Quem trabalha com serviços domésticos foram - de longe - os mais impactados com fechamentos de vagas formais no mercado de trabalho desde o início da pandemia. As domésticas perderam ao todo 7 mil vagas de emprego no mercado formal. Pela ordem, o nível de ocupação por atividade econômica mostra que os serviços domésticos recuaram 28%, enquanto indústria geral (-19%) e transporte, armazenamento e correios (-17,7%) vem na sequência quando comparamos os resultados atuais com os do primeiro trimestre de 2020.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estendendo a análise para um período mais longo, no 1° trimestre de 2019, o Ceará tinha 286 mil pessoas trabalhando no segmento. Ao fim do 3° trimestre de 2021, o número caiu 30,4%, para 199 mil. Essa derrocada chegou a ser pior, de 39,8%, quando no 1° trimestre de 2021 o número caiu para 172 mil. Desde o início da pandemia, a quantidade de pessoas exercendo atividades domésticas caiu de 268 mil para 199 mil, seja com carteira assinada ou na informalidade.
Outro dado preocupante é que a retomada para esse setor tem sido precarizada, uma vez que a empregabilidade vem retomando lentamente com ofertas de vagas sem carteira assinada. A estimativa é que do total de trabalhadores que estejam desempenhando função no serviço doméstico: apenas 26 mil estão com a carteira de trabalho assinada.
"Quando compara os dados atuais com os de antes da pandemia, com relação ao número de trabalhadores formais nesse segmento, percebemos um impacto gigantesco. A queda do nível de contratação desse tipo de trabalhador reduziu em torno de 30% a 35%", afirma o presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) do Ceará, Vladyson Viana.
Isso se deu muito no primeiro momento de lockdown, com a perda de rendimento das famílias, foi um dos serviços que as famílias descontinuaram em suas casas. E, com a retomada das atividades, percebemos que, apesar de novas contratações nesse segmento, elas estão acontecendo sem assinatura da carteira de trabalho, destaca Vladyson.
Tendo em consideração esses dados, o presidente do IDT aponta que observando a situação de todos os setores na economia cearense, dois sofreram mais com o fechamento de vagas: de serviços domésticos e o de alimentação fora do lar. No caso do primeiro, a retomada tem sido mais problemática. "Há uma retomada dos postos de trabalho, mas ou é de forma mais precarizada com carteira assinada ou informal, sendo diarista ou prestadora de serviço. Isso reflete na maior precarização das relações de trabalho e no menor rendimento médio do trabalhador".
Nesse cenário, comparando a variação entre o 3° trimestre de 2021 com o mesmo período em 2021, podemos notar um aumento de 11,9% na quantidade de trabalhadores domésticos trabalhando sem carteira assinada no Ceará, enquanto a quantidade de trabalhadores com a garantia da carteira assinada caiu 3,7%.
É importante destacar que os trabalhadores domésticos estão vivenciando um cenário um pouco diferente dos demais trabalhadores do regime privado. É real que os empregos sem carteira subiram 23,4% no Estado, mas a empregabilidade com carteira assinada manteve desempenho positivo, de 16,26% na comparação entre o 3° trimestre de 2020 com 2021.
A avaliação inicial que se tem é que o quadro de empregabilidade está muito ligado ao cenário macroeconômico. Enquanto a produção de riquezas não melhorar, o mercado de trabalho como um todo deve continuar deprimido. Para o economista da XP Rodolfo Margato, o resultado da Pnad Contínua revela que, apesar da recuperação do emprego, a renda segue em trajetória de queda.
"A inflação persistentemente alta, a ociosidade existente no mercado de trabalho e mudanças relevantes na composição da população ocupada (participação crescente das categorias de emprego informal que, em média, possuem rendimentos mais baixos) são os principais fatores que explicam a tendência cadente do rendimento médio na economia doméstica", afirma.
Ainda segundo as perspectivas da XP, para o fim de 2022, o desemprego deve ficar em 11,6% ao passo em que o Produto Interno Bruto (PIB) deva fechar em zero.
EMPREGO
No índice global de emprego, o patamar de desocupação permaneceu estável no Ceará no início da segunda metade de 2021, variando de 15,1% para 15% entre o 2° trimestre e o 3° trimestre.
PROCURA
Segundo análise da XP, enquanto a população ocupada atualmente está abaixo do nível registrado antes da pandemia no Brasil, a força de trabalho retornou ao patamar observado imediatamente antes do início da crise sanitária, portanto similar a fevereiro de 2020. Isso quer dizer que mais pessoas estão procurando vagas e não encontrando.
CENÁRIO DO EMPREGO NO CEARÁ
Ocupação (em mil pessoas) - Serviços Domésticos - Série Histórica
1° tri/2019: 286
2° tri/2019: 273
3° tri/2019: 262
4° tri/2019: 277
1° tri/2020: 268
2° tri/2020: 176
3° tri/2020: 182
4° tri/2020: 206
1° tri/2021: 172
2° tri/2021: 184
3° tri/2021: 199
TAXA DE DESEMPREGO (%) - Ceará - Série histórica por trimestre na pandemia
1° tri/2020: 12,1
2° tri/2020: 12,1
3° tri/2020: 14,1
4° tri/2020: 14,4
1° tri/2021: 15
2° tri/2021: 15,1
3° tri/2021: 12,4
Estimativas do número de pessoas, segundo atividades de trabalho (em mil pessoas)
Atividade Estimativa 3° tri/2021 Variação 3° tri/2021 - 2° tri/2021
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura 351 10
Indústria geral 449 75
Construção 289 56
Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas 763 44
Transporte, armazenagem e correio 115 2
Alojamento e alimentação 241 -8
Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas 300 3
Administração pública 572 9
Serviço doméstico 199 15
Outro serviço 179 4
TOTAL 3.460 210
Fonte: Pnad Contínua / IBGE