A invasão da Rússia à Ucrânia projeta uma série de impactos sobre a economia brasileira. Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 5,10. Alta de 2,02%. No comércio exterior, empresas nacionais foram responsáveis por movimentar US$ 7,27 bilhões entre exportações e importações com Rússia e mais US$ 438,25 milhões com a Ucrânia, em 2021 - negócios onde a compra de fertilizantes são maioria e que se tornam ameaçados no cenário atual. A influência internacional da produção russa de trigo, petróleo e gás também deve elevar as cotações e encarecer os combustíveis no Brasil em torno de 10%, além de acelerar aumentos sobre pães, massas e biscoitos.
Em Fortaleza para um evento do Banco do Nordeste, a ministra Teresa Cristina (Agricultura, Abastecimento e Pecuária) minimizou a gravidade, apesar de reconhecer a preocupação, e afirmou que "Brasil importa fertilizantes de vários países do mundo."
"Temos que ver o que vai acontecer. Nós temos outras alternativas para substituir se tivermos problemas em alguns desses países. Com certeza, o Ministério trabalha nisso diuturnamente, acompanhando as cadeias produtivas afetadas. Acabei de voltar do Irã, onde houve oferta de fertilizantes enorme para o Brasil. Temos que fazer alguns ajustes. Enfim, tem outros países como o Canadá, de onde somos grandes importadores, temos poder para fazer essas substituições", avaliou.
Quando o assunto são os combustíveis, as projeções não são tão otimistas. Caso o conflito se intensifique ou se alongue por mais tempo, os consumidores brasileiros poderão ter que pagar, em média, até R$ 9,50 pelo litro da gasolina comum. "Se o conflito se intensificar e envolver outras nações, teremos uma escalada de preços muito maior. O mesmo vale para implementação de sanções comerciais à Rússia", projeta Ricardo Pinheiro, engenheiro de petróleo e diretor da RPR Engenharia e Consultoria. O especialista revela ainda que além das questões políticas para a crise, a disputa pelo mercado energético, com a venda de gás natural para Europa, é um agravante do conflito, o que gera impactos ainda maiores no mercado internacional desses produtos.
Porém, Ricardo não exclui a possibilidade do preço ultrapassar R$ 10 em algumas localidades do País. "Esse impacto depende de muitos outros fatores, temos a questão de estoque, armazenamento, alíquota do ICMS, e a inflação acumulada sobre os combustíveis em cada região, sem uma intervenção estatal no preço, se mantivermos essa política de paridade de preço, os aumentos serão muito expressivos e imediatos", complementa.
Ontem, 24, logo após a confirmação da invasão russa à Ucrânia, o mercado internacional entrou em instabilidade, registrando uma escalada de preços no barril do petróleo. Pela primeira vez desde setembro 2014, o preço do barril do petróleo Brent, extraído em regiões da Europa e Ásia, alcançou os US$ 100,04 (dólares). Ao do dia, o produto computava alta de cerca de 8%. As projeções indicam que, caso o conflito se intensifique e dure por mais tempo, o preço do barril de petróleo poderá atingir o patamar de US$ 120 até o fim de fevereiro.
Aumentos dos produtos derivados de trigo já são esperado no mercado brasileiro. No Ceará, sede de algumas das principais indústrias de pães, massas e biscoitos, o Sindicato da Indústria de Panificação (Sindipan-CE) aponta que o encarecimento dos produtos processados com o insumo devem vir em breve.
Isso deve ocorrer porque Rússia e, principalmente, a Ucrânia são grandes produtores internacionais de trigo. O temor é que o Brasil, que precisa importar boa parte do trigo utilizado na indústria de alimentos é importado, principalmente da Argentina e dos Estados Unidos. O presidente do Sindipan-CE, Ângelo Nunes, destaca o cenário conturbado que já preocupa empresários.
"Quando tem algum fator que vem prejudicar o fornecimento mundial, os países serão atendido pelos outros produtores. E com a demanda aumentando e a oferta aumentando, o preço deve subir no mercado. Ainda está no início, mas estamos em alerta com esse risco, ainda não foi anunciado nenhuma alta, mas isso que se fala e espera no mercado a partir de todos esses fatores", afirma.
Ângelo acrescenta ainda que, mesmo as indústrias que firmam contratos de longo prazo, devem ser impactadas, pois o comportamento do mercado é imprevisível após o choque na oferta. "Nas próximas semanas aguardamos o impacto."
Em entrevista à Rádio O POVO/CBN, a gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina Frota, destaca que a relação direta entre Ceará e Ucrânia é pouco representativa em importações, mas é mais relevante quando falamos das compras ucranianas de produtos cearenses como os calçados e as frutas.
Analisando o impacto imediato da invasão russa na Ucrânia para o mercado, Karina observa que os mercados de todo mundo estão preocupados pela escalada da tensão. "Nós sabemos que terá impacto por envolver exportadores de commodities agrícolas, de energia. E já percebemos que o preço do petróleo atingiu um valor máximo desde 2014." (Armando de Oliveira Lima/Alan Magno/Samuel Pimentel)
Quais as projeções de preços no Ceará com o avanço da guerra?