A preocupação de que produtos de consumo diário na mesa do brasileiro, tais como pães, macarrão, biscoitos e bolachas subam ainda mais de preço em 2022 aumentou nas últimas duas semanas com o acirramento na tensão entre dois dos maiores exportadores mundiais de trigo: Rússia e Ucrânia.
O insumo é a base para a fabricação dos itens acima citados e, como tem sido de praxe nos últimos anos, mesmo quando há produção nacional de determinada commodity (mercadoria de baixo valor agregado) a flutuação de preços no mercado interno acompanha a cotação dela, feita geralmente em dólar, no mercado externo. Ou seja, mesmo uma contenda diplomática ou militar a milhares de quilômetros do Brasil pode tornar o café da manhã do brasileiro ainda mais caro.
Em 2021, o preço internacional do trigo já havia subido 20,6%, muito em decorrência de quebras de safras ocorridas em diversos países, incluindo o Brasil, por conta de problemas climáticos. Na última segunda-feira, 25, contudo, bastaram 24 horas para o produto subir mais 3%, em média. No dia seguinte, a cotação do trigo no Brasil sofreu o primeiro reflexo da turbulência internacional e chegou a 1,18% de alta. Mas o quanto, efetivamente, esse cenário deve impactar nos valores que chegam às prateleiras dos supermercados? E como essa instabilidade, pode afetar as operações de quem produz derivados de trigo no País?
Respondendo à primeira pergunta, o presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, afirma que o reflexo mais imediato deve ocorrer no preço do pão francês (ou carioquinha), mas que os repasses na cadeia produtiva do trigo até chegarem ao consumidor final devem acontecer de forma gradativa. “No caso das massas, geralmente as indústrias se programam bem para absorver esses impactos, fazem análise de custo sobre o quanto é possível repassar e isso só vai ser sentido, na prática, após, algum tempo. No caso do pãozinho, os repasses costumam ocorrer mais rapidamente pela própria natureza da fabricação diária desse produto”, explica.
Por sua vez, o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, avalia que não vê aumento significativo no curto prazo, mesmo no caso do pão, uma vez que o preço do produto no País teria atingido uma espécie de teto.
“O peso do pão na alimentação é muito grande e com poucas alternativas de substituição, diferentemente do que aconteceu com a carne que subiu muito e acabou saindo do cardápio de muita gente. Então, o pão já está num patamar tão elevado de preço que quem subir demais, não vai vender”, analisa.
O economista Wandemberg Almeida, do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), lembra que o caso de uma crise no Leste Europeu causar tanta preocupação aqui no Brasil decorre do fato de o nosso mercado ser muito suscetível a qualquer tipo de acontecimento no mercado internacional. Então, esses confrontos acabam mexendo muito no mercado financeiro e em algumas commodities que produzimos. Isso tudo acaba refletindo também no bolso do consumidor”.
Ele acrescenta que quem precisa importar trigo já está pagando um preço muito alto por conta da alta do dólar registrada nos últimos dois anos, pelo menos. “Muito do que nós produzimos aqui acaba sendo exportado porque, com dólar alto, as grandes empresas preferem exportar do que vender no mercado interno. Ao mesmo tempo, nós temos uma demanda forte que não consegue ser atendida porque boa parte da mercadoria fica no mercado externo”, pontua.
Essa realidade é enfrentada pelo presidente do Grupo Santa Lúcia, Alexandre Sales. Embora a empresa dele também seja uma das poucas no Norte-Nordeste a ter produção própria de trigo, a maior parte da demanda por trigo para produção de gêneros alimentícios é suprida por meio da importação. “Infelizmente, a gente ainda sofre muito com essa oscilação do mercado. No futuro, nós buscamos chegar à autossuficiência e ter uma estabilidade maior“, projeta.
MERCADO DO TRIGO EM ALERTA
Entenda a questão em 10 tópicos
1 - Depois de alta de 20,6% no preço internacional do trigo em 2021, a tendência é de alta mais acentuada em 2022
2 - Somente na última segunda-feira, o produto teve alta de 3% no mercado norte-americano e de 3,1% no mercado europeu
3 - A principal razão é a tensão entre o maior exportador mundial da commodity, a Rússia, e o sexto maior, a Ucrânia
4 - Os dois países vivem em crise desde 2013, mas houve uma deterioração das relações após movimentações da Ucrânia para entrar na Otan em 2021. Como resposta, a Rússia deslocou milhares de combatentes e equipamentos bélicos para a zona fronteiriça entre os dois países
5 - Com EUA e Otan projetando uma iminente invasão da Ucrânia pela Rússia, o preço do trigo no mercado internacional disparou
6 - O temor é de que um conflito afete não apenas a produção e a exportação do produto, mas também seja impactado por sanções que seriam impostos por EUA e Europa à Rússia
7 - O problema acontece em meio a um quadro de quebra de safra em diversos países, incluindo o Brasil, por adversidades climáticas
8 - No Brasil, a maior variação foi registrada na última terça-feira, 1,18%. Tendo oscilado perto da estabilidade para mais ou para menos ao longo da semana
9 - O País é especialmente vulnerável a grandes variações do preço internacional do trigo, devido a alta cotação do dólar e a opção preferencial pela exportação dos produtores locais
10 - Além da alta no mercado externo, outros fatores que pressionam a alta do preço da mercadoria no Brasil, são o período de entressafra e o fato de produtores estarem capitalizados
Fonte: Trigo/Cepea
Entenda a questão em 10 tópicos
1 - Depois de alta de 20,6% no preço internacional do trigo em 2021, a tendência é de aumento mais acentuado em 2022
2 - Somente na última segunda-feira, o produto teve alta de 3% no mercado norte-americano e de 3,1% no mercado europeu
3 - A principal razão é a tensão entre o maior exportador mundial da commodity, a Rússia, e o sexto maior, a Ucrânia
4 - Os dois países vivem em crise desde 2013, mas houve uma deterioração das relações após movimentações da Ucrânia para entrar na Otan em 2021. Como resposta, a Rússia deslocou milhares de combatentes e equipamentos bélicos para a zona fronteiriça entre os dois países
5 - Com EUA e Otan projetando uma iminente invasão da Ucrânia pela Rússia, o preço do trigo no mercado internacional disparou
6 - O temor é de que um conflito afete não apenas a produção e a exportação do produto, mas também seja impactado por sanções que seriam impostos por EUA e Europa à Rússia
7 - O problema acontece em meio a um quadro de quebra de safra em diversos países, incluindo o Brasil, por adversidades climáticas
8 - No Brasil, a maior variação foi registrada na última terça-feira, 1,18%. Tendo oscilado perto da estabilidade para mais ou para menos ao longo da semana
9 - O País é especialmente vulnerável a grandes variações do preço internacional do trigo, devido a alta cotação do dólar e a opção preferencial pela exportação dos produtores locais
10 - Além da alta no mercado externo, outros fatores que pressionam a alta do preço da mercadoria no Brasil, são o período de entressafra e o fato de produtores estarem capitalizados
Fonte: Trigo/Cepea