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Dólar baixo impulsiona compra de moedas, mas não afeta preços dos alimentos
Economia

Dólar baixo impulsiona compra de moedas, mas não afeta preços dos alimentos

| Cotação | Inflação alta, juros caro, impactos da Covid-19 e da guerra, e dificuldades logísticas estão entre os fatores que dificultam esse processo
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DÓLAR baixo ainda não impacta os preços dos produtos (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita DÓLAR baixo ainda não impacta os preços dos produtos

O dólar comercial fechou ontem cotado a R$ 4,65. Alta de 1,09% ante o dia anterior, mas ainda assim um dos patamares mais baixos dos últimos dois anos. A cotação da moeda americana, aliás, vem caindo de forma consistente em 2022 e desde o dia 21 de março fecha o dia sempre abaixo de R$ 5. Se por um lado esse cenário tem provocado uma intensa procura nas casas de câmbio e produzindo reflexos positivos para determinados tipos de investimentos, por outro, ainda passa longe de uma tão esperada redução no preço dos alimentos.

Especialistas alertam, porém, que a questão não é tão simples e direta. Conforme explica o analista de finanças corporativas do escritório Arêa Leão, João Lucas Frota, o preço dos alimentos vários fatores e mesmo com o dólar caindo o custo permanece alto.

A falta de uma logística mundial adequada, fretes mais caros por conta dos combustíveis, reflexo da pandemia e da guerra da Rússia, que estimulou o aumento da exportação de commodities brasileiras, estão entre alguns fatores responsáveis pelos altos custos na alimentação do brasileiro.

“Vários fatores interferem no preço dos alimentos e a inflação no brasil ainda é grande. A expectativa é que tenhamos aumentos menores nos alimentos e outros setores daqui para frente. A questão é que a política monetária global pode mudar de um dia para o outro”, declara.

Ele reforça que quando o Banco Central aumenta a taxa de juros não é imediatamente que vem a inflação e o que estamos vivendo é um reflexo dos aumentos constantes dos últimos anos. “A próxima taxa de juros anunciada pelo Banco Central deve estar entre 12,75% e 13%”, acredita Frota. Atualmente, a taxa Selic está em 11,75% ao ano.

Por que o dólar está caindo?

O especialista explica que a queda do dólar também está atrelada a muitos fatores, entre os principais ele cita a alta taxa de juros no Brasil, a venda de commodities brasileiras e a redistribuição dos fundos de investimentos que aplicavam na Rússia. “A bolsa brasileira é feita de commodities e bancos, tem o fluxo do mercado de capitais e outro da renda fixa, que atrai os investimentos estrangeiros”, informa.

Outro ponto de atenção, segundo ele, é que com a guerra, muitos fundos internacionais estão retirando o dinheiro da Rússia e distribuindo entre  países emergentes como Brasil, Índia e China. Quando falamos em projeções futuras para o dólar ele avalia que deve ficar entre R$4 e R$ 5, pois o Brasil tem subido suas taxas de juros, mas os outros países também, a exemplo dos Estados Unidos e da Alemanha.

“Essa subida que vai ser mais pausada nos outros países causa impacto e concorrência. Essa taxa subindo pode manter ou aumentar o dólar no Brasil”, prevê.

Eliardo Vieira, consultor e especialista da área financeira, avalia que o cenário está muito imprevisível para fazer projeções do comportamento da moeda americana. “Estamos saindo de um dólar a R$5,90 e indo para R$4,70 dentro do mesmo ano. É uma queda importante dentro desse cenário econômico mundial. O câmbio começa a apreciar e o real vai ficando um pouco mais forte diante do dólar e, também, do euro”, revela.

Para ele, os alimentos não caem de valor, porque ainda existe um impacto inflacionário muito grande e o preço dessas commodities, problemas de logísticas no mundo e a falta de contêiner interferem nesses valores. “O mundo ainda se ajusta a Covid-19 e a guerra da Rússia. Existe uma grande lacuna no sistema de logística global, especialmente o marítimo, e os custos são altos. Além da falta de produtos”, constata.

Desta forma, a inflação, variação cambial e as dificuldades de logística, os altos custos dos combustíveis impactam no bolso do consumidor. “Esse não é um problema apenas do brasileiro, os Estados Unidos, a Alemanha e outros países estão enfrentando inflação recorde que não se via há décadas, com projeções de até 7% ao ano. Com isso, toda cadeia global de suprimento ainda está muito impactada e isso produz aumento no mundo todo”, afirma.

PODCAST VOO 168 BASTIDORES

28/08/2018. REUTERS/Marcos Brindicci,dólar
28/08/2018. REUTERS/Marcos Brindicci,dólar

Procura por moedas estrangeiras cresce 80% em Fortaleza

Com a queda brusca de 21% no dólar nos últimos meses, a busca pela moeda americana é crescente nas casas de câmbio em Fortaleza. Mas não só dela: o euro também está em alta neste mercado.

Segundo o diretor de operações da Sadoc Corretora de Câmbio, Breno Cysne, de modo geral, a procura por moedas estrangeiras entre janeiro e abril deste ano aumentou 80%.

Ele explica que, para além dos preparativos para retomada de viagens internacionais, muitos brasileiros estão aproveitando o momento para quitar compromissos internacionais, além de investimentos em imóveis e fundos, principalmente nos Estados Unidos e Portugal.

Outra surpresa do executivo é que, pela primeira vez, as casas de câmbio estão vendendo mais euro do que dólar, numa proporção 60% para 40%. "Ainda não sabemos os motivos, mas acreditamos que seja porque a Europa abriu as fronteiras primeiro, os Estados Unidos estão com demora grande no visto e tem também a questão da vacinação, que é mais acessível para quem não se vacinou em alguns locais da Europa", analisa Cysne.

A diferença entre as duas moedas que antes chegava até R$ 1,20, atualmente, tem paridade de R$ 0,50. Chama atenção também a elevação nas operações internacionais no Ceará. "Estrangeiros comprando imóveis aqui, mesmo sem visitar, desde 2020. Faziam o fechamento de câmbio e muitos começaram a vir para conhecer os locais somente a partir de julho do ano passado", comenta.

A queda do dólar também está impulsionando a retomada do turismo internacional. De acordo com pesquisa realizada pela Decolar.com, em fevereiro deste ano houve um acrescimento de 50%, em relação a igual período de 2021. Já em março, a elevação foi mais tímida, na casa de 25%.

"Além da baixa do dólar, a vacinação impacta positivamente os países a receberem os brasileiros. A procura maior está em lugares da América do Sul, como Peru e Chile, e da América Latina, o México, pois tiveram alta desvalorização do dólar", comenta o conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon), Álvaro Carvalho, que acredita na redução maior da moeda americana, chegando entre R$ 4,15 e R$ 4,20 nos próximos meses.

 

Moeda

O dólar turismo (moeda física negociada nas casas de câmbio) fechou o dia ontem cotada entre R$ 4,94 e R$ 5,02 em Fortaleza, segundo levantamento da plataforma Melhor Câmbio

 

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