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De olho no 5G, Brisanet deve cobrir todo Nordeste com fibra ótica em 3 anos
Economia

De olho no 5G, Brisanet deve cobrir todo Nordeste com fibra ótica em 3 anos

| Expansão | Operadora cearense aposta nas duas tecnologias para dotar a região da maior densidade de conexão do País
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José Roberto Nogueira, CEO da Brisanet (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)
Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo José Roberto Nogueira, CEO da Brisanet

Destaque nacional no setor de telecomunicações, a cearense Brisanet saltou na frente de grandes operadoras ao apostar no interior do Nordeste como principal foco dos negócios e está prestes a iniciar mais uma fase de expansão ao participar do leilão 5G novamente mirando a Região.

Em entrevista exclusiva ao O POVO, José Roberto Nogueira, CEO da empresa, conta que os preparativos para o 5G consistem na continuidade da expansão da rede de fibra ótica da Brisanet em todos os municípios nordestinos até 2024, seja na rede própria ou na empresa de franquias criada para o serviço.

O executivo ainda comenta as oportunidades de negócios futuras e afirma que, "olhando para daqui a 4 ou 5 anos, o Nordeste, liderado pelo Ceará, vai ter a maior e mais moderna capilaridade de infraestrutura de telecom do mundo".

O POVO. Qual a avaliação sobre o leilão de 5G? As condições de competição estão satisfatórias?

José Roberto Nogueira. A Brisanet está acompanhando o processo há mais de dois anos. Já começamos a participar de todos os eventos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e estamos colaborando nas consultas públicas. Agora, nós trabalhamos muito com foco no bloco regional.

Até esse momento, todos os leilões foram para grandes operadoras, sem a presença dos ISPs (sigla do inglês Internet Service Provider, que denomina os pequenos provedores de internet), e esse será o primeiro com a presença dos ISPs. Então, isso foi uma conquista. O leilão foi desenhado de forma bem justa. O que nós entendemos há muitos anos é que, se o 5G não desse a oportunidade para um pequeno provedor ofertar o serviço, o Brasil e o interior iriam ficar sem 5G.

Esse leilão vem numa característica não arrecadatória, mas de investimento. Então, o valor a ser pago inicial pelo uso da frequência é muito baixo. O bloco Nordeste, de 80MHz destinado aos ISPs, está na ordem de R$ 9 milhões. Agora, o grande investimento é implementar rede de 5G em todas as cidades abaixo de 30 mil habitantes. Esse é o compromisso e não chama atenção de investidores.

Óbvio que quem está comprando vai atender as cidades abaixo de 30 mil habitantes e também as cidades acima disso. No Nordeste, são 1.423 cidades abaixo de 30 mil habitantes. Dá um total de 3.804 torres. O 5G precisa de uma quantidade enorme de torres, é preciso uma densidade maior, entre 5 a 7 vezes mais torres.

OP. E qual o foco da Brisanet? A base de fibra ótica que a Brisanet possui deixa a empresa mais confortável para competir no 5G?

José Roberto. Sim. Nosso foco é Nordeste e temos um projeto chamado Nordeste 100%, que consiste em estar presente em todas as cidades: grande, média e pequena, além dos distritos, usando tecnologia apropriada para chegar, inclusive, nas áreas rurais. Por isso a Brisanet criou uma segunda bandeira chamada Agility Telecom, que é uma franqueadora que leva know how tecnológico para aquele provedor que tem cerca de 2 mil clientes e usa agregado de várias tecnologias. Então, a Bisanet leva o backbone (rede de fibra ótica) até a cidade, constrói uma infraestrutura, plataforma de software de gestão de rede e gestão do negócio e treinamento.

E esse projeto foi criado exatamente para a Brisanet para ter a capilaridade em todo o Nordeste. Não dá para uma operadora fazer o Nordeste 100% em pequenas cidades e área rural sozinha. Já temos mais de 100 franquiados e vamos chegar a um total de 500 com presença em todas as cidades e estendendo às áreas rurais até o fim de 2023. 

