Embora pese na composição de preços, a carga tributária do Brasil não foi o que mais impactou para valores dos combustíveis aumentarem ou diminuírem. Levantamento O POVO em momentos em que governos dos estados ou Federal decidiram zerar ou congelar impostos mostra que foi a cotação do barril de petróleo que mais chegou ao bolso do consumidor. O questionamento levantado é sobre a forma como os impostos são cobrados e em relação à política de preços da Petrobras.
Em meio ao cenário de instabilidade, a pior solução, segundo o consultor na área de Petróleo e Gás, Bruno Iughetti, seria reeditar medidas que cortam impostos sobre o preço final dos combustíveis, assim como o Governo Federal fez em março de 2021. Analisando a medida após um ano, ele destaca que seu custo bilionário foi em vão, pois a reverberação nos valores foi "nula".
"O governo promoveu uma pífia movimentação em zerar Pis/Cofins, sendo uma ação isolada e pouco significativa, pois representam em torno de 6%, e o resultado para o consumidor foi praticamente inexistente", analisa.
De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) levantados pelo O POVO, a média de preços da gasolina, diesel e gás de cozinha (GLP) praticados no Brasil, no período em que presidente e governadores anunciaram cortes de arrecadação com intenção de reduzir ou amenizar a pressão nos combustíveis, mostra que essas ideias representam pouco ou quase nada nos seus objetivos.
Para Bruno, o cenário de volatilidade não é positivo para o consumidor brasileiro, e agora, com a guerra da Rússia, que é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, o conflito deve gerar uma pressão de demanda que fará com que os preços do barril de petróleo fiquem acima do normal.
A alta nos valores das bombas deve vir em até um mês, devido à defasagem que a estatal vem adotando no repasse do movimento no mercado internacional. O indicador Brent, por exemplo já chegou a atingir US$ 100 no primeiro dia de conflito, quando estava em US$ 77,78 em 1º de janeiro deste ano.
"Vejo com uma ótica um tanto cética, porque nesta crise entre Rússia e Ucrânia o preço do petróleo não deve cair abaixo de 100 dólares até que esse conflito acabe".
O consultor ainda diz que cortar impostos não é solução, mas repensar a forma como os impostos estaduais são cobrados - com regime monofásico para o ICMS, incidindo na origem - ou, o que considera o mais factível, a criação de um fundo de estabilização, que equalizaria os preços e pesaria menos o valor para o consumidor.
MOVIMENTAÇÃO DE PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS
>> Quando o Governo Federal zerou contribuições PIS Cofins sobre óleo diesel e gás de cozinha de uso residencial (2 de março de 2021)
Diesel
28/2: R$ 4,230
7/3: R$ 4,233
14/3: R$ 4,274
21/3: R$ 4,269
GLP
28/2: R$ 81,40
7/3: R$ 83,53
14/3: R$ 83,15
21/3: R$ 83,25
Barril de petróleo Brent
28/2: US$ 66,13
7/3: US$ 69,36
14/3: US$ 69,22
21/3: US$ 64,53
Cotação do dólar
28/2: R$ 5,641
7/3: R$ 5,690
14/3: R$ 5,551
21/3: R$ 5,491
>> Quando os governadores dos estados congelaram o Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final (PMPF), que serve de base de cálculo do ICMS (1° novembro/2021 a 31 de janeiro/2022)
Gasolina
31/10/21: R$ 6,710
14/11/21: R$ 6,752
5/12/21: R$ 6,708
2/1/22: R$ 6,596
6/2/22: R$ 6,617
Diesel
31/10/21: R$ 5,339
14/11/21: R$ 5,356
5/12/21: R$ 5,354
2/1/22: R$ 5,344
6/2/22: R$ 5,589
GLP
31/10/21: R$ 102,47
14/11/21: R$ 102,26
5/12/21: R$ 102,54
2/1/22: R$ 102,55
6/2/22: R$ 102,46
Barril de petróleo Brent
1°/11/2021: US$ 84,71
1°/12/2021: US$ 68,87
1°/1/2022: US$ 77,78
31/1/2022: US$ 91,21
Cotação do dólar
1°/11/2021: R$ 5,681
1°/12/2021: R$ 5,695
1°/1/2022: R$ 5,570
31/1/2022: R$ 5,304
>> Rússia e Ucrânia (24 de fevereiro de 2022)* mais congelamento do ICMS em todos os combustíveis prorrogado em 26 de janeiro a 31 de março
Gasolina
5/2: R$ 6,637
12/2: R$ 6,617
19/2: R$ 6,583
26/2: R$ 6,560
Diesel
5/2: R$ 5,587
12/2: R$ 5,589
19/2: R$ 5,575
26/2: R$ 5,591
GLP
5/2: R$ 102,27
12/2: R$ 102,47
19/2: R$ 102,65
26/2: R$ 102,36
Barril de petróleo Brent**
17/2: US$ 92,57
22/2: US$ 96,84
24/2: US$ 99,08
25/2: US$ 97,93
**Previsão é chegar a US$ 130
Cotação do dólar
17/2: R$ 5,171
22/2: R$ 5,058
24/2: R$ 5,123
25/2: R$ 5,162
*ainda não houve impacto do aumento do barril de petróleo, pois, segundo Bruno Iughetti, ele chega depois de um período.
