Depois de uma manhã volátil e de operar de lado pela maior parte da tarde, o dólar perdeu força na reta final do pregão e encerrou ontem em terreno negativo. Operadores atribuíram a queda da moeda norte-americana a fluxos pontuais de entrada de recursos e ao tom ameno de declarações de dirigentes do Federal Reserve (FED, o Banco Central norte-americano). Com máxima de R$ 4,9725 e mínima de R$ 4,9183, registrada na última hora de negócios, o dólar à vista fechou em queda de 0,19%, a R$ 4,9283.
LEIA TAMBÉM | Dólar abaixo de R$ 5 e mercado na retaguarda
Com as perdas de ontem, a moeda acumula uma desvalorização de 5,68% no mês. "De manhã, parecia que o mercado iria corrigir para cima, com o ambiente externo, as preocupações com a CPI da Covid e a reforma tributária. Mas o dólar se acomodou lá fora e acabou perdendo força por aqui", afirma Hideaki Iha, operador da Fair Corretora.
A despeito da acomodação ao longo da tarde, o clima ainda é de cautela nas mesas de operação. No exterior, há certa apreensão com o eventual impacto da disseminação da variante Delta do coronavírus e a expectativa para divulgação do relatório de emprego (Payroll) nos Estados Unidos em junho, na sexta-feira. Dados mais fortes que o esperado podem atiçar os debates sobre uma alta mais cedo dos juros norte-americanos, o que poderia abalar as moedas emergentes.
Ontem à tarde, o vice-presidente de Supervisão do FED, Randal Quarles, afirmou que as pressões sobre os preços parecem transitórias e devem se dissipar. Ele também disse que, por ora, o Federal Reserve não está "atrás da curva" em relação à inflação. O presidente do FED de Richmond, Thomas Barkin, afirmou que houve um "progresso substancial" em relação à meta de inflação, o que poderia abrir espaço para o início do processo de redução de estímulos à economia.
"Os Estados Unidos estão crescendo e o risco de inflação está no ar. Mas o FED não vai mexer nos juros rapidamente ou reduzir a recompra de títulos", afirma Marcos Weigt, head de tesouraria do Travelex Bank, ressaltando que as atenções se voltam agora para o Payroll de junho.
Por aqui, investidores ainda digerem a proposta de taxação de dividendos apresentada pelo governo na última sexta-feira, 25, e monitoram os desdobramentos políticos dos trabalhos da CPI da Covid, que apura suposto superfaturamento na proposta da compra da vacina indiana Covaxin. No mercado, teme-se que o desgaste do presidente da República, Jair Bolsonaro, e novas fissuras em sua base de apoio no Congresso atrapalhem a votação de reformas.
O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou notícia-crime contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal sobre suposto caso de prevaricação relacionadas à aquisição da Covaxin.
Weigt, do Travelex, ressalta que o aumento do risco político provoca ruído no mercado e que o dólar já caiu bastante e de forma rápida, o que limita as chances de apreciação adicional do real no curto prazo. "No longo prazo, a perspectiva para o real é boa, mas a moeda se valorizou muito rápido. No momento, eu não sou mais 'vendedor' de dólar", diz o tesoureiro.