Esse cenário de baixo crescimento econômico associado à alta generalizada de preços tem, no caso do Brasil, outro fator de aceleração que é o aumento expressivo das tarifas de energia elétrica.
Somente na última autorização feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), companhias energéticas que atuam em cinco estados reajustaram suas tarifas acima da inflação acumulada nos últimos 12 meses.
A alta mais expressiva foi autorizada para a Enel Ceará, média de 24,88% (aproximadamente o dobro da inflação registrada em um ano), e está sendo alvo de mobilização de órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público do Ceará, além dos parlamentos estadual e federal.
Tais reajustes têm, assim como o caso da alta dos combustíveis, potencial para gerar uma reação em cadeia sobre praticamente todos os elos do setor produtivo e acentuar esse fenômeno que os analistas chamam de estagflação.
Segundo o economista Fábio Castelo Branco, que também integra o Corecon-CE, "com o aumento do preço da energia, há o repasse para o consumidor em forma de elevação de preços nos produtos. Isso gera mais pressão inflacionária e faz que o consumidor retraia o consumo de determinados bens ou serviços".
Ele prossegue argumentando que, nesse cenário, "a economia como um todo se desaquece e se chegue ao quadro de estagflação. Esse é um processo em paralelo de estagnação com inflação, que é uma situação bem atípica na economia, mas que faz com que o consumidor sofra mais, com a redução do poder de compra, já que os reajustes salariais, em geral, não têm acompanhado a inflação. Com menos capacidade de consumo, a economia como um todo se desaquece, retroalimentando essa estagnação".
Por sua vez, o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE), Raul Santos, lembra que "combustível e energia estão na base de todo o processo produtivo, já que estão ligados diretamente a produção e logística. O aumento deste dois itens foram ocasionados por fatores externos (guerra e retomada global pós-pandemia) e também internos (demanda maior que oferta e retomada brusca da atividade econômica)".
Santos, que é também sócio fundador da SGS Investimentos, elenca alguns fatores que não permitem vislumbrar uma queda significativa na tendência inflacionária no Brasil. "As cadeias produtivas globais ainda não se restabeleceram, temos um ano eleitoral para cargos majoritários, a pandemia cedeu mas não acabou definitivamente e as incertezas em relação a guerra, deverão deixar pressionado o ambiente socioeconômico".