A taxa média de juros no Brasil para a pessoa física chegou a 6,62% ao mês e 115,81% ao ano em abril, o maior patamar desde agosto de 2019, acompanhando a sequência de elevações da taxa Selic, promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Há um ano, esse índice era 19,1 pontos percentuais menor: 96,1% ao ano. Vale lembrar que no último dia 4 de maio, a Selic foi reajustada em 1 ponto percentual e chegou a 12,75%.
Os resultados constam de pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) sobre tais indicadores. Todas as linhas de crédito pesquisadas apresentaram alta no último mês. Os juros mais caros seguem sendo os do cartão de crédito que chegam a 13,68% ao mês e 365,81% ao ano. Isso significa que se você tiver contraído uma dívida de R$ 100 em abril e deixar de pagá-la estará devendo R$ 465,81 daqui a 12 meses.
Juros acima dos 100% ao ano também são verificados no cheque especial (148,76%) e nos empréstimos pessoais solicitados juntos às financeiras (126,74%). Apesar disso, a maior variação na comparação com o mês imediatamente anterior foi registrada nos empréstimos pessoais solicitados junto aos bancos, que subiram 1,04% em relação a março. A menor variação, por outro lado, foi verificada nos juros do comércio (0,58%) reflexo, segundo analistas, da retração no consumo observada em 2022.
Para o diretor executivo de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, além da tendência de que a política de aumentar a Selic (considerada a taxa básica de juros e parâmetro para as demais) a fim de conter a inflação seja mantida, existem outras razões que explicam essa nova alta. Entre elas, o aumento dos juros futuros e a perspectiva da elevação dos índices de inadimplência. “Tendo em vista a piora do cenário econômico, a tendência é de que as taxas de juros das operações de crédito continuem subindo”, projeta.
Já o economista Wandemberg Almeida, que integra o Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE) explica que, embora a elevação das taxas de juros gere um ciclo vicioso de aumento da inadimplência, uma vez que o consumidor com queda do poder aquisitivo corre mais risco de se endividar, esse mecanismo é utilizado pelas instituições financeiras, de um modo geral, para preservar suas respectivas margens de lucro. “Infelizmente, esse tipo de ferramenta que é a elevação de juros acaba girando essa roda da inadimplência, mas, do ponto de vista da instituição que empresta dinheiro, essa é um forma de recuperar os seus ganhos mais rapidamente”, explica.
“Ela cobra um crédito mais caro para poder recuperar o valor emprestado em três ou quatro prestações. Caso o consumidor não tenha como pagar mais na frente, os juros que incidiram no primeiro momento cobrem o valor devido e o que vier a ser pago depois é lucro, explica”, complementa. Para o conselheiro do Corecon-CE, nesse cenário o consumidor deve utilizar o crédito de forma mais consciente. “Não adianta ele pegar o empréstimo pra poder fazer novas dívidas. É preciso quitar aquelas dívidas já existentes recorrendo a linhas de crédito com taxa de juros menores”, adverte.
O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças do Ceará (IBEF-CE), Ênio Arêa Leão, é até mais incisivo quanto à utilização dessas linhas de crédito com juros na casa dos três dígitos ao ano. Ele enfatiza que "não são linhas de crédito que ajudam. Na verdade, elas dificultam a saída da inadimplência e são altas pela insegurança jurídica no País. A recomendação que eu posso dar é: não as use!"
Fugindo dos juros altos
"Não são linhas de crédito que ajudam. Na verdade, elas dificultam a saída da inadimplência e são altas pela insegurança jurídica no País. A recomendação que eu posso dar é: não as use!"
Ênio Arêa Leão Vice-presidente do Ibef-CE
Empresas
A taxa média de juros para pessoa jurídica apresentou uma elevação de 0,06 ponto percentual no mês e de 1,08 ponto percentual no ano. Em abril, atingiu média de 55,37% ao ano, a maior desde julho de 2018