O Ceará conta com uma de cada quatro empresas de origem portuguesa constituídas no Brasil, conforme a Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil (FCPCB). Isso representa, pelo menos, 1.200 empresas constituídas no Ceará com capital português. No total nacional, são pouco mais de 4 mil empresas. Os dados são de 2020, mas refletem as mais recentes movimentações aferidas nas relações bilaterais daquela nação europeia com o País e, mais particularmente, com o Estado.
Para o presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil (FCPCB), Armando Abreu, “a grande virtude do Ceará é que as diferentes administrações, que se sucederam, conseguiram criar um excelente ambiente de negócios. Nós temos investimentos, hoje, no agronegócio, no turismo, no setor de energia, na construção civil, mas, principalmente em termos de tecnologia da informação. Nós não podemos esquecer que Fortaleza tem a convergência de 14 cabos de fibra óptica”.
Entre os municípios, São Gonçalo do Amarante é o que recebe o maior volume de investimentos, quase US$ 2,3 bilhões naquele ano, ou 76% do total investido no Ceará com capital português. Fortaleza vem bem atrás com US$ 485 milhões. A razão dessa concentração está no Complexo Industrial e Portuário do Pecém e deve se intensificar, a partir do desenvolvimento da cadeia de produção do hidrogênio verde (H2V), que desperta grande interesse de investidores daquele país europeu.
Sobre esse potencial do H2V em particular, Abreu ressalta que “em 27 anos que estou aqui, nunca vi uma convergência tão grande em termos de governos, empresários e instituições, em torno disso”. No mesmo sentido, o presidente da Câmara Brasil-Portugal no Ceará, Eugênio Vieira, “o hidrogênio verde é um grande potencial de negócios entre os dois países. Naturalmente, a situação geopolítica está levando esse processo a uma aceleração”.
Ele lembra que “Portugal tem toda uma estrutura também, por meio do Porto de Sines, para receber a amônia que é a forma pela qual se transporta esse hidrogênio. Eles estão alguns anos adiantados em relação ao Ceará, em termos de infraestrutura, mas tenho certeza que é um grande potencial de negócios. Os primeiros investimentos em energias renováveis em território cearense foram feitos por portugueses”.
Já o secretário da Internacionalização de Portugal, Bernardo Ivo Cruz, destacou que o Ceará é também “o Estado que tem mais investimento direto português no Brasil inteiro. A lógica da economia do Ceará é muito próxima da lógica da economia de Portugal. É a sustentabilidade, o hidrogênio verde, a chamada economia azul ou do mar. Estamos muito alinhados quanto ao que deve ser o futuro da economia mundial.”
Tanto as declarações quanto os dados apresentados foram feitos no contexto da realização em Fortaleza da IX Reunião Anual de Câmaras de Comércio Portuguesas, que congrega 62 entidades do tipo por 22 países, sendo 18 delas apenas no Brasil. O evento foi o primeiro realizado no pós-pandemia e também o primeiro realizado em território nacional. A última edição em 2019 ocorreu em Marrakesh, no Marrocos.
Além das questões econômicas, o encontro serviu de oportunidade para discutir também as afinidades e as diferenças que existem nos dois países. Para o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, “testemunhamos aqui a importância da relação portuguesa com os diversos Brasis. O Ceará é um deles e um mar de oportunidades, de negócios, de intercâmbio cultural e de intercâmbio institucional”.