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Atraso no envio e recebimento de cargas
Economia

Atraso no envio e recebimento de cargas

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O POVO também questionou a Companhia do Complexo do Pecém com relação aos relatos de atrasos no funcionamento das operações industriais diante dos longos congestionamentos e acidentes frequentes na principal via de acesso ao equipamento, bem como sobre a interrupção no fluxo de cargas por meios terrestres diante do bloqueio da via pelos caminhões atolados.

Em resposta, o Complexo afirma que irá investigar a situação, e, por meio de nota, reforça que todas as operações do equipamento seguem dentro da normalidade, apesar do bloqueio na via de acesso.

"O Complexo do Pecém informa que, nesta quinta-feira, 21, seguem dentro da normalidade as operações de carga e descarga nos portões (gates) de acesso do Porto do Pecém e da ZPE Ceará. Reafirmamos ainda o compromisso com a segurança em todas as nossas operações", destaca o posicionamento.

O presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Ceará (Sindace), Sérgio Amora, porém, destaca que as transportadoras e empresas exportadoras do Estado registram prejuízos com relação às condições da via de acesso ao Complexo desde 2014. 

"Diariamente nós estamos tendo problemas com atraso da entrega das nossas cargas. Os clientes contratam as transportadoras, acertam com os navios o horário para embarque e o navio nos dá um deadline, um tempo limite para que possamos embarcar a carga, mas com os caminhões atolando, muitos clientes perdem esse prazo, perdem a mercadoria e ficam no prejuízo", relata. 

Veja vídeo do local onde os caminhões atolaram 

O aumento gera uma despesa maior para empresa, que ainda corre o risco de ter um imprevisto de tempo ainda maior, "tempo é dinheiro, e com essa rodovia, ambos estão sendo perdidos", acrescenta.

Ao menos 20 caminhões chegam atrasados todos os dias ao Complexo, e um número ainda maior não consegue chegar a tempo de embarcar a mercadoria, conforme pontua Sérgio. Ele revela que se tratando de uma avaliação temporal, as condições da CE-155 e os constantes atolamentos e incidentes com os veículos de cargas fazem com que as empresas gastem o dobro de tempo necessário para acessar a área de embarque e desembarque de cargas do Pecém.

Percursos que levariam 30 minutos, diante dos recorrentes engarrafamentos, chegam a levar até cinco horas para serem concluídos, conforme avalia Sérgio. O presidente do Sindace destaca que os prejuízos podem ser "muito mais graves" se tal situação se mantiver até o próximo período de safra de frutas, quando aumenta consideravelmente o envio de cargas pelo Pecém. 

A problemática se intensifica diante da concentração do fluxo de cargas na CE-155. Na avaliação de Sérgio, se o Estado implementasse autorizações para que outras vias que também dão acesso ao Pecém recebessem fluxo de veículos pesados, o próprio desempenho do porto seria intensificado.

"O governo ainda não entendeu a importância de melhorar o acesso ao Pecém, continua fazendo propaganda dizendo que o porto do Pecém é maravilhoso, que está batendo recordes, mas nós poderíamos estar muito melhores se houvesse a humildade de reconhecer esse grave problema de acesso", finaliza Sérgio ao mencionar que tal situação é um dos gargalos para atração de novos investimento no Complexo Industrial e Portuário.

Prejuízos econômicos

Os impactos financeiros incluem o aumento do número de manutenções na frota de caminhões das transportadoras, maior tempo com veículos parados, sem contar a insatisfação de clientes e motoristas. "Esse é um problema tão antigo e recorrente que nós já incluímos os gastos com esses reparos extras e incidentes nas despesas fixas do mês", revela Adilson Benega, diretor da Unilink transportes. 

Com frota de 40 caminhões para curta e média distância, cobrindo toda Grande Fortaleza e 20 outros veículos para trajetos de longa distância, a empresa pontua que as condições da via geram problemas graves: "Se o caminhão cair em um dos buracos, ele não vai furar o pneus, vai estourar, sem nenhuma chance de reparo, quebra mola, suspensão, tudo", acrescenta Adilson. 

O gestor destaca ainda que devido as condições da via, a empresa passou a gastar mais com paradas obrigatórias dos caminhões, teve de aumentar o número de revisões preventivas e que quanto maior é a demanda de fluxo de cargas para o Pecém, maiores são os incidentes registrados com a frota.

"Passamos dois anos quase parados por causa da pandemia, a demanda agora está voltando, e está bem aquecida, mas a rodovia atrapalha, quanto mais mandamos caminhões pra lá, maior são os problemas que enfrentamos", pontua. 

Além do prejuízo próprio, que gera uma redução do lucro, e se agrava diante do aumento generalizado de preços, em especial dos combustíveis, Adilson pontua que a empresa corre o risco ainda de gerar danos na carga transportada caso o caminhão atole ou caia em algum buraco. A preocupação, conforme o executivo, é constante e trava o processo de retomada econômica das empresas, além de prejudicar o fluxo logístico. 

"Não podemos só culpar a chuva, sempre choveu no mundo todo e em outros locais a infraestrutura rodoviária não é desse jeito. Teve descaso, faltou preocupação e cuidado com toda essa situação. Agora, de fato, estamos vendo uma força-tarefa de obras públicas para minimizar a situação, mas precisamos é que isso não volte a acontecer", argumenta. 

Adilson afirma ter esperança de que o problema seja resolvido, mas lamenta a lentidão com que as obras emergenciais de reparo no local são feitas. "Isso tem nos atrapalhado bastante, feito a gente perder dinheiro e não é de hoje, atrapalha todas as transportadoras e empresas que querem escoar mercadoria pelo Pecém, e não só por lá, saindo do porto e vindo pras cidades as estradas também tem muitos problemas", complementa. 

Com colaboração das jornalistas Beatriz Cavalcante e Karynne Lane 

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