Após recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde (MS) suspendeu o uso da vacina de Oxford/AstraZeneca em gestantes e puérperas. A medida segue até que seja concluída a investigação para determinar se o óbito de uma grávida que havia recebido a vacina no Rio de Janeiro tem ligação com o imunizante.
O ministério determinou que a imunização com a Coronavac ou a vacina da Pfizer/BioNTech fique restrita a gestantes com comorbidades, que são as que têm o maior risco de agravamento da doença e para quem os benefícios da vacina superam eventuais riscos. Nenhuma das vacinas aplicadas no Brasil passaram por testes em grávidas, mas grupo foi incluído nas prioridades devido a alta de mortes em decorrência da infecção.
Agnaldo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), frisa que "ainda não há relação de causa e efeito estabelecida". "Fiquem tranquilos. No caos de qualquer sintoma adverso, devem procurar uma unidade de saúde. Por enquanto, não precisam fazer acompanhamento. Só em caso de sentir alguma reação", orienta.
"O risco de evento trombótico para uma grávida mesmo sem Covid-19 é de 1 para 2 mil casos. No mundo, o risco de um evento desse para uma gestante com Covid-19 grave é de 16%. No caso da vacina, o risco observado foi de 0,0004 na população em geral", compara Liduína Rocha, presidente do Comitê de Prevenção à Morte Materno, Fetal Infantil do Ceará e integrante do Coletivo Rebento — Médicos em defesa da Ética, da Ciência e do SUS.
"Por segurança, quando há um evento grave como esse é importante que se investigue e analise no sentido de achar um nexo causal como a vacina e o desfecho. Mas o fato de estar grávida tem mais associação com a trombose do que a vacina", avalia.
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Justamente pelo fato de as gestantes serem mais sujeitas à doenças trombóticas, a relação de causa e efeito é difícil de ser investigada, avalia Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do Departamento de Microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
"É difícil fazer a ligação. Será que ela teria esse efeito mesmo se não tivesse tomado a vacina, já que isso acontece em grávidas independentemente da vacina? Tem que ser feito com base populacional. Se o número de efeitos trombóticos em gestantes aumenta com a vacina", detalha. Na visão dele, a análise de efeito adverso em vacina tem que ser muito acurada para não atrapalhar a "crença" da população na estratégia de imunização.
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Com uso ampliado da vacina, efeitos adversos graves raros podem aparecer. "Tem que analisar o custo-benefício, ou seja, se o benefício ofertado por cada vacina é maior do que o risco oferecido. Se o risco de contrair, desenvolver a doença ou vir a óbito for maior do que o risco de ter um efeito colateral, vale a pena a aplicação a vacina. O contrário também vale. Isso tem que ser continuamente avaliado", afirma.
A virologista Luciana Costa, professora do Instituto de Microbiologia e do Laboratório de Genética e Imunologia das Infecções Virais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que as três vacinas aplicadas atualmente no Brasil induzem o sistema imune a produzir anticorpos contra o vírus. "Cada uma tem o seu risco associado de efeito colateral. Vai depender das características genéticas dos indivíduos", relaciona.
Ela explica que a Coronavac e o imunizante da Pfizer são classificados na "categoria B" para as gestantes, considerados mais seguros do que a da Astrazeneca, "categoria C" nesse grupo. (Com Agência Estado)
Segundo comunicado da Gerência-Geral de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGMON), o próprio fabricante da vacina Oxford/AstraZeneca/Fiocruzfoi notificou a Anvisa, na última sexta, 7, a suspeita de evento adverso grave de acidente vascular cerebral hemorrágico com plaquetopenia ocorrido em gestante e óbito fetal. A Anvisa iniciou imediatamente a avaliação do caso.
A paciente de 35 anos estava com 23 semanas de gestação. Ela foi hospitalizada em 5 de maio "com cefaleia excruciante e diagnóstico de acidente vascular cerebral hemorrágico, plaquetopenia e D-dimero alterado". O óbito fetal ocorreu no dia seguinte o da gestante no último domingo, 10.
O caso foi avaliado como possivelmente relacionado ao uso da vacina administrada na gestante. "A análise leva em consideração diversos aspectos como dados sobre o(a) paciente, sua história clínica, dados de exames laboratoriais, bem como sinais e sintomas apresentados após a administração de um medicamento ou vacina", informa.
De acordo com o ministério, os eventos adversos das vacinas da Covid-19 são extremamente raros. Até agora, das 22.295 gestantes imunizadas no País (somadas as aplicações das vacinas da AstraZeneca, Pfizer e Coronavac), foram registrados 408 eventos adversos, dos quais 11 foram considerados graves. Oito deles já tiveram a relação com a vacina descartada. Os demais estão em investigação.
Documento do GGMON aponta que a maioria dos efeitos colaterais que ocorrem com o uso das vacinas são de natureza leves e transitórios, não permanecendo mais que alguns poucos dias. O órgão alerta que: "o risco de ocorrência de coágulos sanguíneos é baixíssimo, mas o cidadão deve estar atento aos possíveis sintomas associados (falta de ar, dor no peito, inchaço na perna, dor abdominal persistente, sintomas neurológicos, como dores de cabeça fortes e persistentes ou visão turva, entre outros) para que procure atendimento médico imediato".
Comunicado informa ainda que os cidadãos deverão informar aos profissionais de saúde sobre histórico de formação de coágulos e eventos adversos ocorridos após a vacinação com a primeira dose. "Cabe aos profissionais de saúde avaliarem a relação benefício-risco para orientar sobre a vacinação nestes casos."