Um levantamento feito neste ano pelo Sebrae identificou que dos 120 territórios com potencial para Indicação Geográfica (IG) analisados em 2020 em todo o Brasil, pelo menos, 80 poderão obter o registro concedido pelo INPI nos próximos anos. Destes, oito estão em processo de estruturação no Ceará.
São esses: a renda de bilro, em Aquiraz; a fibra do Croá, em Pindoguaba (Tianguá); o queijo coalho do Jaguaribe; as facas e cutelaria de Potengi; o mel de abelhas aroeira, em Inhamuns; o algodão ecológico dos Inhamuns; a cachaça de Viçosa do Ceará; e o café do Maciço do Baturité.
“Todos esses são produtos com potencial já identificado. O nosso trabalho está sendo organizar esses grupos até chegar na fase de depositar os pedidos no INPI, ajudando-os a se organizarem, criar conselho regulador, fichas técnicas, fazer o reconhecimento das áreas geográficas, para que eles possam obter êxito nos pedidos”, explica o analista técnico do Sebrae, Germano Bluhm.
Ele explica que essa proteção e a visibilidade dada por uma IG além de dar um novo sentido à permanência do homem no campo, valoriza a identidade regional e abre caminho para que os produtores desenvolvam ações de promoção dos seus produtos, com potencial de agregação de valor, podendo alcançar mercados específicos, movimentar o turismo e a gastronomia local.
Inclusive, outras cadeias produtivas, que eventualmente são menos desenvolvidas, podem vir a ganhar força na economia local, reforça Bluhm.
“Os pequenos varejistas podem ter no produto com IG um diferencial para o seu negócio, mas precisam entender e saber falar os diferenciais deles no mercado”.
No Brasil, uma das experiências mais bem sucedidas é a de Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. Isso porque conseguiu aliar ao turismo de lazer, o turismo de experiência da produção de vinhos daquela região. Se, em 2001, a média de visitantes girava em torno de 45 mil pessoas, após a IG dos seus vinhos, essa marca ultrapassa hoje os 410 mil turistas.
Porém, o selo por si só não é garantia de sucesso, explica a especialista em propriedade intelectual, Maria Cláudia Nunes. Tanto que há também situações de produtos que não tiveram crescimento exponencial mesmo após a certificação.
Para ela, é preciso ações articuladas e estratégicas que unam os elos da cadeia produtiva de ponta a ponta: do produtor ao consumidor. ”A informação vai ser sempre a melhor saída. A gente precisa falar sobre IG, para quem faz e quem consome”.
O Brasil, na avaliação dela, apesar de ainda ter poucas indicações geográficas reconhecidas, é um celeiro vasto de oportunidades, considerando que tem um território imenso, diverso, seis biomas e muita cultura arraigada em processos produtivos.
“É uma condição jurídica pré-existente, a IG vai comprovar as tradições e o potencial que já existia ali. Mas quando você vira o holofote para as regiões, sejam elas agroalimentares, artesanais ou prestação de serviços, a gente mexe no desenvolvimento daquela região como um todo porque vem também o impacto econômico, o emprego e a renda”, afirmou.