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‘Valor vai todo na mercearia’: a realidade de quem espera o auxílio
Economia

‘Valor vai todo na mercearia’: a realidade de quem espera o auxílio

Custo de vida
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A diarista Fátima Maria Rodrigues, de 55 anos, sustenta sozinha três filhos, um dos quais com idade inferior a 18 anos, em uma casa na qual vivem no bairro Montese, em Fortaleza. Ela se enquadra no critério de quem vai receber R$ 375, o maior valor a ser pago na nova rodada do auxílio emergencial e vê com otimismo cauteloso a previsão de receber uma quantia inferior a que teve benefício em 2020.

"Esse valor, vai dar para ajudar alguma coisa. É uma ajudinha, de qualquer maneira, que a gente não vinha tendo esses meses. Mas é um valor que a gente vai na mercearia e deixa todinho praticamente lá. O Governo dá esse ajuda, mas as coisas estão com os preços lá em cima. Não dá para nada! Nesse instante, meu filho ligou para mim e me perguntou o que eu tinha deixado para a merenda e eu disse: meu filho, eu não deixei nada porque eu não tinha dinheiro", relata com a naturalidade de quem já enfrentou inúmeras dificuldades na vida.

De fato, segundo a última Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgada no início do mês passado, o preço médio da cesta básica na capital cearense chega a R$ 523,46. Em cidades como Florianópolis, em Santa Catarina, onde o item custa em média R$ 639,81, a discrepância entre os valores pagos de auxílio emergencial é ainda maior.

Apesar disso, segundo Vitor Hugo Miro Couto Silva, coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza da UFC, um dos méritos da nova formatação do benefício é o foco nas mulheres chefes de família. "É algo bastante válido, quando você tem um único provedor de renda naquele domicílio", ressalta. Ele pondera, contudo, que ainda mais importante para atenuar os efeitos da extrema pobreza é direcionar esse tipo de política para famílias com crianças.

"Na literatura de pobreza, já existe um consenso de que famílias com crianças são as que prevalecem entre as mais vulneráveis até porque as crianças consomem bem, mas não provêm e não devem mesmo prover renda", argumenta.

 

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