A decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na última quarta-feira, 5, de elevar a taxa básica de juros, a Selic, de 2,75% para 3,5% ao ano, a segunda consecutiva no ano, deve se refletir em crédito mais caro para o consumidor, por um lado, e vantagens para os investidores, por outro lado, de acordo com economistas ouvidos por O POVO.
Esses dois cenários tornam-se ainda mais prováveis, considerando o indicativo dado pelo Copom de que vai repetir nova alta de 0,75 ponto percentual em sua próxima reunião. Até o fim de 2021, conforme os especialistas, a Selic deve chegar a patamares entre 5,5% e 6,5% ao ano. O aumento na taxa básica de juros é normalmente utilizado para controle inflacionário, mas tem reflexos em todos os campos da economia.
Como repercussão mais imediata, a cotação do dólar atingiu ontem seu menor valor desde o dia 14 de janeiro: R$ 5,27. A moeda norte-americana acumula queda de 2,84% frente ao real na semana. O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Coimbra, explica que isso acontece porque "na medida em que você eleva a taxa básica de juros acaba por atrair novos investimentos, o que modifica um pouco o volume de entrada e saída de moeda estrangeira".
Coimbra avalia que a alta da Selic deve gerar "também uma elevação de remuneração da renda fixa. É provável que você aumente de forma significativa, visto que até 60 dias atrás tínhamos uma taxa básica de juros de 2% e agora ela pode chegar a 5,5% até o fim do ano. É provável, então, que você tenha uma diferenciação nos rendimentos da renda fixa. E aí você tem o LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e o LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), tendo uma perspectiva de alteração".
Por sua vez, o economista Henrique Marinho projeta uma alta maior na Selic até o fim do ano. Na visão dele, a taxa básica de juros pode chegar a 6,5% em dezembro e a principal consequência dessa elevação é o encarecimento do crédito ao consumidor. "As pessoas deixam comprar produtos a crediário, tais como televisão, geladeira, carros e imóveis. Então, isso faz com que haja uma retração na demanda. Só que tem um problema. O País está vivendo quase que uma recessão e tudo indica que a previsão do crescimento da economia, que seria de 3% esse ano, dificilmente se concretize", analisa.
Marinho entende como equivocada a decisão de usar a Selic como ferramenta para o controle da inflação, no atual momento, por conta das características peculiares que essa pressão inflacionária tem em relação a outras ocasiões em que o País experimentou alta nos preços. "Hoje a pressão não é de demanda maior que a oferta. Ela decorre basicamente da taxa de câmbio, do preço dos combustíveis, da energia elétrica e dos medicamentos. E quanto a esses itens é o governo que define as regras", afirma.
O economista avalia, ainda, que "o impacto da taxa de juros, nesse cenário vai aumentar a retração de demanda e a tendência de recessão. É a estagflação, que eu chamaria também de um tiro no pé. Então, eu não vejo uma perspectiva positiva dessa elevação da Selic".