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PIB retrai 4,1% e registra o terceiro pior resultado da história do Brasil
Economia

PIB retrai 4,1% e registra o terceiro pior resultado da história do Brasil

Essa foi a maior queda anual desde que o levantamento passou a ser realizado pelo IBGE, em 1996. A produção de riquezas no País regride ao patamar do início de 2019
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 O fechamento da economia na maior parte do primeiro semestre de 2020, aliado ao fato de a pandemia nunca ter deixado de impactar as atividades econômicas, levou ao pior resultado de PIB dos últimos 24 anos (Foto: BÁRBARA MOIRA)
Foto: BÁRBARA MOIRA  O fechamento da economia na maior parte do primeiro semestre de 2020, aliado ao fato de a pandemia nunca ter deixado de impactar as atividades econômicas, levou ao pior resultado de PIB dos últimos 24 anos

Puxado pelas quedas dos setores de serviços (-4,5%) e indústria (-3,5%), o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020 foi de retração de 4,1%, o terceiro pior da história do País (somente atrás das quedas de 1990 e 1981). Fortemente impactado pela pandemia que fez com que os resultados do primeiro semestre prejudicassem a média final, a produção de riquezas no pior teve o seu pior resultado desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a realizar o levantamento, em 1996.

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O desempenho de 2020 pôs fim a uma sequência de três anos de crescimento médio de 1% e superou a maior marca negativa anterior, registrada em 2015, quando o PIB retraiu 3,25%. Em 2020, o único segmento da economia a apresentar saldo positivo foi o agronegócio, com crescimento de 2% no ano. Ou seja: a forte retração do PIB nacional fez com que a economia brasileira retrocedesse ao mesmo patamar do início de 2019.

"Não voltamos ao patamar pré-pandemia. Ainda está como se fosse no final de 2018, começo de 2019, ou seja, 1,2% abaixo do período pré pandemia", esclarece a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Ela analisa que a incerteza sobre a economia afetou o País desde a retomada das atividades no ano passado, o que fez com que o índice pré-pandemia não fosse alcançado. "Mesmo quando começou a flexibilização do distanciamento social, muitas pessoas permaneceram receosas de consumir, principalmente os serviços que podem provocar aglomeração", completa.

Representando 95% da produção de riquezas no País, as retrações nos setores de serviços e indústrias são as mais sentidas. Serviços como alimentação fora lar, academias, bares e hotéis registraram a maior queda do setor, com 12,1% de retração no faturamento. Já as indústrias de transformação tiveram queda de 4,3%, puxadas principalmente pelo recuo na fabricação de veículos. O PIB per capita, isto é, a divisão das riquezas do país frente a população total, também apresentou recuo recorde de 4,8%, fechando o ano com patamar de R$ 35.172.

Recuperação no último semestre

João Beck, economista e sócio da BRA, analisa que o que há de positivo nos dados divulgados pelo IBGE fica por conta do desempenho da economia no segundo semestre. Após um crescimento de 7,7% no terceiro trimestre, o quarto trimestre teve um resultado até mais forte do que era o esperado, consolidando naquele momento um processo positivo de recuperação.

"No quarto trimestre, o crescimento do consumo das famílias e da indústria ainda se apoia por resultado do auxílio emergencial, mas também por alguma retomada leve e gradual na economia, além de uma ajuda do dólar mais alto", explica.

Para Beck, o controle da pandemia e a vacinação são cruciais para a retomada econômica e o Brasil tem tido um desempenho ruim nessa área, visto que o aumento de casos já prejudica novamente a economia de forma sensível, com diversos setores econômicos ao redor do País regredindo sua atividade a níveis similares ao pior momento do ano passado. (Colaborou Alan Magno / Especial para O POVO)

Consumo das famílias em 2020 é o menor em 24 anos

Como reflexo do índice recorde de desemprego, da incerteza política e econômica agravadas pela pandemia de Covid-19 e da inflação elevada, as famílias brasileiras tiveram uma redução significativa no poder de consumo, com queda de 5,5% em 2020. Esse foi o menor índice registrado em 24 anos.

