A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia publicou previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acima de 3% em 2021, sob a justificativa de um retomada em "V" (a letra representa o com comportamento da curva de crescimento em gráfico). Dentre os fatores apontados para esse cenário positivo, estariam o emprego, crédito e consolidação fiscal. O questionamento que se levanta é se há mesmo espaço para tanto otimismo em um ano que começará marcado pela pandemia.
A SPE acredita que medidas como o auxílio emergencial e os saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) podem ainda injetar R$ 130 bilhões na economia até o fim de 2021. Outro ponto seria que a redução do consumo das classes média e alta durante as fases mais rigorosas do distanciamento social resultou em um aumento expressivo da poupança dessas famílias.
Além disso, a secretaria cita bons resultados do mercado de trabalho formal nos últimos meses e a antecipação de férias no auge da pandemia, que deve garantir um maior contingente de trabalhadores na ativa no fim do ano.
Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Vander Mendes Lucas, o Ministério da Economia está fazendo o seu papel de demonstrar confiança para a sociedade e transmitir os sinais para os demais agentes. "Achar que o PIB vai crescer acima de 3% em 2021 é otimista demais, mas é possível. Claro que precisa de uma combinação de vários indicadores. Não podemos ficar baseados no crédito que o Governo está colocando", pondera.
Na avaliação de Vander, movimentar a economia via crédito é conjuntural, mas tem um limite. A consolidação fiscal é o fator mais importante, porém, não há sinalização de efetividade. "O próprio Governo vem tendo conflito com relação ao cumprimento do teto de gastos. Então, é um governo gastador e quer gastar cada vez mais. Está tentando fazer uma reforma tributária para olhar o lado da receita tributária, mas está muito lento o processo. A economia não dinamiza e o nível de emprego é afetado", observa.
Atualmente, são 14 milhões de brasileiros desempregados. O mercado de trabalho deve demorar a reagir. O ciclo somente finaliza nas contratações quando os investimentos são concretizados, sendo um processo mais lento.
O auxílio emergencial foi um fator que gerou impactos positivos no nível de consumo e pressão inflacionária. Com o fim do recurso que atende a mais de 65 milhões de pessoas, pode acontecer um desaquecimento.
Vander enfatiza que o benefício demandou gastos superiores a R$ 500 bilhões, somados à dívida de R$ 150 bilhões do Brasil. Uma situação que dificulta a manutenção do auxílio.
Ele acrescenta que o impacto de uma segunda onda de coronavírus em países parceiros como China, Estados Unidos e a na Europa — que já enfrenta esse retrocesso — compromete ainda mais o crescimento no Brasil. Caso saiam resultados positivos em relação à pandemia, ocorre o efeito inverso.
"Tem um conjunto de variáveis que o governo deverá levar em consideração. Claro, terá de ser otimista com todas elas, porque ele é o carro-chefe, que dá o sinal mais forte para a economia", diz. "Agora, se vamos ter respostas desses sinais ou não depende muito também do setor privado e dos deveres de casa que o governo está tendo que fazer e não está fazendo, principalmente, coisas que estão emperradas dentro do Congresso Nacional", avalia.
No Ceará, a economia tem crescido acima do Brasil. A prévia do PIB, o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR-CE), subiu 1,82% em agosto, em comparação com o mês anterior. Os dados divulgados pelo Banco Central mostram que o Estado supera a média do Nordeste (1,09%) e do País (1,06%).
O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), Wilton Daher, explica que o histórico de contas equilibrados do Estado farão com que a retomada local ocorra com mais facilidade.
"O nosso governo administra com rigor e competência. Evidentemente, que a pandemia traz os impactos negativos, mas já estamos praticamente com as contas caminhando para o equilíbrio e vamos retomar", aponta. "Será uma continuidade lenta e gradual, mas segura. Não há uma mensagem de otimismo exagerado, retomada plena, mas um pouco mais confortável para 2021", afirma. Com Agência Estado)
O que diz o estudo da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia
Em setembro/2020, a produção industrial cresceu 2,6% ante o mês anterior (com ajuste sazonal), resultado acima da mediana das expectativas de mercado (1,5% a 3.5%; mediana de 2.3%).
Assim, confirma-se que a economia apresenta recuperação em "V" e a atividade industrial no País já se encontra 0,2% acima do patamar de fevereiro/2020.
A indústria sinaliza boa perspectiva para o PIB do 3º trimestre de 2020 e para o fechamento do ano. A continuidade da consolidação fiscal, das reformas estruturais e da implementação de medidas de aumento de produtividade e de melhora da alocação de recursos são fundamentais para continuarmos pavimentando a retomada do crescimento sustentado do País.
Por categoria econômica, em setembro/2020, deve-se destacar a alta de bens duráveis (10,7%) e bens de capital (7,0%), ante o mês anterior, com ajuste sazonal. Bens intermediários cresceram 1,7% e bens semi e não duráveis, 3,7%. Cabe enfatizar também a alta mensal de 1,3% nos insumos típicos da construção civil, que já está no patamar de 21,5% acima do nível de fevereiro/2020.
