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Primeira semana de retomada do comércio é marcada por movimento fraco, mas esperado
Economia

Primeira semana de retomada do comércio é marcada por movimento fraco, mas esperado

Lojistas que conversaram com O POVO dizem que poucos são os clientes que estão com apetite de compras. Maioria vai aos centros comerciais para pagar faturas e crediários
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Casa Pio faz liquidações para tentar atrair mais clientes (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Casa Pio faz liquidações para tentar atrair mais clientes

Nesta sexta-feira, 16, chega ao fim a primeira semana de retomada das atividades econômicas consideradas não essenciais pelo plano de volta do Governo do Estado. Ainda com ritmo de contaminação e mortes em alta devido à Covid-19, a avaliação dos lojistas é que as vendas foram fracas nesta primeira semana, mas o resultado passa longe de ser uma surpresa. Sem o auxílio emergencial nos moldes da retomada em 2020, o orçamento das famílias está mais do que apertado. Nos principais centros comerciais de Fortaleza, a maior demanda foi mesmo por serviços de pagamentos de faturas e crediários nas lojas, além de compras pontuais.

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Entre os lojistas, o momento em que o cliente vem ao centro comercial para pagar a fatura ou carnê do crediário é visto como uma oportunidade. Com promoções agressivas e vendedores ativos em cativar o passante, eles esperam movimentar as mercadorias do estoque. O subgerente da Casa Pio no cruzamento da rua Senador Pompeu com Guilherme Rocha, Luis Henrique Marianno, destaca que muitas pessoas passam pela loja ao longo do dia, olhando os preços e produtos, mas percebe eles receosos em gastar.

Bem diferente do ano passado, em que as lojas observaram grande apetite dos consumidores pelas compras no varejo, num momento em que a primeira rodada de auxílio emergencial de R$ 600 demonstrava sua importância em ativar a atividade econômica do País, observa o gestor. "Ainda não sabemos se tudo vai continuar aberto por muito mais tempo, então as pessoas estão se segurando ainda. Já estamos fazendo megaliquidação, a diretoria mandou baixar os preços. Nosso crediário é o carro-chefe, com 90% das vendas, e quando eles vêm pagar veem as ofertas e aproveitam para comprar também."

Desaquecimento apesar das ofertas

Apesar do esforço, a maioria dos lojistas que conversaram com O POVO revelam que a semana foi aquém do esperado na comparação com a retomada do ano passado. "As pessoas estão sem dinheiro para gastar em compras", diz a maior parte deles, reconhecendo que a prioridade da maioria é com a alimentação. Uma mulher que olhava uma vitrine de loja no Centro foi abordada pela reportagem e, rapidamente, ela disse que só havia ido à loja para pagar uma fatura e já estava indo embora.

Um proprietário de uma loja de bijuterias no Centro que preferiu não se identificar, destaca que os meses de fevereiro, março e abril, já são normalmente mais fracos para o seu segmento. Aliado esse histórico à pandemia, em que as pessoas ainda estão muito receosas de sair de casa, além de estarem com o orçamento mais apertado, as vendas foram aquém da expectativa que já não era a mais positiva. Ele diz ainda que a esperança agora recai sobre o feriado do Dia das Mães.

Ações nos shoppings

Nos shoppings, a expectativa para o Dia das Mães é parecida e as ações já são preparadas. A rede Ancar Ivanhoe, por exemplo, preparam a promoção “Toda mãe merece um cuidado”, em que o cliente que juntar R$ 300 em compras em algum dos shoppings da rede no Estado leva um hidratante corporal Nativa Spa do Boticário, com 400ml, nas fragrâncias pitaya e verbena. As notas fiscais podem ser trocadas nos postos de troca, instalados em cada shopping, ou pelo app de smartphone de um dos quatro empreendimentos, por meio de QR Code. A promoção é válida de 28 de abril a 9 de maio, domingo de Dia das Mães.

Sobre a movimentação nesta semana, Wladson Melo, gerente comercial do North Shopping Jóquei, um dos shoppings da rede Ancar, destaca que a média de ocupação ficou entre 15% e 20% e foi marcada por clientes em busca de serviços, mas também a movimentação por compras foi focada especialmente nas lojas de eletros e eletrônicos. Reconhecidos espaços em que muitas pessoas iam para apenas passear, Wladson conta que vê esse perfil em menor quantidade, mas uma das estratégias do shopping é fazer com que o cliente que veio em busca de algum serviço, permaneça mais tempo nos corredores e se sinta instigado a consumir mais, seja em lojas ou praça de alimentação.

