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Tendência é de um consumidor mais conservador
Economia

Tendência é de um consumidor mais conservador

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Tipo Notícia

A tendência de um consumidor mais conservador e criterioso também foi apontada em outro estudo, desta vez realizado pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ebape).

Por um lado, isso vem ocorrendo porque os gastos essenciais estão assumindo maior proporção dentro do orçamento das famílias. De acordo com a pesquisa "Impacto da crise da Covid-19 nos hábitos de consumo e trabalho das famílias", realizada com cerca de 600 pessoas no País, para mais de 60% dos respondentes, a maior permanência em casa fez com que houvesse um incremento significativo neste tipo de despesa.

Se antes da pandemia, o que prevalecia era o hábito de fazer apenas uma refeição em casa, agora, a média da maioria das famílias são três, mesmo com a retomada gradual e parcial do trabalho presencial. O que por conseguinte também pressionou a alta de despesas como energia elétrica, gás etc.

E sobre esse aspecto há um agravante: a escalada de preços. Para se ter uma ideia, enquanto a inflação oficial do País, em setembro, foi estimada em 1,34%, no acumulado do ano, a dos alimentos chegou a 7,30%. O que tem corroído ainda mais o poder de compra das pessoas.

Soma-se a isso uma insegurança maior no mercado de trabalho. A pesquisa mostrou que mais da metade das pessoas afirmou estar preocupada com a estabilidade do seu emprego, ou acredita que é muito provável ou certo que perderão a vaga.

"As pessoas estão com medo. Há uma segunda onda de Covid na Europa, no Brasil, a doença continua com indicadores muito altos e, além disso, as pessoas estão trabalhando em um ambiente de incertezas em relação ao emprego. Tem uma volta gradativa do trabalho, mas que está se dando de maneira muito heterogênea entre as empresas", afirmou o pesquisador da FGV/Ebape, Marco Tulio Zanini, um dos autores do estudo.

Ele ressalta que outro aspecto demonstrado na pesquisa é uma piora na confiança em relação aos governantes. "Não há muito otimismo em relação a uma melhora do cenário e nem da economia".

Para o pesquisador em Finanças Comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques, o futuro e a intensidade do consumo ainda são incertos e estão muito relacionados a quando a crise sanitária vai passar, mas é certo que o consumidor sairá diferente deste processo.

Ele reforça que todos esses fatores econômicos, pandêmicos, tecnológicos e mesmo psicológicos causados pelo período prolongado de isolamento tendem a seguir moldando o comportamento do consumidor daqui para frente.

"Ninguém sai de um processo de rupturas como esse da mesma forma que antes. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas não tenho dúvidas de que essa geração terá uma memória de restrições, como a geração anterior teve da inflação galopante. E isso se reflete na cesta de consumo".

Ele explica, no entanto, que não necessariamente essa ressignificação representa um aumento apenas dos produtos essenciais ou de menor valor agregado. "As prioridades de consumo ocorrem em função daquilo que tem valor para as pessoas. É comportamento. Pode ser que, para uma parcela da população, o importante seja o prato cheio na mesa, para outras a praticidade na compra, ou ter uma casa bonita ou um carro de luxo".

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