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Contraste de realidades
Economia

Contraste de realidades

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Cristina Fontenele, jornalista cearense (Foto: RODRIGO CARVALHO)
Foto: RODRIGO CARVALHO Cristina Fontenele, jornalista cearense

Voltei de férias a Fortaleza após dois anos morando em Lisboa. Comprei a passagem pela TAP em novembro de 2019 quando ainda não se falava em pandemia no mundo, mas tive meu voo adiado duas vezes. De início, viajaria em 19 março, na semana em que o Ceará suspendeu os voo internacionais. Remarquei para 1º de agosto, novamente cancelado. Finalmente, consegui viajar em 23 de agosto.

Em Portugal, já estávamos na fase avançada de retomada das atividades, com o comércio, transportes e serviços funcionando quase normalmente, mas seguindo os protocolos de segurança. Então, estava preocupada em vir ao Ceará neste período em que o Estado despontava como um dos três de maior foco do novo coronavírus no País. Era como retroceder no tempo, redobrando cuidados.

As notícias que chegavam do Brasil confirmavam uma situação alarmante e sem controle, a despeito de toda a experiência já vivida pela Europa e os aprendizados que podiam ser refletidos dali. As férias programadas no trabalho, um livro para lançar e a saudade da família reforçaram a decisão de vir, mesmo neste contexto.

No dia do embarque, havia grande movimentação no aeroporto de Portugal, sinalizando a volta das operações de várias companhias aéreas. O check-in e despacho de bagagem foram realizados de maneira diferente, automatizada, sem a presença de atendentes. Na imigração, tive que apresentar minha carteira de residência portuguesa para justificar a saída do país e assegurar também a autorização da volta. Já na aeronave, as poltronas estavam ocupadas de forma alternada, respeitando a distância mínima entre os passageiros, embora em nenhum momento desde a entrada no aeroporto tenham medido minha temperatura.

Chegando em Fortaleza, o aeroporto vazio, demonstrou o contraste de realidades. Era tempo de desacelerar. No entanto, observei a cidade na movimentação que eu conhecia, embora alguns comércios fechados, outros já funcionavam com grande número de pessoas, algumas cumprindo os protocolos mínimos de segurança, sendo nos restaurantes o maior relaxamento dos cuidados.

Parece que está tudo normal, mas não está. A saudade do meu primo que perdi para a Covid-19 me traz à realidade. Estando eu em Fortaleza, agora é Portugal que retoma medidas restritivas pela preocupação com uma segunda onda da pandemia, principalmente, pelo aumento dos casos na Espanha. Farei, então, um caminho inverso.

Na viagem de retorno, será obrigatório fazer teste antes de embarcar. Penso que também deveria ser protocolo no Ceará, sendo exigido o RT-PCR para todas as chegadas internacionais. E vejo que, mesmo após seis meses de isolamento, o Brasil (e o mundo) não pode voltar ao que era antes. É preciso aprender, ajustar e crescer.

Cristina Fontenele, jornalista cearense

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