"Os consumidores não deixaram de comprar durante o isolamento, pois ampliamos todos os nossos serviços digitais, de delivery e drive thru, e os lojistas já estavam mais bem estruturados para o tipo de serviço. O cliente com necessidade de compra não precisou ficar esperando. Existem algumas operações que precisam de uma ação presencial, mas tudo está dentro da expectativa", completa.

No Centro Fashion, outro centro comercial com grande apelo popular na Cidade, a movimentação era pequena. Estabelecido no mercado local com funcionamento entre quarta-feira e domingo, recebendo grandes caravanas de outros estados, durante a pandemia a administração inovou e criou a Feira Digital, com canal de vendas online e delivery. Com a retomada, foi anunciada a mudança dos dias de funcionamento a partir de segunda-feira, 19, passando a funcionar de segunda a sexta-feira, das 12 horas às 18 horas.

Ainda de acordo com a administração do Centro Fashion, para a reabertura, o centro de compras aperfeiçoou o rigoroso protocolo de segurança já adotado desde 2020 com medidas de proteção visando preservar a saúde e bem-estar de clientes, sacoleiras, lojistas, colaboradores e parceiros. Quem aproveitou a reabertura para uma visita rápida para compra foi a engenheira de alimentos Mayra Garcia Maia Costa, 37. Ela conta que está organizando uma pequena comemoração de aniversário de um dos filhos. Levando na sacola uma fantasia infantil, diz que aquele gesto serve como um sinal de doçura para o dia das crianças, que em mais um ano terão um aniversário em isolamento.

"No nosso isolamento não estamos recebendo muitos familiares. Minha mãe, por exemplo, há vários meses que não a vejo. Tenho duas crianças em casa e há vários meses não compro roupas e, como vamos fazer um aniversário, mesmo simples, as crianças gostam de ter uma roupa diferente. Foi por eles que vim", destaca.

(Atualizado às 10 horas)

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SALÁRIO MÍNIMO

A proposta inicial de salário mínimo para 2022 é de R$ 1.147, anunciou ontem o Governo Federal. Mais uma vez o reajuste acontece sem aumento real. Os 4,3% de alta propostos pelo Ministério da Economia somente repõem a inflação prevista para este ano. Até agora, não houve aumento real do salário mínimo durante a gestão Bolsonaro.

AUXÍLIO LIBERADO

O governo começa a liberar a partir de hoje a nova rodada de auxílio emergencial para os beneficiários do Bolsa Família. Esse é o primeiro momento em que serão liberados recursos na boca dos caixas das agências.

FORTALEZA,CE, BRASIL, 15.04.2021:  Julio Martins, 35 ambulanteMovimentação no comércio na primeira semana da retomada pós lockdown.  centro de Fortaleza. (Fotos: Fabio Lima/O POVO).
FORTALEZA,CE, BRASIL, 15.04.2021: Julio Martins, 35 ambulanteMovimentação no comércio na primeira semana da retomada pós lockdown. centro de Fortaleza. (Fotos: Fabio Lima/O POVO).

Dinâmica como vendedor ambulante

Com sua banca de artigos para smartphones colocada na rua Guilherme Rocha, Júlio Martins, 35, conversou com a reportagem enquanto organizava suas mercadorias. Explica que as vendas permaneceram fracas durante toda semana. O lucro, detalha, serve para comprar seu almoço todos os dias, repor mercadorias, levar mantimentos para casa e pagar todos os meses o boleto da Prefeitura pela permissão de manter ponto ali, no valor de quase R$ 400.

Durante o período de lockdown, diz que se manteve realizando algumas vendas de casa mesmo, além de realizar alguns bicos. Perguntado sobre o auxílio emergencial, diz que não teve seu cadastro aprovado, tentou recorrer em dezembro, mas não conseguiu mesmo assim. "Ficar parado por mais de um mês sem auxílio foi muito difícil. Porque eu só tenho renda se trabalhar. E o que conseguia vender de casa, ficava só com os gastos de casa, não consegui repor mercadoria. Era só para comer mesmo. Agora voltou, mas está fraco porque muitas pessoas estão desempregadas, sem dinheiro", diz o vendedor autônomo do Centro.

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