Em cenário adverso, marcado pela pandemia de Covid-19 e queda na renda média familiar, os cearenses representam o nono maior público consumidor de serviços suplementares de saúde do Brasil. Ao todo, o Ceará acumula 1.266.533 de clientes de plano de atendimento médico e pouco mais de um milhão de pessoas contratantes de planos exclusivamente odontológicos. É o maior quantitativo de usuários de serviços privados de saúde no Estado desde 2018 quando foram computados 2,23 milhões de consumidores no segmento.
O saldo representa um crescimento de 2,3% com relação ao número de usuários de serviços médicos e de 6.2% com relação ao atendimento odontológico privado no comparativo entre julho de 2020 e 2021 - dados mais recentes divulgados.
Conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no contexto regional, o Ceará é o terceiro maior em número de planos de assistência médica no Nordeste, atrás apenas da Bahia, com 1,6 milhão de usuários do serviço e de Pernambuco, com 1,3 milhão. Mas o número de cearenses com algum tipo de plano de saúde no primeiro semestre deste ano já supera o saldo registrado em 2020.
O aumento na adesão, porém, não necessariamente reflete um cenário positivo do ponto de vista socioeconômico. "Estamos falando apenas de centros urbanos. Isso reflete em Fortaleza, Sobral e parte da região do Cariri, mas no interior do Estado, a única realidade é o SUS", conforme pondera o economista Érico Veras, especialista em finanças comportamentais. Ele frisa que o acesso ao serviço deve ser visto como um privilégio a ser questionado.
O crescimento, além de influenciado pela preocupação com o coronavírus, é observado hoje após de queda no acesso em 2019 e 2020, quando desemprego começou a aumentar no País. Queda tanto pelo fato de que 60,4% dos planos de saúde contratados pelos cearenses são planos coletivos, por meio de parcerias com empresas contratantes e não contam com regulamentação direta da ANS, quanto pela diminuição da renda.
"Nós temos uma renda média no Estado de R$ 1,6 mil, mas isso é muito variável. Temos uma parcela significativa de pessoas que ganham bem menos que isso e vivem uma realidade de 'ou eu como e pago o aluguel ou eu pago um plano de saúde’, mas é claro que sem tais necessidades, o serviço se torna bastante atrativo por uma série de fatores sociais", complementa o economista.
Sendo berço de uma das maiores operadoras de Saúde do Brasil, a Hapvida, que após conclusão do processo fusão com a NotreDame, irá gerenciar cerca de 6 milhões vidas de usuários dos planos de assistência médica e odontológica, a cobertura do sistema suplementar de saúde abarca apenas 14,7% da população cearense.
Do ponto de vista social, Érico Veras destaca que saldo demarca a desigualdade social. "Nós não devemos comemorar que tantas milhões de pessoas tem um plano de saúde. Nós deveríamos lutar para que nenhuma visse esse serviço como uma necessidade, lutar e valorizar um atendimento público de qualidade", destaca.
Com relação ao mercado de saúde suplementar, o número pode ser visto como resultado de uma estratégia de expansão das empresas do setor. “Esse mercado é muito concorrido, não é interessante para as empresas fixarem todos os seus clientes em uma única região. O plano de atuais gigantes do mercado, sempre é ir adquirindo um carteira de clientes mais dispersa, até para atrair um maior número de investidores”, analisa Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
No atual contexto, a perspectiva para o setor é de recuperação e crescimento acelerado, pautado pela inovação e em novas formas de comercialização dos serviços ofertados. A criação de redes de atendimento populares que cobram taxa básica mensal e adicionais por serviços utilizados são outra frente de crescimento para o setor, além das grandes redes de saúde, conforme pontua o economista.
“Existe um espaço bem significativo para o crescimento do sistema suplementar de saúde, não só aqui no Ceará, principalmente na fidelização mais individualizada de um consumidor autônomo, sem necessariamente a vinculação ao tipo de emprego”, analisa Ricardo ao destacar que planos de saúde mais acessíveis com personalização do serviço na realidade social do cliente, especialmente trabalhadores autônomos e Microempreendedores Individuais são a atual tendência do setor.
Números do setor
São Paulo
17.577.936
Rio de Janeiro
5.354.717
Minas Gerais
5.346.557
Paraná
2.935.827
Rio Grande do Sul
2.549.705
Bahia
1.618.174
Santa Catarina
1.521.876
Pernambuco
1.366.328
Ceará
1.268.537
Goiás
1.205.191
2021 (julho):
1.266.533
2020
1.255.643
2019
1.262.923
2018
1.284.336
Fonte: ANS