Ante igual mês do ano anterior, a produção industrial geral cresceu 3,4%, resultado também acima da mediana das expectativas de mercado (-1,1% a 4,5%; mediana de 2,2%). Por categorias econômicas, praticamente todos os componentes superam o mesmo nível de setembro de 2019. Destaque para a alta dos bens intermediários (5,5%), bens duráveis (2,2%) e semi e não duráveis (1,8%). Apenas bens de capital ainda apresentaram queda na variação interanual (-2,9%).
CONCLUSÃO DA PASTA
A indústria sinaliza boa perspectiva para o PIB do 3º trimestre de 2020 e para o fechamento do ano. Os resultados dos indicadores antecedentes e os coincidentes mostram a recuperação consistente da economia e o acerto das medidas governamentais adotadas para mitigar os efeitos da pandemia. Nota-se melhora na confiança de empresários e consumidores, aumento gradativo da capacidade instalada, maior uso de insumos e ampliação da produção. Isso resulta na dinamização do ambiente econômico, permitindo geração de novos postos de trabalho e contribuindo para conter o desemprego. A continuidade da consolidação fiscal, das reformas estruturais e da implementação de medidas de aumento de produtividade e de melhora da alocação de recursos são fundamentais para continuarmos pavimentando a retomada
do crescimento sustentado do País.
PROJEÇÕES DO ÚLTIMO RELATÓRIO FOCUS (30 de outubro)
Expectativas do PIB para 2020 -4,81%
Expectativas para 2021
PIB 3,34%
Meta Taxa Selic 2,75%
Taxa de câmbio - fim de período (R$/US$) 5,20
O que esperar da economia em 2021?
A retomada da economia em 2021 será lenta e dependerá em grande parte da capacidade de o País controlar a crise de saúde, os riscos sociais do elevado desemprego e a capacidade de planejamento e estímulos estratégicos. A recuperação não será linear nem homogênea. Após o término dos acordos de redução de jornada e suspensão de contratos, a indústria seguirá trajetória de recuperação gradual, devendo enfrentar alta de preços de insumos.
Com a taxa de juros baixa, os investimentos precisam se direcionar para o setor produtivo e não especulação financeira ou imobiliária. O aquecimento do varejo devido ao auxílio emergencial não deverá se repetir, ficando na dependência do nível de emprego e salário. O setor de serviços, responsável por 70% da economia e o mais afetado pela crise, seguirá a passos lento. A desvalorização do câmbio estimula exportações de commodities, mas gera pressões inflacionárias.
O prognóstico será bem pior caso o País insista em obedecer à risca o teto de gastos. Todos os países foram obrigados a ampliar o seu endividamento público, sendo que o Brasil teve a vantagem de se endividar internamente. O impacto fiscal das medidas emergenciais e de novos e necessários programas de investimentos e de proteção social poderá ser diluído no médio e longo prazos, a partir de um projeto nacional de desenvolvimento pactuado, que não se limite a propostas incompletas de reformas administrativa e tributária.
O foco deve ser inovação, sustentabilidade e redução de desigualdades, sobretudo para atender demandas da sociedade como o complexo da saúde, educação, biotecnologia, logística e TICs, com mecanismos inovadores de promoção das economias subnacionais e territoriais.
Silvana Parente
Doutora em Economia
Vice-presidente do Corecon-CE
Bolsa volta ao 100 mil pontos e dólar fecha a R$ 5,54
Os ganhos nas bolsas se distribuíram ontem da Ásia à Europa e aos Estados Unidos, com a B3 aproveitando a onda de apetite por risco no Exterior para emendar o terceiro ganho, desta vez de 2,95%, aos 100.751,40 pontos, após avanços de 1,97% e 2,16% nas sessões anteriores, uma sequência como não se via desde junho.
A provável vitória de Biden contribuiu para que o Ibovespa recuperasse a marca dos seis dígitos, algo que não ocorria desde 27 de outubro no intradia e desde 26 de outubro, no encerramento. Na máxima da sessão, o índice da B3 foi aos 100.921,63 pontos, saindo de mínima a 97.872,27 e buscando o seu melhor nível de fechamento desde o último dia 26, então a 101 016,96 pontos. Em Nova York, os ganhos ficaram em torno ou acima de 2% no fechamento. Na B3, o giro financeiro foi de R$ 29,7 bilhões na sessão, com o Ibovespa acumulando ganho de 7,24% nesta primeira semana de novembro e reduzindo as perdas do ano a 12,88%.
"A recuperação econômica será mais forte com mais apoio fiscal, que pode fazer o que não podemos: substituir renda perdida", disse Powell, no momento em que o Ibovespa renovava picos da sessão, logo após o presidente do Fed ter observado que "mais apoio provavelmente será necessário" a partir das políticas monetária e fiscal.
Já o dólar teve novo dia de forte queda ante o real, refletindo o otimismo no mercado internacional com a possível vitória de Joe Biden para a Presidência nos Estados Unidos. Com isso, o dólar fechou no menor valor desde 9 de outubro e o Credit Default Swap (CDS) do Brasil, termômetro do risco-país, caiu ao menor patamar desde o começo de março. Nesta semana, o dólar já recua 3,35%. No fechamento, o dólar à vista terminou em queda de 1,91%, cotado em R$ 5,5459. No mercado futuro, o dólar para dezembro fechou em R$ 5,5320. (Agência Estado)