Sem as mesmas potencialidades e opções de geração de energia elétrica que o Brasil, a Holanda reúne a forte cadeia de suprimentos, excelentes portos, lâmina d'água rasa (em torno de 40 metros) e um solo favorável para investir na instalação de torres eólicas no mar. O país é apontado como um dos de melhor desempenho pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e também associa as eólicas offshore ao hidrogênio verde (H2V).
"O roadmap atual aponta para 11,5 GW de eólica offshore em 2030. Entretanto, existe uma ambição de adicionar capacidade de 2 GW a 10 GW. Considerando que o consumo de energia nos Países Baixos é próximo de 15 GW, estima-se que, em 2030, entre 70% e 80% da geração de energia virá de fontes renováveis, em especial eólica e solar", indica o relatório publicado pelo Centro no fim do ano passado.
Soma-se a isso uma proximidade do centro de carga elétrica da costa, o que reduz os custos de conexões elétricas. O mercado, inclusive, desperta o interesse de gigantes do setor. A Shell, inclusive, participou de um consórcio já no segundo leilão feito no País. A disputa, reduziu o custo do megawatt/hora (MWh), caindo de 70 euros para 45 euros entre os dois primeiros leilões.
"Nesse contexto, os leilões seguintes já ocorreram sem subsídios. O sucesso na queda de custos pode ser associado, em parte, à queda da percepção de risco dos investidores e ao processo de diálogo, por meio do qual, governo e investidores discutiram um sistema adequado para o desenvolvimento da indústria de eólica offshore", avalia o Cebri.
H2V como referência
Além da geração de eletricidade para o consumo dos centros urbanos, a Holanda também associa a eólica offshore à geração de hidrogênio verde. O roadmap do País projeta 27GW de eólica no mar associado a H2V até 2040.
"A criação de ilhas artificiais que funcionam como hubs de energia com a geração de eletricidade e H2 de eólica offshore com o escoamento para diferentes países é objeto de uma cooperação internacional", sinaliza o relatório, que arremata afirmando: "o sucesso dos Países Baixos na rápida queda de custos para eliminação dos subsídios pode fornecer importantes lições ao Brasil."
Segmento no mundo
No mundo, de acordo com os últimos dados da Agência Internacional de Energia (IEA, do inglês), em 2019, havia mais de 5.500 turbinas eólicas offshore conectadas em 17 países. O montante representava 28 gigawatts de capacidade instalada e 84 terawatts-hora de geração de eletricidades - apenas 0,3% da geração global, no entanto.
"Apesar desta participação modesta, a eólica offshore emerge como uma das fontes com maior dinamismo na última década. De 2010, primeiro ano em que sua adição de nova capacidade superou 1 GW, até 2019, o crescimento da capacidade foi de cerca 28% ao ano, sendo superado apenas pelo crescimento da capacidade instalada de painéis solares fotovoltaicos", diz o relatório do Cebri.
O texto aponta ainda a Europa como o continente de "papel central" no desenvolvimento de políticas públicas elaboradas em parceria com a iniciativa privada no intuito de desenvolver esse segmento, com destaque para Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Países Baixos e Reino Unido. O resultado, pelo que aparenta, tem dado certo, uma vez que o continente é responsável por 80% da capacidade global de geração eólica offshore.
"O desenvolvimento da cadeia de valor e evolução da tecnologia produziram uma queda relevante nos custos dos novos projetos de eólica offshore a partir da segunda metade da década anterior. Os novos projetos de eólica offshore recuaram 32% entre 2015-2019, alcançando o patamar de 0,115 US$/kWh, contudo ainda cerca do dobro do custo nivelado da eólica onshore (0,053 US$/kWh) e da solar fotovoltaica (0,068)", aponta o relatório.