luiz Fábio Paiva, sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC).