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Consumo de energia no Ceará tem alta de 4%, na contramão da tendência nacional
Economia

Consumo de energia no Ceará tem alta de 4%, na contramão da tendência nacional

Dados divulgados ontem pela CCEE se referem à primeira quinzena de outubro. Já entre janeiro e setembro, o crescimento foi de 12,2%, segundo a Enel
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Resultado da enel Ceara (Foto: Resultado da enel Ceara)
Foto: Resultado da enel Ceara Resultado da enel Ceara

O consumo de energia elétrica no Ceará registrou alta de 4% na primeira quinzena de outubro, ante recuo de 7,9% do registrado em âmbito nacional, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgados ontem. A comparação é com período equivalente do ano passado.

Em setembro, primeiro mês sob a vigência da ‘bandeira tarifária escassez hídrica’, o Estado já havia apresentado resultado superior ao do País, aumento de 6% contra variação positiva de apenas 0,1%, respectivamente. O novo regime de tarifação do setor entrou em vigor no dia 1º de setembro e passou a adicionar R$ 14,20 na conta de luz para cada 100 kW/h consumidos.

O objetivo do governo federal era justamente frear o consumo diante de um cenário de queda acentuada no nível dos reservatórios brasileiros, notadamente nos localizados no Centro-Sul do País. A eletricidade gerada por meio hidráulico ainda é a de maior composição na matriz energética nacional. Apesar de ter sido estabelecida há pouco menos de dois meses, a nova bandeira já é alvo de crítica do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que, no último dia 15, chegou a declarar que “ordenaria” o fim dela.

Segundo o economista Ricardo Eleutério, o fato de o Ceará continuar apresentando aumento de consumo de energia elétrica mesmo em um contexto de crise “é muito positivo porque esse é um insumo importante no processo econômico, traduzindo uma melhor dinâmica do Estado em comparação com o País, inclusive, no que diz respeito às projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No cenário mais provável, por exemplo, devemos crescer 6,2% em 2021, enquanto o Brasil deve crescer 5,6%. Para 2022, esses números devem ser de 2,9% e 1,6%, respectivamente”.

Eleutério também comentou outros dados divulgados ontem sobre energia elétrica no Estado, dessa vez abrangendo os meses de janeiro a setembro de 2021. Segundo a Enel Ceará, nesse período houve crescimento de 12,2% no consumo energético, frente a período equivalente de 2020. “Esses números apresentados pela Enel estão de acordo com uma melhor dinâmica da economia cearense quando comparada à nacional, especialmente quando, na desagregação do dado, se verifica um aumento no consumo da energia na indústria e no comércio, ou seja, na atividade produtiva”, enfatizou.

Por sua vez, o coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Clauber Leite, “é uma situação um pouco contraditória que a gente está vivendo. Porque a gente estava em um momento de recuperação da economia e, consequentemente, do consumo de energia. Porém, veio a crise hídrica. Então, em alguns locais, como o Ceará, dada a natureza econômica pode ter ainda um aumento, como foi verificado”. Ele critica, contudo, o que considera falhas estruturais da política energética nacional e afirma ver com preocupação a situação para 2022, considerando a contaminação dessa discussão pelo contexto eleitoral.

Voltando a falar do levantamento da CCEE, no total, o País demandou 62.478 megawatts (MW) médios do Sistema Interligado Nacional (SIN) nos 15 primeiros dias de outubro. Ainda segundo a entidade, a retração no consumo de energia elétrica, em termos de Brasil também foi influenciada por questões climáticas, como a queda nas temperaturas no Sul e no Sudeste, no período. As maiores quedas nessas regiões foram registradas nos estados do Rio Grande do Sul (12%) e São Paulo (15%).

O Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste verificou a maior redução no consumo de energia elétrica entre todos os entes federativos: 17%. Já a maior alta ocorreu em Rondônia, na região Norte: 7%. No Nordeste, além do Ceará, também o estado do Sergipe registrou elevação de 4%. Ambos estão na liderança regional, nesse quesito. A CCEE observou, ainda, um aumento expressivo na produção de energia a partir de usinas solares fotovoltaicas, que avançou 46,6%.

Nesse particular, o Nordeste também vem se destacando. Ontem, por exemplo, houve um duplo recorde de geração solar instantânea na região. O primeiro pico foi registrado às 13h19, com geração de 2.649 MW. O segundo ocorreu às 13h58, com 2.675 MW, o suficiente para abastecer 21,3% das necessidades regionais naquele momento específico.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 29.06.2021: Aumento na conta de energia. Além a bandeira vermelha o consumidor tem que ficar atento com os reajustes. (Thais Mesquita/OPOVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 29.06.2021: Aumento na conta de energia. Além a bandeira vermelha o consumidor tem que ficar atento com os reajustes. (Thais Mesquita/OPOVO)

Com alta no consumo, lucro da Enel Ceará sobe 129,2%

Em um cenário de aumento no consumo de energia elétrica no Estado, a Enel Ceará registrou um lucro líquido de 129,2% entre os meses de janeiro e setembro deste ano, quando comparado com período equivalente do ano passado, segundo divulgou ontem a companhia.

Em 2020, a distribuidora de energia teve lucro líquido de R$ 156,7 milhões que saltou para R$ 359,3 milhões em 2021. "Registramos uma melhoria expressiva do mercado consumidor em nossa área de concessão nos nove primeiros meses deste ano, impulsionada pela maior demanda dos clientes livres e dos consumidores das classes residencial e rural", afirmou a diretora-presidente da Enel Distribuição Ceará, Márcia Sandra Roque Vieira Silva.

Ela ressaltou no relatório, a melhora desse resultado, com impactos positivos nos indicadores econômico-financeiros da companhia no período. "Os resultados se estendem também ao aumento dos investimentos e à melhoria dos indicadores de qualidade do serviço prestado aos nossos clientes". Nos últimos nove meses, a Enel Ceará investiu R$ 688,9 milhões na expansão da rede, atividades de combate a perdas e adequação da infraestrutura da rede elétrica no Estado. Alta de 2,1%, em relação a igual período de 2020.

Ainda de acordo com o balanço econômico-financeiro da companhia, a Enel Ceará apurou R$ 7,8 bilhões de receita bruta. Alta de 35,9%, ante os primeiros nove meses de 2020.No entanto, a dívida líquida da empresa também cresceu 45% no período e foi estimada em R$ 3 bilhões. Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou em R$ 641,3 milhões, um avanço de 36,5% ante igual período do ano passado.

A Enel também registrou aumento no número de clientes (unidades faturadas) da ordem de 3,9%, passando de pouco mais de 3,9 milhões de consumidores para 4,1 milhões. As perdas de energia no período aumentaram em 1,58 pontos percentuais, indo de 15,10% em 2020 para 16,68% em 2021, a despeito da redução na duração e na frequência de interrupções de fornecimento de energia, que foram de 10,6% e 12,7%, respectivamente. (Colaborou Irna Cavalcante)

 

Recorde duplo

Nordeste teve duplo recorde de geração solar instantânea ontem, com dois picos. O maior dele ocorreu às 13h58, com 2.675 MW, o suficiente para abastecer 21,3% das necessidades regionais

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