O Brasil registrou a maior inflação para um mês de abril desde 1996, quando considerada a variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A alta foi de 1,06%, segundo o que divulgou, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos quatro primeiros meses do ano, o acumulado já chega a 4,29%, próximo do teto da meta estabelecida pelo Comitê Monetário Nacional (CNM) para 2022, que é de 5%.
Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), os índices são também elevados, de 0,98% na variação mensal, puxados pelas altas dos grupos transportes (2,17%), vestuário (1,47%), alimentação e bebidas (1,25%), além de saúde e cuidados pessoais (também 1,25%).
Na RMF, apenas os grupos habitação e comunicação apresentaram queda no mês, de respectivamente, 0,27% e 0,38% No acumulado do 1º quadrimestre de 2022, o IPCA na Grande Fortaleza chega a 4,23%, muito próximo ao índice geral registrado nacionalmente.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também divulgado ontem, e que mede a inflação para famílias com renda até 5 salários-mínimos, registrou alta de 1,04% no período, a maior variação para um mês de abril desde 2003. Para esse estrato da sociedade, os produtos alimentícios tiveram inflação de 2,26%, enquanto os não alimentícios registraram taxa de 0,66%.
Embora, na variação mensal, o índice tenha sido ligeiramente menor que o registrado pelo IPCA, no acumulado dos últimos 12 meses, a tendência se inverte, com o INPC chegando a 12,47%, e o IPCA a 12,13%. Por falar nesse último indicador, todas as 16 regiões metropolitanas pesquisadas registraram avanço da inflação em abril. A maior variação foi observada no Rio de Janeiro, com alta de 1,39% e a menor, em Salvador, com alta de 0,67%. Nesse ranking, Fortaleza aparece com a sexta menor alta do País.
Parte disso, se deve ao impacto do fim da bandeira tarifária de escassez hídrica que se refletiu no grupo habitação e ajudou a evitar uma alta ainda maior na inflação, uma vez que o IPCA-15 de abril, prévia do índice final, apontava para uma elevação de 1,73%. Mas o mesmo fator atenuante do quadro inflacionário não deve se repetir em maio, pelo menos no caso da RMF, uma vez que foi autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um reajuste de 24,23% nas tarifas a serem cobradas pela Enel Ceará.
De um modo geral, o cenário futuro é de incerteza. O especialista em assuntos financeiros Marcos Sá lembra que a fase é de transição em termos de demanda e oferta não apenas no cenário nacional, mas também internacional por conta, ainda dos reflexos da pandemia, paralelamente à instabilidade trazida pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
No contexto doméstico, ele cita fatores como o fato de esse ser um ano eleitoral, além da instabilidade política decorrente da queda de braço entre Executivo e Judiciário e das tentativas de interferência na Petrobras. “Isso tudo acaba negativando a perspectiva de crescimento porque fica todo mundo retraído, com medo de investir”, cita.
A propósito, considerando o peso sobre o IPCA que tem o grupo ‘transportes’ (notadamente por conta do item ‘combustíveis’) sobre os demais, o consultor em energia, Ricardo Pinheiro, defende que o País teria mecanismos para enfrentar com menos sofrimento esse quadro global, por ser um grande produtor de commodities, inclusive petróleo.
Pinheiro, que também presta consultoria na área específica de petróleo e seus derivados, enfatiza que “nós brasileiros extraímos esse insumo aqui e, infelizmente, por conta de uma política de governo que visa atender exigências internacionais, não precisaríamos estar sofrendo com toda essa intensidade, as consequências da geopolítica atual”.
“Sem isso, a inflação estaria muito mais controlada e os mantimentos chegariam a preços mais acessíveis à mesa do brasileiro e não no nível de 26 anos atrás”, arremata.
Alimentos
Dentro do grupo Alimentação e bebidas, o de maior peso da cesta de consumo, um dos principais vilões da inflação foi o leite longa vida (10,31%). Também pesou a alta na batata-inglesa (18,28%), o tomate (10,18%), o óleo de soja (8,24%), o pão francês (4,52%) e as carnes (1,02%)