O consumidor da Grande Fortaleza experimentou em 2021 inflação na casa dos dois dígitos, de 10,63%. Acima da média nacional, que ficou em 10,06%, a maior alta desde 2015, e bem distante dos 5,74% registrados em 2020.
O chamado Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o principal indicador utilizado para medir o comportamento inflacionário no País.
No Nordeste, a inflação da Região Metropolitana de Fortaleza perde apenas para a de Salvador, que registrou alta de 10,78%.
A inflação na Grande Fortaleza foi, ainda, a sétima maior do Brasil. A primeira foi a de Curitiba (12,73%). Belém teve a menor alta, de 8,10%. Contudo, nenhuma região pesquisada teve índice igual ou inferior ao teto da meta inflacionária estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano de 2021 em todo o País, que era de 5,25%.
Para especialistas ouvidos pelo O POVO, as razões que explicam as altas nos preços ao consumidor em Fortaleza e no Brasil são similares e refletem, inclusive, uma tendência mundial, devido a fatores como a pandemia, a elevação na cotação internacional do petróleo e a ‘quebra’ de algumas cadeias produtivas, como a dos semicondutores.
Questões domésticas como a crise hídrica, a instabilidade política e a disparada do dólar, que em diversas ocasiões ao longo do ano passado beirou os R$ 6,00, também tiveram grande peso para pressionar a inflação no País.
Conforme o economista Mário Monteiro, a inflação na casa dos dois dígitos no acumulado do ano já era esperada. Ele cita como principais fatores externos a desorganização das cadeias produtivas e o contexto do setor de energia mundial. “E, no Brasil, você adiciona um terceiro elemento que é a instabilidade política pressionando o dólar. Na questão energética, além do contexto global, nós tivemos uma crise hídrica no País. Somados esses fatores não tinha como dar um resultado diferente”, enfatiza.
Por sua vez, o analista de finanças corporativas da Arêa Leão, João Frota, acrescenta outro fator que foram os reflexos de uma taxa Selic em um patamar muito baixo no início do ano, quando chegou ao menor índice da série histórica em 2%. “Esses incentivos ajudaram a gerar emprego, que gera renda, que gera consumo, e, consequentemente, inflação. Agora, para combater a inflação, o Banco Central vem elevando a Selic, que fechou o ano passado em 9,25 e deve chegar até 11,5% em 2022”, projeta.
Apesar da medida adotada pelo BC, tanto Frota, quanto Ricardo Eleutério, do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE) temem um cenário de ‘estagflação’ para 2022, ou seja, a combinação de recessão econômica com inflação.
“No cenário mais pessimista podemos ter retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5% e esse aumento da Selic não surtir o efeito esperado na contenção da inflação, o que seria o pior dos mundos. Seria como um bolo que encolheu e ficou mais caro”, compara.