A Polícia Federal deflagrou ontem, 31, uma megaoperação com o objetivo de combater o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro praticados por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) com atuação em 19 Estados e no Distrito Federal. Foram emitidos 422 mandados de prisão e 201 de busca e apreensão pela Justiça de Belo Horizonte, que ordenou também o bloqueio de até R$ 252 milhões em contas investigadas. No Ceará, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e 22 mandados de prisão.
A Operação Caixa Forte 2 revelou, segundo a PF, que parte do lucro obtido com o tráfico de drogas era destinada ao pagamento de uma mesada a membros da facção que atualmente estão presos, incluindo aqueles detidos em unidades federais, consideradas de segurança máxima. Os valores eram canalizados para inúmeras contas bancárias do grupo. O bloqueio envolve valores em 252 contas.
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >
A polícia diz que a operação, que considera a maior já realizada contra facções no País, atinge integrantes do alto escalão, mas os nomes dos envolvidos não foram divulgados. Não foi informado, por exemplo, se um dos beneficiários da referida mesada é o líder máximo da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, atualmente detido na Penitenciária Federal de Brasília. Ele e outros 21 integrantes da facção foram transferidos para as unidades federais em fevereiro de 2019.
Para cumprir os mandados, a PF mobilizou 1,1 mil agentes, por meio de uma força-tarefa que envolve também a Polícia Civil de Minas Gerais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). A operação ocorreu nos seguintes Estados: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal.
Entre os 422 mandados de prisão, 172 tinham como alvo pessoas que já se encontravam presas. Isso ocorreu em 31 estabelecimentos prisionais de 14 Estados. A situação não impede que esses suspeitos respondam por um novo crime e, em caso de condenação, tenham o tempo de pena elevado. Segundo a corporação, a ofensiva tem como base dados obtidos na primeira fase da Caixa Forte, que identificou os responsáveis pelo chamado Setor do Progresso do PCC, dedicado à lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Membros recebiam valores mensais por ter ocupado cargos de relevo na organização criminosa ou executado missões determinadas pelos líderes, como assassinatos de servidores públicos.
Segundo o coordenador da operação, delegado Alexander Castro, as transferências aos integrantes da facção tinham três critérios. "Os valores variavam de acordo com os motivos pelos quais os integrantes da facção foram enviados ao sistema penitenciário federal. Então se ele foi remetido ao sistema penitenciário federal por pertencer à facção criminosa, recebia 'x' por exercer algum cargo de relevo na facção, '2x' se executou alguma missão da facção e recebia o valor '3x' por ter matado algum servidor público", disse.
Para garantir o recebimento do "auxílio", os integrantes do grupo indicavam contas de terceiros não pertencentes à facção para que os valores, oriundos de atividades criminosas, ficassem ocultos e supostamente fora do alcance do sistema de justiça criminal, informou a corporação. Segundo a Polícia Federal, foram identificadas 220 empresas ligadas ao PCC, das quais 179 continuavam em uso durante as investigações.
Os presos são investigados pelos crimes de participação em organização criminosa, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, cujas penas combinadas podem chegar a 28 anos de prisão, informou a PF. A quantidade de mandados cumpridos com sucesso e o total de dinheiro efetivamente bloqueado nas contas não foi informado até a noite de ontem.
A corporação diz ainda que a Caixa Forte 2 é um marco na atuação da PF. "A operação visa a quebrar a parte financeira da organização criminosa. Não estamos mais no viés de prender membros de escalões inferiores da organização ou apenas apreender drogas", disse o delegado e coordenador geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da Polícia Federal, Elvis Secco. Conforme o delegado, outras operações semelhantes vão ocorrer. (Agência Estado)