Uma queda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrada no 3º trimestre deste ano, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, confirmou alguns dos piores temores sobre a economia, que entrou oficialmente em recessão técnica.
È o que ocorre quando a economia recua por dois trimestres consecutivos. No 2º trimestre deste ano, a queda foi de 0,4%. Embora isso ainda não signifique uma recessão de fato, e a previsão é que o País termine o ano com crescimento próximo de 5%, o sinal de alerta foi ligado.
Para especialistas ouvidos por O POVO, são grandes as chances de que o País entre em recessão econômica no próximo ano. Nesta situação, há não só uma sequência longa de quedas do PIB, mas a deterioração significativa de uma série de indicadores econômicos, como emprego, falência, queda do consumo, etc.
Após a fortíssima queda de 9% verificada no 2° trimestre de 2020 em comparação ao período imediatamente anterior, por conta das medidas restritivas adotadas contra a pandemia da Covid-19, o País registrou três trimestres consecutivos de alta. Contudo, fatores como taxas altas de desemprego persistentes e a disparada da inflação já vinham indicando uma tendência de desaceleração desse crescimento e, agora, de retração que deve se estender para o próximo ano.
O presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, pontua que “algumas agências já observam que pode haver até uma retração na atividade econômica em torno de 0,5% no ano de 2022, o que poderia já de fato ser uma recessão. Isso vai depender de uma conjuntura de fatores que não está boa: elevada taxa de desemprego, na ordem de 13%; taxa de inflação, para o ano que vem, estimada em 6%, taxa de juros, em torno de 12%; taxa de câmbio, em torno de R$ 5,50. Ou seja, uma situação bem difícil à vista”.
Já o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, analisando o detalhamento dos dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam uma queda de 8% no PIB do agronegócio e estagnação no da indústria, afirmou que “a mensagem de fundo que este período está nos avisando é a de que o processo de desaceleração da economia está bem mais profundo do que uma simples questão climática, no caso da agropecuária. Até porque os investimentos estão caindo por dois semestres seguidos”.
Ele acrescenta que a alta dos custos para os produtores tanto da indústria quanto do agronegócio se apresentou “muito pesada”. Borsoi prossegue lembrando que “o IGPM bateu 30% no ano passado e para o produtor o IGPM é bem mais importante do que o IPCA. Então teve uma contração de margens de lucro muito pesada. Além disso, você tem um câmbio muito depreciado, alta nos preços de combustíveis, alta no preço da energia elétrica. Tudo isso vai se adicionando de tal forma que o empresário tem pouco incentivo a fazer um investimento”.
Por sua vez, Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos, destaca que se a economia já está patinando em 2021, “em 2022 parece que o cenário muito mais desafiador. A gente tem juros em patamares bem mais altos, a inflação ainda não está desacelerando tanto e o mercado de trabalho está muito estressado. Quando o trabalhador se sente inseguro em relação ao seu emprego, ele consome menos e quando consome está preocupado, porque a inflação está comendo boa parte do seu orçamento”.
Governo
Ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou o resultado do PIB. Para ele, a queda foi "localizada" e atribuiu a retração à crise hídrica. Também disse estar confiante que a economia irá crescer entre 5% e 5,2% neste ano