A realização de eventos considerados superdisseminadores em Fortaleza preocupa. Se não forem tomadas as devidas precauções para evitar o contágio — inclusive, determinadas em decreto estadual —, o funcionamento de restaurantes e barracas de praia pode conter os elementos para transmissão acima da média em curto período de tempo. São eles, principalmente, espaços fechados com ventilação precária, contato próximo entre as pessoas e não uso de máscara. Apesar de proibidas, festas e eventos sociais e corporativos tem sido observadas tanto em estabelecimentos como em residências.
Desde o último dia 11, a Operação Fim de Ano Seguro, do Governo do Estado, tem intensificado as ações de fiscalização nos estabelecimentos, com base nos decretos estaduais de prevenção e controle da Covid-19.
Conforme Robério Leite, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e infectologista pediátrico do Hospital São José de Doenças Infecciosas, eventos preocupantes são uma combinação de espaço de pouca aeração e possibilidade de aproximação maior das pessoas.
"A taxa de transmissão do vírus é em função desses fatores. Você não consegue distanciamento e fica mais fácil a transmissão. No próprio ar que não circula ou nas superfícies que não são higienizadas com frequência", explica. O fato de as pessoas provavelmente beberem também resulta em maior relaxamento da utilização das máscaras e da higienização das mãos.
O aumento de casos registrado desde meados de outubro foi puxado exatamente por eventos nessas condições na Capital, segundo informações da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). No Estado, 40% dos novos casos registrados entre outubro e dezembro são de pessoas entre 15 e 34 anos. "Esse é um ponto mais grave. Esses jovens que frequentam e não têm cuidado podem transmitir para pessoas próximas vulneráveis, como pais e avós. São pessoas no mercado de trabalho, ativas, que têm grande chance de infectar outros pelo maior número de contatos, maior liberdade de circulação", detalha o infectologista.
"É mais preocupante ainda porque não sabemos se temos uma variante do vírus com maior possibilidade de transmissão, não que seja mais agressivo. Isso tem sido monitorado e, se chegar, temos um complicador a mais. Isso vai impactar também na efetividade da vacinação. Com um vírus que se transmite mais, a taxa de adesão à vacinação vai ter que ser bem maior para se conseguir uma imunidade coletiva", acrescenta Robério.
No último sábado, 26, dois estabelecimentos foram autuados e um foi interditado durante ação da Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde realizada em barracas da Praia do Náutico e em restaurantes da Beira Mar. Na madrugada de sábado, houve registro de uma grande multidão dançando, bebendo, sem máscara e sem distanciamento em área do bairro João XXIII. No local, foram relatados ainda tiros durante a madrugada.
Hoje, o balanço de empreendimentos autuados, multados e advertidos pelo órgão estadual e pela Agência de Fiscalização Municipal (Agefis) deve ser publicado.
Ceará chegou a 327.982 casos confirmados de Covid-19 e 9.952 óbitos provocados pela doença. As informações da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), foram atualizadas ontem, 27, às 16h31min. Desde o dia 24, véspera de Natal, não há registro oficial de novos óbitos pela infecção, conforme a plataforma. Há ainda 265.528 pessoas que se recuperaram da patologia e 38.331 casos em investigação no Ceará.
Riscos e cuidados
Eventos super-disseminadores
- Ambientes fechados ou sem ventilação
- Aglomerações
- Contato próximo entre os participantes
- Uso limitado ou nenhum de máscaras
Recomendações
- Uso de máscara por todos, retirando-a apenas na hora de comer ou beber
- Manter o distanciamento de dois metros
- Higienizar constantemente as mãos com água e sabão ou álcool em gel
- Promover reuniões, preferencialmente, com o núcleo familiar e com quantitativo máximo de 15 pessoas
- Optar por locais abertos ou amplos, com ventilação natural