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Quatro em cada 10 cearenses que desistem de procurar emprego têm menos de 30 anos
Economia

Quatro em cada 10 cearenses que desistem de procurar emprego têm menos de 30 anos

Fenômeno também atinge com mais força as pessoas com baixa escolaridade, sendo que quase 95% dos desalentados têm no máximo o ensino médio concluído
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A exigência de experiência é um dos principais desafios para os jovens ingressarem no mercado (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS A exigência de experiência é um dos principais desafios para os jovens ingressarem no mercado

Cinco de cada 100 cearenses com potencial para estar no mercado, simplesmente, desistiram de procurar emprego, são os chamados desalentados. Desse grupo, 42,8% têm menos de 29 anos e 95,1% têm no máximo o ensino médio.

Os dados constam de levantamento do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O percentual de desalentados no Ceará (5,1%) registrado no 1º trimestre de 2022 é até menor do que no auge da pandemia, quando chegou a ser de 6,3%, no segundo semestre de 2020, mas é quase o dobro do que era verificado há 10 anos, quando era de 2,6%.

Por que está tão difícil encontrar emprego?

De acordo com o analista de mercado do trabalho do IDT, Erle Mesquita, uma das raízes do problema é o próprio quadro nacional de desemprego na casa dos dois dígitos, que segue desde o ano de 2016, com a crise político-econômica iniciada naquele período. Quatro anos depois, em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19, os índices de desemprego atingiram picos de 15%, estando agora em aproximadamente 11%.

Do total de desempregados no Ceará, por exemplo, 27% estão procurando emprego há dois anos ou mais. E é justamente essa demora em conseguir uma inserção ou uma reinserção no mercado de trabalho que tem levado tantos jovens ao desalento. "São profissionais em início de carreira ou tentando a primeira oportunidade de trabalhar e que de tanto tentar e não conseguir, em determinado momento, concluem que não adianta procurar porque acham que não vão conseguir emprego", observa.

Por mais contraditório que possa parecer, Mesquita afirma que esse percentual de desemprego registrado seria ainda maior se mais pessoas estivessem procurando emprego. "O que chama mais a atenção, realmente, é como pessoas em plena idade ativa param de procurar trabalho. Creio que uma das explicações é que, por mais que a gente tenha abraçado mais políticas educacionais nos últimos anos, falta ainda avançar no processo de transição entre o mundo da escola e o mundo do trabalho", analisa.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, o analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Alexsandre Cavalcante, critica a cultura da exigência de experiência por parte de muitos empregadores, o que dificulta ao jovem conseguir o primeiro emprego e em casos extremos levam à desistência por essa busca.

"Essas pessoas são barradas pela falta de experiência. Então eu vejo que nós estamos criando um grande exército de desalentados porque o mercado de trabalho ainda não conseguiu absorvê-las", afirma.

Apesar disso, Cavalcante explica que o desalentado permanece compondo o que se chama 'força de trabalho potencial' e pode sair do estado de desalento com a melhoria das condições econômicas. "Quando o IBGE vai a campo, ele pergunta: - Você está empregado? Não! - Você procurou emprego? Não! - Mas se a vaga aparecesse você pegaria? E ele responde, sim! Então, esse cara é um agente potencial para entrar no mercado de trabalho. E ele não entrou ainda porque não a oportunidade não chegou. E isso é muito triste", lamenta.

Além da questão econômica, para Erle Mesquita o alto índice de desalento na população jovem também se reflete em aspectos como a criminalidade. "Isso é muito preocupante. Se a gente olhar para a população carcerária, por exemplo, e principalmente para a questão dos jovens que integram facções criminosas, vai encontrar um grande número de desalentados. São jovens que vivem em um contexto de vulnerabilidade social muito grande e que acaba sendo mais facilmente aliciada", pondera.

 

Brasil

Dados da Pnad Trimestral mostram que, no Brasil, 3,4 milhões de pessoas estão desempregadas há dois anos ou mais

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