A empresária Luiza Helena Trajano conversou com O POVO no feriado de São José, 19, - dia em que também tomou sua primeira dose de vacina contra a Covid-19 -, sobre o andamento do Unidos pela Vacina. O movimento, encabeçado pela presidente do Conselho Administrativo do Magazine Luiza e lançado em 8 de fevereiro deste ano, já conta com a participação de 4.400 municípios do País no preenchimento de pesquisa sobre as necessidades que têm para a correta execução da vacinação contra o coronavírus. No Ceará, 149 cidades já registraram suas realidades junto ao Instituto Locomotiva, responsável por catalogar os pontos carentes de apoio sinalizados pelos municípios.
Os planos de Luiza, assim como do Unidos pela Vacina, é o de fincar o movimento como o "maior grupo político apartidário do Brasil".
O POVO - Como estamos dentro da expectativa, anunciada pelo "Unidos pela Vacina", de chegarmos a vacinar toda a população que precisa ser vacinada até setembro deste ano?
Luiza Trajano - A gente tem trabalhado muito. Estamos com várias frentes. Temos uma frente junto ao governo federal, o Ministério da Saúde, tentando ajudá-los a trazer as vacinas mais rápido. Temos que saber que só quem pode comprar é o governo federal até 70% da população ser vacinada. Nós temos grupos com os governos estaduais. Cada estado tem um representante do Unidos pela Vacina que é um empresário do Mulheres do Brasil. Temos um grupo junto à logística. Temos um grupo com conexões que está ligando quem quer dar e para onde dar. Temos grupos fortes nas prefeituras. Estamos agora com 4.400 prefeituras com questionários já respondidos para o (Instituto) Locomotiva que mostra o que cada município desse País tá precisando.
OP - Quais são as principais necessidades apontadas pelos municípios?
Luiza - Nós temos uma cultura de vacinação espetacular. Mas todo mundo quer vacinar junto. Graças a Deus mais de 90% da população brasileira quer se vacinar. E as pessoas ficam ansiosas. Então é local pra vacinar (nos municípios), é geladeira pra guardar a vacina, é caixa térmica que muitas vezes tem que carregar pra outro posto. É ar-condicionado porque tem que ter uma temperatura para aguentar. É tudo que você pensar. São muitos Wi-Fis. É diverso. Temos uma equipe que está fazendo esse questionário ser respondido. A Locomotiva extrai os dados e manda e a gente cruza com os doadores, que não só vão dar o que precisa como vão apadrinhar aquela localidade. (Então) não é só comprar as coisas, é ir lá e ver se instalou ou não instalou, é ver a cobertura.
OP - Esse apadrinhamento já está acontecendo efetivamente?
Luiza - Já. Desde o começo a gente começou a desenvolver algumas cidades. Tipo o Rio de Janeiro, a gente já tem dez postos apadrinhados, e umas cidades pequenas de Minas (Gerais), duas ou três, até pra mostrar como a gente faz com o secretário, com a cidade. Com 4.400 cadastrados, a gente já tá cruzando tudo, e as pessoas estão se oferecendo em cada estado. A gente tem um empresário, uma mulher do Brasil pra tomar conta daquele estado.
OP - No Ceará o que temos de municípios que responderam à pesquisa?
Luiza - Nós temos um grupo forte do Mulheres do Brasil, coordenado pela Annette (de Castro) e nós estamos com uma cidade desenvolvendo pra que possa servir de modelo (A cidade é Maranguape). Agora a gente sabe que o Ceará está passando um momento difícil com o próprio Covid, que está faltando coisas, como em todo o Brasil. O Mulheres do Brasil está vendo o que fazer pra acudir também. (No Ceará) faltam só 39 pra responder (de 184 municípios).
OP - Que outras ações do Mulheres do Brasil estão acontecendo?