Em 2024, não só conclui os 500, mas conclui a construção de fibra em todas as cidades. O 5G vem logo atrás fazendo a segunda infraestrutura, a complementar. Quando falo 5G, não entenda só uma tecnologia superior ao 4G, mas o bloco de frequência. Isso é a grande evolução.

Não vai ter outra oportunidade como essa em 2030 ou 2040. Então, por isso que chamo a década da infraestrutura de telecom, e a Brisanet vai fazer essa finalização do 5G em cidade pequena.

OP. Hoje, como está a cobertura da Brisanet no Nordeste? E qual a projeção para o 5G?

JRN. Nós estamos, em abrangência, presente em sete estados e seis capitais, porque Recife estamos na Região Metropolitana. Mais dois foram iniciados recentemente: Sergipe e Piauí. Agora, estamos construindo os backbones em direção ao interior. Por isso, no prazo de 2023, teremos os grandes backbones todos construídos nas pequenas e médias cidades e fecha tudo em 2024.

Mas o processo de construção do 5G começa com expressividade em 2023 e acelera em 2024, 2025 e 2026 em função da rede toda concluída. Em 2026, a Brisanet vai ter implementado a maior parte das redes 5G do Nordeste. Vai ser um processo acelerado diferente do que tem ocorrido até agora com as tecnologias anteriores.

O 5G só é possível começar a implementar em cidade pequena a partir do segundo semestre de 2023, pela liberação da faixa. O 5G, na frequência de 3,5GHz, interfere nas antenas parabólicas. Então, a partir do programa de liberação do espectro, que vai eliminar as antenas parabólicas convencionais e migrar o usuário para a banda KO, de frequência de 11Ghz. Migração acontece com 20% do total no segundo semestre de 2023, depois 2025 e 2026. Aí sim as cidades pequenas vão seguir esse cronograma.

OP. Quando a gente fala em investimento 5G, já se pensa no leilão. Mas qual o investimento que a Brisanet precisa fazer para ter essa rede de atendimento?

José Roberto. Nós já começamos a fazer esse grande investimento para o 5G há muitos anos. Temos essa rede de fibra já construída. O berço do 5G é o que nós estamos construindo, chegando nas cidades e passando em todas as ruas. O site (torre com antena) vai ser o menor investimento, e só vai ser expressivo a partir de 2023.

O investimento realizado, em 2020, foi na ordem de R$ 440 milhões. Esse ano deve ser um pouco maior, mas só podemos falar quando for fechado.

A Brisanet, nos próximos anos, vai ter uma evolução de investimento ano a ano. Primeiro porque as redes de fibras são construídas em 2021 são o equivalente a 80% do que já foi construída por nós nos últimos dez anos. Nós começamos a fazer fibra em 2011. Fomos a primeira empresa a construir fibra no Brasil. 5 anos depois que começou a expansão de fibra via pequenos provedores e algumas grandes também fazendo esta iniciativa.

OP. A Brisanet capitaneia o consórcio do Cinturão Digital e como você avalia a chegada do 5G no Ceará com esse backbone já montado?

José Roberto. O Ceará é o estado que fez um grande avanço com a iniciativa de implementar um anel ótico no interior, quando as redes fibras no interior praticamente não existiam. Isso estimulou os provedores regionais, principalmente, no Nordeste, a fazer uso do Cinturão e também a estender a rede. Hoje, o Cinturão tem 3 mil quilômetros, a Brisanet já tem 20 mil quilômetros de backbone adentrando nos demais estados.

O Ceará tem conectividade bem superior à média nacional de fibra, que é de 52%. Mas o Estado está acima dos 70%. Isso foi estimulado tanto pelo Cinturão como pela Brisanet, no interior, que está acima de 85% de conectividade. Então, o interior do Ceará é a região do País que tem maior densidade de conectividade em banda larga em fibra. É o maior percentual. Isso mostra que a gente está muito bem.

Olhando para daqui a 4 ou 5 anos, o Nordeste, liderado pelo Ceará, vai ter a maior capilaridade de infraestrutura de telecom mais moderna do mundo. Inclusive superando países como os Estados Unidos.
Considerando a tecnologia de fibra ótica e 5G vai ser o eixo de todos os outros negócios, a importância da robustez da rede para a internet vai ser muito maior. Em qualquer lugar precisa ter evolução e isso só vai ocorrer com essas duas tecnologias.