Fonte: ANP
Avaliação do mercado
Por meio de relatório, a XP Investimentos analisou o cenário após o início dos ataques russos à Ucrânia e como o mercado brasileiro seria impactado, especialmente do ponto de vista da pressão sobre o preço do barril de petróleo no mercado internacional.
"Com a alta tensão geopolítica, o fornecimento dessas commodities deve ficar fortemente comprometido, acentuando ainda mais os gargalos na cadeia de suprimentos e aumento dos preços das commodities, observados desde a rápida retomada econômica pós ápice da pandemia. Além disso, as atividades devem ter seu ritmo reduzido, já que, a primeira reação, por parte tanto dos investidores quanto da economia real, a choques desse tipo é segurar os planos", segundo análise da XP.
Um dos efeitos, segundo a avaliação, é a manutenção das políticas dos bancos centrais, que já lidavam com uma inflação mais alta do que o esperado, deveriam seguir seu curso, mas a questão agora é quão agressivos seriam. No Brasil, as taxas poderiam ser mantidas mais altas por mais tempo para conter o choque inflacionário.
Guerra na Ucrânia: analistas já veem barril de petróleo na casa dos US$ 130
Investidores de Wall Street apostam que o movimento de alta que levou a cotação do barril de petróleo a mais de US$ 105, apurado na semana passada após o início da invasão russa à Ucrânia, seja apenas o começo de uma trajetória de elevação. Alguns consideram que a cotação possa se aproximar do recorde de 2008, quando se aproximou de US$ 150, devido às limitações globais de oferta.
A consultoria Rystad Energy aposta em patamar próximo de US$ 130 se a situação na Ucrânia piorar, enquanto analistas do JPMorgan acreditam que o petróleo pode chegar a US$ 120. O diretor executivo de futuros de energia da Mizuho Securities, Robert Yawger, projeta que o petróleo pode chegar a US$ 125 se o conflito no leste europeu piorar.
O petróleo Brent, o indicador global dos preços do material, terminou a semana com o barril a US$ 94,12 e o petróleo norte-americano (WTI), a US$ 91,59. Ambos os indicadores, porém, chegaram a US$ 100 na quinta-feira, 24, pela primeira vez desde 2014.
Embora o choque de oferta deva levar a um aumento nos preços da gasolina na bomba, os investidores não estão apostando em uma desaceleração na demanda e dizem que a expectativa é que o mercado de alta de commodities continue. Com esse cenário em vista, o governo do presidente americano Joe Biden disse que está considerando liberar estoques estratégicos domésticos de petróleo para aliviar a pressão sobre os consumidores.
A Rússia responde por mais de 10% da produção mundial de petróleo, gás natural e trigo. As commodities representam uma grande parte da pegada econômica global do país, que também é um dos principais produtores de potássio, insumo fundamental para fertilizantes, além de paládio e platina, metais vitais para os conversores catalíticos que filtram as emissões dos carros. (*COM DOW JONES NEWSWIRES)