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Quando a falta de uma conta no banco não parece importante
Economia

Quando a falta de uma conta no banco não parece importante

Pouca informação e mercado de trabalho informal
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PAULO ROGER passou a constar no sistema financeiro após se cadastrar no auxílio emergencial (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR PAULO ROGER passou a constar no sistema financeiro após se cadastrar no auxílio emergencial

Aos 16 anos, o comerciante Paulo Roger Saraiva, hoje com 29 anos, começou o primeiro de muitos empregos informais que teve ao longo de quase uma década e meia de trabalho. Neste período, foi servente, jardineiro, auxiliar de carpinteiro, manobrista "e tudo quanto é bico que aparecia". A remuneração destes serviços passava das mãos dos patrões diretamente para as do Paulo.

"Eles marcavam o dia, a gente pegava o salário e ia embora", lembra. Uma informalidade que o empurrou para a desbancarização. O dinheiro ia para a carteira, depois para pagar os boletos e logo acabava. Ocorreu, porém, a interrupção deste ciclo há dois anos e meio, quando conseguiu trabalhou de carteira assinada e teve uma conta salário aberta pelo empregador. "Mas saí do emprego e não tenho faz mais de um ano", conta.

Novamente desbancarizado, Paulo passou a constar no sistema financeiro mais uma vez, somente em abril, ao se cadastrar para receber o auxílio emergencial do Governo Federal, à época de R$ 600. "Nunca foi um problema para mim não ter conta, mas eu até que sentia falta de guardar um dinheirinho. Agora, com essa pandemia, não deu para guardar foi nada", afirma.

Com o isolamento social, o carrinho de tapioca do Paulo, estabelecido em uma esquina do bairro Aldeota, em Fortaleza, passou a receber cada vez menos clientes. Ele precisou parar de ir. Com a renda apenas do auxílio, entregou a casa alugada e passou a morar com a família de um amigo, dividindo as despesas.

"Eu não consegui mais pagar o aluguel e tive que debandar", relata. Ele voltou a vender lanches quando houve a flexibilização das atividades econômicas, mas a renda continua reduzida. "Eu vendia de 6 kg a 7 kg de goma por dia. Hoje, vendo dois ou três, estourando", lamenta.

Uma realidade ainda mais difícil que deixou para trás os planos de melhorar o negócio. "Antigamente, eu pensava em passar cartão, só que precisaria ter uma conta de novo, né? Mas, do jeito que as coisas estão, não adianta. Agora só se a situação melhorar".

Questionando sobre o custo do serviço ser um impeditivo para abertura de uma conta, Paulo diz que suas únicas experiências foram boas, pois não havia pagamento de taxas e, portanto, desconhece como funcionam as demais operações.

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