OP. O Ceará tem investido, justamente por esse potencial de telecom e os cabos submarinos conectados em Fortaleza, em um polo tecnológico para atração de datacenters. A Brisanet tem algo neste sentido?

José Roberto. A Brisanet tem uma missão gigante que tem poucos abraçando. Fortaleza tem aproximadamente 16 cabos submarinos, é um teleporto. Mas o negócio é muito maior do que olhar apenas para Fortaleza. Além de levar essas redes de fibra ótica, estamos construindo os minidatacenters. São aqueles que estão na cidade.

O pessoal fala muito da experiência do 5G, de baixa latência, mas, para isso, o conteúdo precisa estar ali, ao lado da torre. Então, a Brisanet constrói ao longo do backbone, os minidatacenters que podem ser espaço para alojar os equipamentos com conteúdo ao lado do cliente. Seria o primeiro teleporto.

Hoje, por exemplo, os conteúdos do Google, do Facebook, Netflix e outros servidores estão todos pulverizados dentro da rede da Brisanet e não em cidades grandes. Até cidade como Pau dos Ferros, de 30 mil habitantes, já tem esses servidores dentro dos minidatacenters. Ou seja, o que o cliente da cidade pequena precisa já esta aqui. O que não está local vai buscar em São Paulo, e, no futuro, em Fortaleza.

O volume de tráfego de informações de Fortaleza para os Estados Unidos é pequeno, é maior para São Paulo. E a tendência é de que essas informações venham para Fortaleza. Mas a Brisanet foca no interior. Não é foco nosso estar em Fortaleza com datacenter.

O que nós consideramos mais robusto são as rodovias de fibra indo para o interior do Nordeste. Temos próximo de 200 mil minidatacenteres. Foi construído para uso da Brisanet, mas, no futuro, pode sim virar espaço para mercado de terceiros.

OP. Nota-se, no trabalho da Brisanet, um foco no cliente final, mas apontam o 5G como oportunidade de negócios com empresas, como indústria, agronegócio e comércio. Brisanet enxerga esses nichos?

José Roberto. O 5G é uma tecnologia que já vem nativa vários serviços, principalmente, na área de IoT (do inglês Internet of Things). Mas, como negócio, a Brisanet não enxerga que, nos próximos cinco anos, esse mercado de IoT seja expressivo em 5G. Até porque o ecossistema é muito caro.

Estamos falando em internet das coisas, onde tudo vem conectado. Mas um chip de 5G, hoje, custa US$ 50. Então, não dá para vir, em um curto espaço de tempo, vir um ecossistema de dispositivos para explorar esse mercado.

Vai sim desde o início ter experimento e estamos acompanhando esse mercado, mas expressivamente a partir de meados da década de 20 é que vai ser gigante.

No primeiro momento, o 5G virá para conectar bem a um preço no alcance de A a Z, inclusive baixa renda. Popularizar a conectividade.

Vamos estar fazendo que os demais competidores fazem. Mas mercado para os próximos 5 anos é o atendimento de banda larga com mobilidade que o 4G não tem condição de fazer.

LIMITES

José Roberto explica que a frequência 5G tem dificuldade em penetrar em casas atrás de sobrados ou distantes dos sites de transmissão, e a conexão de fibra vem para complementar esse espaço, principalmente, em grandes telas.

LEILÃO 5G

O edital prevê a concessão de 5 blocos de 80 MGHz. 4 deles são a nível nacional e 1 deles é o regional. Este último está no valor de R$ 9 milhões e é o foco da Brisanet.

EVOLUÇÃO

Ensino superior à distância, conectividade nos pequenos agricultores e saúde são os setores projetados pelo CEO da Brisanet para a população do interior do Nordeste a partir da ação conjunta de fibra ótica e 5G. Em dez anos, ele projeta produtos de baixo custo para atender as áreas mais remotas

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