No Ceará, enquanto a parcela 50% mais pobre da população sobreviveu, em 2020, com renda média mensal de R$ 314, o grupo dos 1% mais ricos, detinha rendimento mensal acima de R$ 12,7 mil durante todo o ano de 2020, em meio à crise sanitária da Covid-19.
Os dados são da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Contínua (PNAD Contínua) 2020, divulgada ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra ainda que o Ceará tem o pior indicador de desigualdade do Nordeste.
O Índice de Gini no Ceará ficou em 0,544. O melhor resultado nesse quesito é o do Piauí com 0,474. O indicador é referência internacional quando se deseja aferir a diferença entre o que ganham os estratos mais ricos e mais pobres da população de determinada região. Quanto mais perto de 1 maior a desigualdade, quanto mais perto de 0 menor ela se apresenta.
Apesar desse resultado negativo, houve uma redução de 3,2% no Índice de Gini no Ceará entre 2019 e o ano passado, o primeiro a refletir os efeitos socioeconômicos decorrentes da pandemia de Covid-19.
O que, por um lado, reduziu em parte o poder aquisitivo dos mais ricos, e, por outro lado, trouxe um acréscimo importante de renda para os mais pobres via Auxílio Emergencial e programas estaduais e municipais de mitigação da crise. No auge da primeira onda, algumas pessoas cadastradas para receber o benefício federal, por exemplo, chegaram a receber R$ 1.200.
Para o presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, “mesmo com todas as políticas que vem sendo adotadas pelos governos você ainda tem um nível de disparidade e de concentração e de geração de riqueza ao longo dos últimos anos. Isso impacta nesse desequilíbrio, não só no estado do Ceará mas como no País como um todo”.
De fato, a diferença de rendimentos médios mensais entre os 50% mais pobres e a parcela 1% mais rica no País também é bastante elevada e chega à proporção de 35 vezes.
Coimbra acrescenta que esse grau de concentração da riqueza no País gera um desequilíbrio socioeconômico muito forte que está dificultando até na melhoria das atividades econômicas porque para que se tenha uma possibilidade de recuperação é preciso ter uma população que tenha capacidade de consumo. "Com níveis de renda tão baixos você têm uma grande dificuldade em propiciar isso e, também, em retomar os investimentos das empresas porque, nesse contexto, tal consumidor acaba buscando suprir apenas a subsistência”.
A pesquisa do IBGE revelou, ainda, que do total de 5,4 milhões de cearenses com algum tipo de renda, apenas 3,2 milhões a tinham associada a algum tipo de trabalho, seja com carteira assinada ou no mercado informal. O número representa uma redução de 400 mil pessoas, em relação a 2019, ou seja, uma queda de 12,5%.
Já o número de cearenses que tinha renda dependente de programas sociais aumentou 20,8% saindo de 2,4 milhões em 2019 para 2,9 milhões em 2020.
O instituto destaca, porém, que tal redução não foi um fenômeno exclusivo do Ceará, ocorrendo em todas as demais unidades federativas do Brasil. No País, a dependência das famílias de rendas vindo de outras fontes, como as medidas emergenciais criadas durante a pandemia, aumentou de 12,2% da população para 19,2%, afetando assim 1,8 milhão de pessoas em 2020. (Colaborou Adriano Queiroz)
Raça
No Brasil, sob o choque da pandemia, quase 8,1 milhões de brasileiros deixaram de ter renda proveniente do trabalho em 2020. Destes, 66% são pretos ou pardos