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Guerra se expande para o mundo virtual e também preocupa Brasil
Economia

Guerra se expande para o mundo virtual e também preocupa Brasil

|RÚSSIA X UCRÂNIA| Ciberataques feitos contra sites dos dois países em conflito e restrições a redes sociais por Moscou também podem afetar usuários ao redor do mundo, alertam especialistas
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Grupo hacker Anonymous que usa referências do filme V de Vigança, assumiu autoria de ataques a sites russos  (Foto: DivulgaçãoWarner Bros)
Foto: DivulgaçãoWarner Bros Grupo hacker Anonymous que usa referências do filme V de Vigança, assumiu autoria de ataques a sites russos

O segundo dia de conflitos entre russos e ucranianos foi marcado, entre outros aspectos, por uma série de ataques cibernéticos que tiveram como alvo sites de governos dos dois países do Leste Europeu.

O fato de a Rússia ser considerada também uma potência em questões como ciberataques e cibersegurança traz preocupações também para usuários da internet e de sistemas ligados a ela no mundo inteiro, inclusive, no Brasil, caso o conflito assuma proporções ainda maiores e envolva outras nações.

Em sua estratégia de guerra total para depor o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky (ou, pelo menos, conseguir impor suas condições para uma trégua) o governo do presidente russo Vladimir Putin, segundo especialistas, já vinha se preparando para desferir um ciberataque há, no mínimo, três meses.

Entre eles um malware de "limpeza de dados" ativado ainda na quarta-feira, 23, que, segundo pesquisadores de segurança cibernética, infectou centenas de computadores, incluindo aparelhos da Letônia e da Lituânia. Moscou também aplicou restrições a redes sociais como Facebook e Twitter.


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Por outro lado, sites russos também sofreram ataques de negação de serviço provavelmente em retaliação ao que ocorreu nas plataformas ucranianas. As páginas das forças armadas da Rússia (mil.ru) e do Kremlin (kremlin.ru), hospedados na rede estatal de internet russa, ficaram inacessíveis ou lentas.

Ontem, a propósito, o grupo hacker Anonymous declarou guerra cibernética contra a Rússia e assumiu a autoria do ataque à página do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, que teve seu site derrubado pelo grupo.

"A Rússia já utilizou recursos como esses para gerar alguma instabilidade em serviços críticos nos países com os quais não simpatiza. Sobre o país pesam muitas acusações de ciberataques, entre outros usos de tecnologia da informação com objetivo de intervir nos Estados Unidos, por exemplo", exemplifica o CEO da Morphus, Rawlison Brito.

Ele lembra que o uso desse tipo de arma cibernética tem potencial para afetar empresas, entidades, instituições governamentais e usuários mundo afora. No Brasil, um exemplo recente dos danos que um ataque hacker pode causar foi a ação que tirou do ar o site das Americanas e gerou um prejuízo estimado em mais de R$ 100 milhões por dia à empresa.

Apesar da análise, o executivo considera que o próprio advento da pandemia de Covid-19, que exigiu a adaptação de uma série de processos para o trabalho remoto, deixou as instituições, de um modo geral, e, principalmente, as empresas de capital aberto mais bem preparadas em termos de proteção contra ataques hackers.

“Essas empresas de todos os segmentos passaram a ser mais cobradas, pelos seus respectivos conselhos administrativos, para investir nessa área. Para se ter ideia, o salário de alguns profissionais de tecnologia da informação dobrou ou até quadruplicou nos últimos dois anos”, conclui.

Segundo relatório, a Receita Federal dos Estados Unidos apreendeu US$ 3,5 bilhões em criptoativos (equivalente a R$ 20 bilhões) durante o ano fiscal de 2021
Segundo relatório, a Receita Federal dos Estados Unidos apreendeu US$ 3,5 bilhões em criptoativos (equivalente a R$ 20 bilhões) durante o ano fiscal de 2021

Criptoativos também sofrem efeitos do conflito mas começam reação

Nas guerras do século XXI, embora permaneça forte o ruído dos mísseis e dos canhões, os primeiros ataques se dão no mundo virtual. É também no ciberespaço que as primeiras consequências econômicas de um conflito começam a aparecer. Esse é o caso do mercado de criptoativos.

O consultor financeiro e criador do canal Vela Trader, Diego Velasques, lembra que "o mercado cripto começou a cair nas últimas quatro semanas, devido à iminência de um conflito da Rússia com a Ucrânia. Só que, na verdade, quando o conflito aconteceu de fato foi o ponto final da queda e a gente começou uma recuperação que já subiu cerca de 20% do fundo do movimento".

Nesse sentido, ele avalia que "o mercado de criptomoedas já absorveu e precificou toda essa informação de guerra, muito antes dela acontecer. Então, mesmo que o conflito se prolongue, a não ser que se alastre para outros países, o preço da criptomoedas não deve ser novamente impactado".

Para além das questões mercadológicas, o consultor financeiro acrescenta também outros fatores que explicam a valorização dos criptoativos, a partir do início do conflito. "Diante do cenário que a gente está vivendo hoje de guerra ou em situações como a que ocorreu recentemente no Canadá, quando há bloqueio de bens, as criptomoedas como o Bitcoin não são passíveis de bloqueio."

Por outro lado, no mercado convencional, o segundo dia da guerra russo-ucraniana foi marcada por nova alta do dólar. Depois de ter subido 2,02% na véspera, ontem, a moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,15. Alta de 0,99%.

As bolsas de valores, no entanto, voltaram a se recuperar. Em parte, em razão da resposta cautelosa do Ocidente, na forma de sanções econômicas e financeiras. Em Londres, a bolsa fechou com alta de 3,91%, os ganhos em Nova York atingiram 2,51% (Dow Jones) e, no Brasil, o Ibovespa fechou com alta de 1,39%.

O petróleo Brent que no dia anterior chegou à máxima de US$ 105 o barril, ontem, recuou para US$ 94.

Em live transmitida pelo O POVO, a presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Silvana Parente, afirmou, no entanto, que o momento é de muita cautela e preocupação. "O cenário de uma guerra tem repercussão mundial. Hoje a economia está conectada em tempo real. O primeiro impacto é no preço do petróleo e do gás, depois em preço de insumos como o trigo que é um outro fator que nos leva à inflação, de uma maneira geral. Tem ainda o milho. Até o preço da cerveja será impactado. Somos ainda muito dependentes dos fertilizantes com origem russa. Então, tínhamos uma expectativa de queda da inflação com as altas recentes da Selic que fica comprometida e obriga o Banco Central a interferir ainda mais para tentar contê-la."

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