Clínicas de vacinação particulares entraram na corrida para ofertar vacinas contra a Covid-19 e pelo menos três estabelecimentos no Ceará devem ter doses ainda em 2021. A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) comunicou ontem, 4, que negocia 5 milhões de doses da vacina a ser produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech. No Ceará, as três clínicas associadas à ABCVAC são: Dra. Núbia Jacó e Previne Clínica de Vacinação, ambas em Fortaleza, e Vivat, em Sobral.
 Chamada Covaxin, a vacina produzida na Índia obteve, no último sábado, 2, recomendação para seu uso emergencial pelas autoridades da Índia e precisa de duas doses para provocar uma resposta imunizante. Por meio de nota, o presidente da ABCVAC, Geraldo Barbosa, afirmou que assinou com a farmacêutica indiana um Memorando de Entendimento para que as 200 associadas tenham prioridade na aquisição. As clínicas ligadas à entidade representam 70% do mercado nacional.
"Inicialmente a notícia era de que as clínicas privadas brasileiras não teriam doses disponíveis, porém, com a entrada desse novo player no mercado, tivemos a oportunidade de negociação. Estamos muito felizes em ter a chance real de contribuir com o governo na cobertura vacinal", disse Geraldo.
Segundo as clínicas cearenses, não existe prazo certo para liberação da vacina no Brasil e oferta delas aos pacientes, mas a previsão mais otimista é que ocorra a partir de abril e a mais realista entre junho e julho deste ano. No entanto, desde ontem a procura de pessoas querendo reservar doses nas clínicas particulares já iniciou.
A proprietária e responsável técnica da clínica de vacinação Vivat, Ellana Ribeiro, diz que após o anúncio da negociação com o fornecedor indiano, moradores da região de Sobral já buscam por reservar doses do imunizante, o que não deve acontecer, segundo ela. A prioridade será imunizar grupos a partir de ordem que consta em plano nacional de vacinação do Ministério da Saúde.
Ellana conta que ainda não há definição sobre como será a distribuição de doses no País. Certo é que as 5 milhões de doses beneficiarão 2,5 milhões de usuários do sistema privado. "Claro que para uso no Brasil passará por todo processo de certificação. E a clínica está atenta a isso. Quanto mais rapidamente conseguirmos vacinar a população, melhor será", diz.
Já o diretor médico da Clínica de Vacinação Dra. Núbia Jacó, João Cláudio Jacó, esclarece que as doses negociadas pela ABCVAC são um quantitativo bem menor do que a demanda, mas espera que ao longo de 2021 negociações com outros laboratórios avancem. Ele ainda ressalta o caráter suplementar do trabalho dos entes privados, reconhecendo a centralidade do sistema público no trabalho de imunização.
"Não sabemos ainda como seria a distribuição, o critério de distribuição entre os associados ou a quantidade de doses para as clínicas cearenses, por isso fica difícil definir prazos. (Mas,) Na medida em que temos a perspectiva de mais grupos imunizados, teremos mais pessoas protegidas", analisa.
Outra clínica de vacinação que corre para conseguir o imunizante indiano é a Unimed Vacinas, clínica de imunização da Unimed Fortaleza. Ao O POVO, informou que "está em contato com a ABCVAC e tem interesse em adquirir vacinas", mas não possui nenhum contrato firmado para aquisição. Procurado, o Hapvida informou que não está negociando com nenhuma farmacêutica para ofertar vacinação própria contra a Covid-19.
Quem também está de olho no avanço dos planos de vacinação e aprovações de vacinas são as farmácias. A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) já colocou as associadas à disposição para ofertar as estruturas e profissionais das associadas para aplicação de vacinas.
O projeto propõe utilizar 4.573 salas já instaladas em todo o território nacional, que juntas têm potencial de 365.840 aplicações diárias e até 2,195 milhões de doses por semana.
Status das vacinas
SINOVAC / BUTANTAN: Em preparação para liberação de lotes de vacinas. A reunião de planejamento foi realizada e a documentação preparatória parcial entregue. Ainda não entregou os resultados da Fase 3 de testes.
PFIZER: Em preparação para liberação de lotes de vacinas. A reunião de planejamento da submissão de documentos foi realizada. Dados primários sobre os resultados da Fase 3 foram entregues em 15/12/2020 e estão em análise.
ASTRAZENECA / FIOCRUZ: Em preparação para liberação de lotes de vacinas. A reunião de planejamento foi realizada e a documentação preparatória parcial entregue. Os resultados-chave parciais da Fase 3 foram entregues no dia 22/12/2020, com dados sobre eficácia e segurança. No entanto, o pedido de uso emergencial não foi feito oficialmente.
VACINAÇÃO NO BRASIL
No cenário mais otimista, o governo federal quer começar a campanha em 20 de janeiro. A ideia é vacinar no primeiro semestre de 2021 grupos prioritários, que somam 49,6 milhões de pessoas, como profissionais de saúde e idosos. Essa etapa deve durar quatro meses. O restante da população, segundo o plano nacional, será imunizado nos 12 meses seguintes.
Fonte: Anvisa
Vacina indiana ainda precisa apresentar resultados para ser aprovada
A vacina Covaxin fabricada na Índia pela Bharat Biotech ainda não tem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser distribuída no Brasil. A liberação do órgão envolve diversas etapas até o registro e outras informações de vacinas contra Covid-19. O processo estabelecido pela agência envolve a observação de possíveis reações adversas, a fase de avaliação de qualidade, a certificação de boas práticas de fabricação, o pedido de uso emergencial, o pedido de registro e o monitoramento do plano de gerenciamento de risco.
A tecnologia da Covaxin é a do vírus inativo, e permite que o acondicionamento da vacina seja realizado entre 2° e 8°C. A previsão é que seja lançada no mercado em fevereiro de 2021, e a projeção é que a validade contra a Covid-19 seja de 24 meses.
A Bharat Biotech está desenvolvendo a vacina Covaxin em colaboração com o Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR). Em nota, a farmacêutica disse que iniciou procedimentos junto à Anvisa para "submissão contínua" dos resultados. Não há nada acertado ainda com a agência. Por esse caminho, a empresa deve apresentar os dados das pesquisas em etapas, mesmo antes de finalizar todos os estudos. A Bharat Biotech precisa também trazer estudos clínicos ao Brasil para usar a submissão contínua, o que não foi ainda sinalizado para a Anvisa. Só quatro laboratórios (AstraZeneca, Butantan, Janssen e Pfizer/BioNtech) aderiram a esse modelo de entrega de documentos.
Segundo apuração da BBC, o imunizante alvo das clínicas particulares recebeu críticas após aprovação apressada na Índia, antes da conclusão dos testes da terceira fase. A vacina ainda não foi aprovada em qualquer outro país além da Índia. (Com Agência Estado)
PROJEÇÃO
A ABCVAC diz que o laboratório indiano também tem capacidade de atender o SUS. Há memorando de entendimento não vinculante assinado entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica. A aposta do governo federal é a vacina da Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca, que será fabricada e distribuída no Brasil pela Fiocruz.