A alta nos preços de insumos para a construção, especialmente o aço, ameaça o ritmo do setor que vem promissor desde pós-lockdown do ano passado. Mesma época em que os materiais usados nos canteiros tiveram os preços elevados, em um movimento que já ultrapassa os 100% quando comparado a janeiro de 2020. Como alternativa, construtoras cearenses estão estudando comprar aço dos mercados chinês e turco para atenuar o impacto do aumento nos custos das obras.
"Eu não consigo acreditar que os custos dobraram para aumentar o preço do aço. Então, a gente achava que ia ceder, aguentou algumas oscilações, mas estamos muito preocupados com isso. Temos reuniões diárias falando sobre isso e como a gente vai repor", revela Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Ceará (Sinduscon-CE).
Dias rechaça a interferência do mercado internacional nos preços, uma vez que "o aço é local, moldado e produzido aqui, e mesmo que fosse por causa do dólar, o dólar não dobrou de um ano para cá". O problema persiste desde a retomada, mas se agravou no início de março.
Tanto é que o presidente do Sinduscon-CE destaca que os associados dele, assim como todos os membros da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), estão cotando preços no exterior, precisamente na China. O objetivo é conseguir preços mais vantajosos e que não atrapalhem o desempenho do setor.
Já Sérgio Macêdo, presidente da Cooperativa da Construção Civil do Estado do Ceará (Coopercon-CE), está, juntamente com as demais cooperativas do País, de olho no aço vendido pela Turquia. A organização se deu, principalmente, pela falta de diálogo para debater preço, segundo lamenta.
"Nenhuma delas (indústrias de aço brasileiras) quer participar de rodadas de negociações. Estamos negociando a nível nacional, com as cooperativas de todo Brasil para conseguir uma solução, para ter condições de trabalhar com aço", conta, ainda sem entender o aumento operado nos preços dos insumos.
"A siderurgia daqui (Brasil) trabalha muito com sucata e começou a faltar material por causa do lockdown (de 2020). Depois seguraram o preço alto e eu não acho que isso seja justificável. Nada justifica esse valor", critica.
Sobre os impactos dos preços de insumos cada vez mais caros, os dois líderes da construção cearense mantém o otimismo visto nas últimas semanas, quando o setor ficou fora do lockdown decretado pelo Governo do Estado para segurar a contaminação por Covid-19. E ambos justificam a compra de materiais no exterior como uma forma de tentar segurar os valores dos produtos finais, ou seja, os imóveis.
Na avaliação de Macêdo, o mercado ainda enxerga "uma demanda muito grande por imóveis", mas um repasse de preços é descartado no momento. Ele observa ainda que o público de maior demanda ainda está dentro dos parâmetros do Minha Casa, Minha Vida, interessado em unidades cujo valor médio giram em torno de R$ 190 mil e um aumento dos preços poderia prejudicar os consumidores e as construtoras - ambos cada vez mais cautelosos.
"Não tenho como repassar preço. O que temos de fazer é assimilar custo. No momento não tem como repassar um valor desse. Passamos cinco de anos de crise", reforça.
Pensamento compartilhado pelo presidente do Sinduscon-CE: "Se os preços dos insumos persistirem, vamos ter que passar para o preço do imóvel. Porém, eu não sei se é viável, se a população vai ter como absorver. Esse é justamente o impasse que estamos vivendo e estamos angustiados. Acho que gente não consegue, a população não dobrou os ganhos, não é? A renda não dobrou. E aí? Como que fecha essa conta?"
O instituo Aço Brasil, que representa a indústria do aço no País, respondeu ao O POVO em nota que, "por força estatutária e em respeito às regras de compliance", "não comenta preço". No entanto, acrescentou: "Questões relacionadas a esse tema dizem respeito à relação comercial mantida entre fornecedor e cliente. No entanto, cabe mencionar que, ao acompanhar os índices de preço oficiais, constata-se (sic) fenômeno que vem acontecendo no Brasil e no mundo. É o chamado novo ciclo das comodities / boom de comodities que vem elevando de forma expressiva o preço das matérias primas e insumos que compõem o processo produtivo do aço e de outros elos da indústria de transformação".