Luiza - O grupo Mulheres do Brasil já tem oito anos e a gente tem 21 causas. Tudo que você pensar nós temos dividido em comitês. A gente tem causas das mulheres, (como contra) a violência, temos causas para deficientes, para igualdade racial, temos causas de cultura, de educação. Já estamos em todas as capitais do Brasil e já estamos em todos os continentes. Nós já temos mais de 82 mil mulheres e devemos chegar a 100 mil até maio. O que a gente quer ser: o maior grupo político apartidário do Brasil. Por isso, o que a gente tem como lema: não somos contra os homens, somos a favor das mulheres. A gente não inventa a roda. A gente não cria outro ( projeto). A gente apoia a Maria da Penha, Patrícia Galvão; em educação, o Todos pela Educação. Então a gente quer juntar, para que a gente possa ter um planejamento estratégico de quatro, cinco coisas para os próximos dez anos no Brasil. Mas, para isso, faz oito anos que trabalhamos. E, agora, dentro do nosso comitê de saúde, a gente resolveu assumir essa causa tão nobre que a gente fica até com vergonha de não ter assumido antes. Porque só a vacina cura nesse momento, tanto a economia como (os doentes). A gente vendo esse mundo de mortes, é muito triste, quase duas mil mortes por dia, e o Brasil com todos os leitos lotados, sem UTIs. Sem falar de todo o desemprego.
OP - O engajamento ao Unidos pela Vacina tem sido acima do esperado?
Luiza - Eu nunca esperava nem o tamanho que ficou o movimento, nem o tamanho do apoio. É ajuda de tudo que é lado. É de consultoria, de tecnologia, é de agências de publicidade, de filmagem, de conteúdo, de transporte. Até (oferta) do tipo (de dizerem): "Eu tenho um navio com condicionamento para transportar (vacinas)". São empresas oferecendo caminhões. É impressionante. E é importante dizer que a gente não aponta o dedo para quem errou ou para o que tinha que ser feito. O nosso momento é daqui pra frente.
OP - Qual deve ser a postura das empresas nesse momento?
Luiza - Primeiro elas precisam entender que não podem comprar vacina. Isso é um programa mundial. Enquanto 60%, 70% (da população a ser vacinada) não for vacinada. Essa é uma lei mundial. Não adianta vacinar meus funcionários e deixar eles nos ônibus com a população sem vacinar. Quem compra até 60% ou 70% dos imunizantes é o governo federal e ele tem dinheiro para comprar. O que nós precisamos é fazer chegar a vacina e nós temos dois institutos muito bons: o Butantan e Fiocruz. Muitas vezes faltaram algumas coisas nas relações aí. Depois isso vai ficar normal, igual nós fazemos com todas as vacinas.
OP - Como avalia o cumprimento e a compreensão da população quanto às medidas de isolamento social?
Luiza - Eu acho que é o seguinte. Um ano de vai e volta é muito cansativo. Primeiro existe um desgaste e segundo (tem) um efeito na economia. Agora nós que estamos envolvidos, quando chega num pico, que as pessoas se soltaram um pouquinho, se aglomeraram, não usaram máscara, e ainda vem um novo vírus, não tem outra alternativa. O único exemplo de país no mundo que chega nesse pico, que os hospitais tão cheios, não tem onde mais botar gente, que tá morrendo gente no caminho (para os hospitais). Não tem outra forma que não o isolamento. É ruim, é triste, estamos com quase 800 lojas fechadas (referência para a realidade do Magazine Luiza), mas a gente estudou e sabe que não tem outra forma. Nesse abre e fecha, a vacina é a única alternativa para vencermos esse vírus, que é o único inimigo que nós temos.
OP - Olhando daqui pra frente, o que ainda é visto como possível pelo Unidos pela Vacina quanto ao processo de imunizar as pessoas no Brasil?
Luiza - A gente tá acreditando, lutando, indo atrás de conseguir chegar até setembro com uma quantidade grande de vacinas dadas. Hoje (no dia 19 de março) eu tomei a vacina, chegou a minha vez. Na fila, eu não estava tão emocionada, mas quando eu cheguei e vi. Uma dosezinha dessa salva tantas vidas. Senti muito peso de se eu não tivesse lutado, voltar pra casa e só saber que eu tomei a vacina, quando só uma parte pequena da população tomou. Mas se setembro chegar (sem alcançar a vacinação desejada), a gente tem certeza que vai ter deixado postos (de saúde) melhores e que nós lutamos para ter mais. Eu convoco, assim, todo mundo a lutar. Sem briga, sem fanatismo. Cada um pode pegar a sua cidade e se voluntariar a ajudar. Não espalhando fakes, não gerando mais ódio.