A informação foi divulgada ontem, 3, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e representa o pior cenário registrado desde o início do monitoramento em 1996. Após três anos de crescimento anual de 2%, a queda no consumo dos lares brasileiros em 2020 superou os índices negativos registrados em 2017 e 2018, quando os cidadão retraíram os gastos em 3,2% e 3,8% respectivamente.

O resultado é acompanhado pela mais grave retração no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que despencou 4,1% em 2020, após três anos de crescimento anual médio de 1%. Frente ao cenário de quedas históricas, no âmbito federal, o consumo por parte do governo também apresentou uma redução significativa de 4,7% após dois anos de elevação.

Enquanto o desemprego afeta cerca de 13,4 milhões de brasileiros, estando 5,5 milhões sem qualquer expectativa de se inserir no mercado de trabalho, segundo o IBGE, o saldo de investimentos no País também caiu. A estimativa é de que a Formação Bruta de Capital Fixo teve recuo de 0,8%.

Com relação ao consumo e possibilidades do surgimento de postos de trabalho, o cenário não se apresenta como animador. A pesquisa feita pelo IBGE expressou que a balança de bens e serviços registrou queda de 10% nas importações e 1,8% nas exportações de bens e serviços.

A redução no consumo em 2020 foi acompanhada por baixos valores da renda domiciliar per capita, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgados no dia 26 de fevereiro. No ano passado, de acordo com levantamento do IBGE, o valor nacional de renda por pessoa chegou ao patamar de R$ 1.380. Porém, em 11 estados do Brasil, a média de renda por pessoa se encontrava abaixo do salário mínimo, como no Ceará, onde a renda média por domicílio em 2020 foi de R$1.028. (Alan Magno/ Especial para O POVO)

Mais afetados

Serviços como alimentação fora do lar, academias, bares e hotéis registraram a maior queda do setor, com 12,1% de retração no faturamento.

O Brasil frente ao resto do mundo

O resultado do PIB nacional fez o Brasil deixar o ranking das 10 maiores economias do mundo. O País ficou em 21º lugar em um ranking de crescimento econômico de 50 países em 2020, segundo a agência de classificação de risco Austin Rating. Isso fez com que Rússia, Coreia do Sul e Canadá ultrapassassem a nossa economia.

Mesmo com a estimativa de que o Brasil ainda desça ao 14º lugar entre as maiores economias do mundo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) avaliou a forte retração como uma queda menor do que a esperada. "Se esperava que a gente ia cair 10%, né? Parece que caímos 4%. É um dos países que menos caiu no mundo todo, então tem esse lado positivo."

Para Bolsonaro a queda do PIB só não foi maior devido à movimentação da economia gerada pelo auxílio emergencial. "Esse dinheiro, quando vai para os municípios, roda a economia local, que interfere na arrecadação de impostos municipais, estaduais e federais também."

A avaliação da Austin Ratings, no entanto, produz outros efeitos no mercado. Já ressentido pelas recentes interferências políticas na Petrobras, os investidores observam com maior cautela a economia brasileira na hora de investir. Rossano Oltramari, estrategista e sócio da 051 Capital, gestora especializada em alocação de recursos e planejamento patrimonial, avalia que, para o investidor, o cenário é difícil para tomada de decisões, ainda mais com a recente intervenção do governo na Petrobras. "Para quem toma decisão de investimento, o cenário é péssimo. Incerteza é a pior coisa para o investidor, e estamos vivendo isso."

Segundo Oltramari, é fundamental que o investidor tenha muita cautela nesse momento de tantas incertezas. "Na bolsa, ações de empresas boas caíram fortemente nas últimas duas semanas nos setores de construção civil, varejo e saúde, o que pode ser uma oportunidade. Mas o risco também aumentou. O investidor pessoa física tem que ter muita cautela."

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