Nem bem começou o ano eleitoral de 2022 e as especulações políticas voltaram à tona em torno de quem deve assumir a Presidência efetiva do Banco do Nordeste (BNB), sob a gestão interina de Anderson Possa desde o dia 1º de outubro de 2021.
Ao longo do dia, foi ventilada a nomeação de José Gomes da Costa, que assumiu como diretor Financeiro e de Crédito da instituição no último dia 2 de dezembro. O economista seria uma indicação do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e teria o aval do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Porém, no início da noite de ontem, cresceram os rumores de que a nomeação teria sido vetada pelo presidente Bolsonaro, em razão de Gomes da Costa, supostamente, já ter sido filiado ao PT. Alguns perfis direitistas nas redes sociais também teceram críticas à possível nomeação.
Diante das especulações, o banco chegou a emitir um comunicado ao mercado informando que Anderson Possa seguia como presidente do BNB, acumulando também a Diretoria de Negócios.
Possa já era diretor de Negócios quando assumiu o cargo de presidente em 1º de outubro, após exoneração de Romildo Rolim, por pressão do Centrão, mais especificamente de Valdemar da Costa.
Ontem, O POVO procurou o BNB e questionou sobre uma possível mudança na Presidência do banco e, em resposta, a instituição reafirmou que não havia a oficialização de "qualquer alteração na composição da Diretoria Executiva do Banco" e que mudanças em sua diretoria sempre serão comunicadas "tempestiva e oportunamente".
Mais tarde, durante solenidade de posse da nova diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE), o próprio Anderson Possa, também ao O POVO, disse não ter retorno sobre o assunto e falaria se tivesse. Mas, em entrevista à rádio O POVO CBN, para a jornalista Neila Fontenele, já chegou a descartar interferência política na instituição.
Sobre o BNB, fez um balanço de resultados. "O banco mais uma vez realizou uma aplicação histórica. Já vinha fazendo isso nos últimos anos e a gente deu continuidade àquilo que já vinha sendo bem feito. Fechamos o ano aplicando mais de R$ 41 bilhões e agora a nossa previsão é chegar a R$ 45 bilhões."
As tensões políticas em torno do banco receberam críticas de especialistas. Para a vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, "a nomeação do presidente do BNB deve ter um perfil profissional independente de filiação partidária".
Ela acrescenta que "sobre a questão da operacionalização do Crediamigo é um absurdo essa interferência com cunho ideológico, que pode destruir um programa consolidado no mercado, reconhecido pela comunidade nacional e internacional, com mais de 3 milhões de clientes, e que dá equilíbrio financeiro ao banco."
Já Raul dos Santos, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE), destacou que interferências políticas repercutem de forma negativa aos investidores, aos clientes, para o próprio quadro técnico e para o Governo. "Independentemente da qualificação técnica da pessoa, essa interferência não é vista de forma boa pelo mercado."
O ex-presidente do BNB, João Alves de Melo, que dirigiu a instituição entre 1992 e 1995, afirmou que "o banco funciona muito apoiado em quadros técnicos. Assim, se os quadros técnicos não mudam substantivamente, as coisas continuam acontecendo de forma a respeitar aqueles parâmetros que são próprios às instituições financeiras." (Colaboraram Beatriz Cavalcante e Carlos Holanda)