A expectativa pela segunda dose (D2) da vacina de Maria Diógenes, 72, que estava pré-agendada para hoje, 28, deu lugar à frustração e à preocupação por parte de familiares. Ontem ela foi informada que não havia mais unidades da Coronavac em Missão Velha, a 508,5 km de Fortaleza, município onde mora. O problema também está ocorrendo em pelo menos outras duas cidades cearenses: Juazeiro do Norte e Horizonte. Na Capital, a prefeitura mudou a estratégia para aplicação da segunda dose.
"A primeira dose realmente é um sentimento de esperança. Somos uma família relativamente grande, e eles (Maria e Cícero Vasques, 82) estão no sítio exatamente para tentar se resguardar, fazer o isolamento social. A possibilidade de voltarmos a conviver com eles é uma alegria, mas essa ausência de vacina é uma ducha de água fria", lamenta o médico Paulo Vasques, 52, filho do casal.
A falta de novos lotes da vacina em Fortaleza fez a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) mudar a orientação anterior. Antes, se a data limite escrita a lápis no cartão chegasse e o agendamento não tivesse sido confirmado, a pessoa poderia dirigir-se aos postos de vacinação. A partir de hoje, 29, apenas quem constar nas listas divulgadas na véspera ou receber mensagem de confirmação deve comparecer a um deles. "Só teremos doses para os que estão agendados", frisa a secretária Ana Estela Leite.
Em Juazeiro do Norte, a 489,2 km da Capital, quem foi a postos de vacinação por drive-thru na manhã de ontem deparou-se com a falta de vacina para a D2 por volta das 9 horas. "Claro, houve muita confusão, porque tem uma população enorme para tomar a segunda dose e, infelizmente, ela não está disponível ainda", conta fonte ouvida pelo O POVO. No perfil oficial da prefeitura no Instagram, comentários de cidadãos questionam sobre prazos e soluções para quem voltou para casa sem a vacina.
Já em Horizonte, a 45 km da Capital, pelo menos 230 pessoas foram impactadas pela falta do imunizante. São idosos que estavam agendados para 23 e 24 de abril. De acordo com a secretária de Saúde do Município, Lúcia Gondim, o problema passa por duas questões: atrasos na produção da Coronavac e descompasso entre o número real de cidadãos e a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde para cada grupo.
Em nota, a Secretaria da Saúde de Juazeiro do Norte informou que 1.249 doses da Coronavac foram aplicadas nesta quarta-feira, 28, referentes à segunda dose de pessoas a partir de 65 anos. Para quem não foi vacinado ontem, a pasta explica que aguarda o recebimento de mais doses da Coronavac para realizar o reagendamento. O POVO procurou a assessoria do município de Missão Velha, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
O prazo entre as duas doses da Coronavac é de 28 dias. Magda Almeida, secretária Executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), afirma que não há problema caso o prazo tenha sido perdido e que a segunda dose deve ser tomada.
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Ontem, o Ministério da Saúde (MS) anunciou a distribuição de 104,8 mil doses da CoronaVac partir desta quinta-feira. Em publicação no Twitter, o governador Camilo Santana (PT) informou que ainda nesta semana o Ceará irá receber 3.800 doses do imunizante, além de 188.250 doses vacina da AstraZeneca. Além disso, hoje o País recebe o primeiro lote de vacinas da Pfizer, com 1 milhão de doses.
Em 21 de março, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello mudou a orientação inicial e autorizou o uso imediato de todas as vacinas entregues, sem manter estoque. No dia 10 de abril, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) reforçou a recomendação.
No início desta semana, porém, o atual ministro, Marcelo Queiroga, apontou possível diminuição no ritmo de fornecimento da Coronavac por atrasos na importação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA). Na terça, 27, a Sesa orientou a retenção das vacinas para garantir a segunda dose. (Colaborou Marcela Tosi)